Sabe o que é nome morto? E nome social? Como você reage quando alguém se apresenta com um nome que lhe parece incompatível?
Quando uma pessoa transvestegênere exige o uso do pronome que ela escolheu como correto é mimimi?
Você gosta do Eduardo Gonçalves de Andrade? O que acha do seu futebol? A fama é justa?
O que você pensa sobre o Tostão? Já ouviu falar sobre ele?
Pois é…são a mesma pessoa. Tostão é o “nome social” do Eduardo; Pelé do Edson Arantes do Nascimento; Lula, do Luis Inácio da Silva (depois retificado…um político deste porte com nome retificado…)
A perspectiva mais adequada, contudo, é diferente. Apelidos são qualitativamente diferentes do nome social. Habitualmente são conferidos às pessoas, não escolhidos por elas. O nome social é aquele escolhido para si, por razões que só a ela interessam. É sua nova identidade, construída com carinho e dor. Nasce a partir de sua percepção enquanto pessoa trans. Uma escolheu Daniele, que, na língua hebraica significa “Deus é meu juiz”, ou “É o Senhor que me julga”. Outra, Aisha, pelo sonoridade da palavra, que lhe comunica algo.
Sendo identidade, recusar a aceitá-lo é negar o direito de autodeterminação. É não reconhecer a legitimidade de se definirem, livres de regras e esteriótipos. É afirmar que somente os pais conferem uma identidade, obrigatória, mesmo que esta não mais seja verdadeira. É afirmar que não se é dono de si, mas que outra pessoa tem o domínio sobre sua intimidade mais central.
Por extensão, se defino meu pronome de referência “ele”, “ela”, “elu”, tenho o direito de ouví-lo quando sou referido por alguém. Ou é necessário fazer como a Linn da Quebrada (e não foi a única) e escrever na testa o pronome correto?
Se o meu pronome é usado propositadamente errado, não vou considerar esta atitude uma afronta, um desafio? Ou uma simples falta de cortesia, educação, urbanidade, humanidade? Duda Salabert, a vereadora mais votada em toda a história de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais, pessoa trans feminina, já foi agredida por vereador através do ser referida como “ele”.
O respeito ao pronome e ao nome escolhido (será social somente até sua retificação no cartório*) é uma questão de dignidade e segurança. Dignidade por ser um direito; segurança, porque a transfobia se concretiza frequentemente em violência verbal, psicológica, religiosa ou física (que pode ser sexual). E identificar, contra o seu desejo, uma pessoa enquanto transvestegênere é expô-la a risco.
O uso e a aceitação do nome escolhido, e dos pronomes, reforça a autoestima e reduz o dano emocional. O antigo nome, ou “nome morto”, frequentemente está associado a momentos de vida muito ruins, e o seu uso é uma perpetuação das violências diversas já sofridas.
“Você que é contra o uso do nome social, ou contra a retificação do nome, pode, por favor, explicar a razão? Vou me esforçar para compreender e não tratá-lo como me trata.”
* de forma nenhuma a retificação é uma obrigação por parte das pessoas trans, assim como o uso de hormônios ou cirurgias. Uma pessoa trans masculina manteve o nome de batismo, Márcia.