Cada sociedade tem seus padrões. Isto significa que cada grupo de seres humanos estabelece um jeito de reconhecer subgrupos dentro de si. Quem é PM? Usa farda. Quem é estudante? Usa uniforme. Quem é religioso? Se comporta assim e assado.
Quem é jovem? Se comporta desse modo. Quem é idoso?…
Gênero, ou sua ausência, faz parte da identidade individual. Poder ser reconhecido através desta face é, até prova em contrário, necessidade humana.
Quando é proposto um conjunto de atributos para cada gênero, a tendência é aceitá-lo e segui-lo. Ainda mais quando o meio é fortemente binário: homem e mulher. A intensidade é tal que não se misturam, nem confundem. Se autoexcluem mutuamente.
As pessoas cisgêneres necessitam ser reconhecidas dentro do seu gênero. Ao menos em alguns contextos isso é necessário. Por que seria diferente para as pessoas transgêneras binárias?
Assim como as cisgêneres têm uma ampla diversidade de apresentação dentro do gênero assumido, assim as transgêneres. Não há um padrão a ser imposto a ninguém. Cada pessoa tem o seu jeito.
Para as pessoas trans binárias, as modificações corporais trazem reconhecimento, aceitação e proteção. Esta não pode ser menosprezada. Pessoas são torturadas e mortas por adolescentes pelo simples fato de serem… trans. São impedidas de usar banheiros, mesmo quando só há um no local…
Hormônios
Frequentemente hormônios são usados para adequar o gênero da pessoa às expectativas da sociedade onde vive. Observe o termo: frequentemente. Não é sempre. Não são todas as pessoas transvestegêneres que necessitam usá-los.
O tempo de transformação biológica varia de pessoa a pessoa. Cada característica tem seu tempo para surgir ou desaparecer. Informação importante: não adianta usar altas doses para apressar. Não funciona.
Se a dose é adequada, não há razão para temer o uso. Se as poucas contraindicações que existem forem excluídas, não há porque pensar em risco extra. Ou seja, o risco das pessoas trans são, até prova em contrário, os mesmos das pessoas cis que usam hormônios. Exemplo: o uso de anticoncepcionais pelas mulheres cis.
Alguns problemas existem. Os hormônios usados pelas pessoas trans femininas é de venda livre no Brasil. Fato que favorece o uso de medicamentos não ideiais e o abuso na dose. Os utilizados pelas pessoas masculinas e femininas trans não estão, habitualmente, disponíveis na rede pública. Há poucas exceções. Não é fácil encontrar especialistas que saibam acompanhar pessoas trans, nem no SUS nem na rede privada.
Cirurgias
O padrão social do masculino não permite a existência de mamas. Não por acaso, os homens trans as chamam de “intrusos”. A testosterona atrofia a glândula mamária em alguns meses. Contudo, a gordura que também constitui a mama não desaparece. Nem com academia, nem com hormônio. A mastectomia masculinizadora é uma demanda frequente das pessoas transvestegênere de espectro masculino. Poucos locais no Brasil a disponibilizam via SUS. Os planos de saúde têm dado cobertura ao procedimento.
O padrão social do feminino exige a presença de mamas. Não é incomum, mas também não é a regra, haver certa decepção pelo tamanho da mama criada pelo estradiol (hormônio dito feminino). A mamoplastia de aumento é uma demanda, não coberta pela rede pública.
Há outras possibilidades cirúrgicas não genitais: suavização da face, retirada do pomo de Adão, sobre as pregas vocais.
Outros recursos
Enquanto a mastectomia chega (é interessante um período de hormonização prévio), os “intrusos” podem ser ocultos. Faixas de crepon, esparadrapo e “binders” são usados para tal.
Para as pessoas trans femininas que apresentam desconforto com a genitália, há diversas formas de “aquendar”: roupas íntimas específicas, faixas, esparadrapo.
Roupas próprias podem dar às trans masculinas o volume genital percebido nas cis. “Pakers” também são úteis, inclusive em banheiros.
Barba é um atributo masculino visível. Mas nem todas as pessoas masculinas cis a tem. Logo, nem todas as pessoas trans masculinas terão. Quando muito desejava, medicação tópica usada para tratar calvície é frequentemente utilizada para fabricá-la.