A participação de Linn da Quebrada no último BBB parece ter rendido bons frutos para uma melhor visibilidade das pessoas trans. Em especial das travestis. Os expectadores desfrutaram de boa oportunidade para aprender sobre o mundo trans, sobre respeito à diversidade – principalmente sobre como as pessoas transvestegêneres são iguais às cisgêneres. Qual é mesmo a diferença?
É necessário que todas as camadas da população aprendam sobre a diversidade LGBTQIAP+. Economicamente, da classe E (menos favorecida, grande número) a A (mais favorecida, menor número). Escolar, das pessoas não alfabetizadas àquelas que lecionam nas universidades, com títulos duramente conquistados.
Mas não é verdadeiro que as pessoas com maior escolaridade e maior poder aquisitivo sejam menos transfóbicas. Aquelas que acompanho têm encontrado apoio entre iletrados em aparente igualdade com o meio letrado. Fobia não é uma questão de diploma ou poder financeiro.
E para ilustrar este ponto: pessoas transvestegêneres no meio universitário enfrentam as mesmas dificuldades. Publicação recente dá um panorama:
- a representação na academia das pessoas LGBTQIAP+ é ate 21% menor que o esperado (até que ponto a transfobia pessoal e a institucional leva à desistência de estudar?)
- 30% dos pesquisadores LGBTQIAP+ se sentem desconfortáveis entre seus colegas de trabalho e 40% concordam que suas chefias esperam “um comportamento menos gay”. Talvez por isso 33% pensaram em procurar outro lugar para trabalhar
- os pronomes corretos são ignorados por 40% dos colegas
- 20% avaliam não disporem de banheiros seguros
- 40% experimentam agressões verbais e não por acaso igual número prefere não “sair do armário”
Portanto, o espaço da academia enquanto paraíso, por ser formado pela elite intelectual, é ilusório. Equivocadamente são confundidas informação com educação, informação com quebra de preconceitos. É uma grande ilusão (decepção?) que o ambiente supostamente democrático das universidades seja igualitário e justo com a população LGBTQIAP+. Se democracia é o espírito que permite a livre circulação de ideias, muita inocência pensar que preconceitos não aflorarão.
Como a Lina seria recebida lá? Você, chefe de departamento, ou reitor, lutaria pela sua completa inclusão? E se a pessoa não fosse uma travesti famosa, mas desconhecida, sem apoio da mídia, ausente das redes sociais?