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Covid-19 matou mais pessoas trans que pessoas cis?

As pessoas trans-travestis faziam parte do grupo de risco - e ninguém sabia

Virus da COVID-19 com uma mulher no fundo
Virus da COVID-19 com uma mulher no fundo (Foto: Reprodução)

Como a epidemia de covid-19 afetou as pessoas transvestegêneres? O que ocorreu com esta população de brasileires?

Assassinatos

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) o ano de 2020 foi o pior para as pessoas trans-travestis. Comparando com o ano de 2008, houve um aumento de 201% de assassinatos. Foram 175 pessoas vítimas de homicídio apenas porque… a genitália não combinava com o gênero que elas se atribuíam.

Era sensato imaginar que o isolamento social imposto pela pandemia teria um reflexo positivo sobre esses números. Mas não foi o que ocorreu. Novas situações mexem com as sociedades. A última pandemia semelhante à da covid-19 ocorreu há 100 anos. Não sabíamos o que seria passar por algo pior que a gripe espanhola.

Isolamento social e perda de renda

O fato mais comum é as minorias sociais serem mais afetadas. Economicamente. Psicologicamente. Socialmente. E as pessoas trans são a minoria entre as minorias!

Como elas poderiam ficar em casa quando já não tinham renda suficiente?

Como os lares transfóbicos reagiram ao serem obrigados a conviver com as pessoas trans deles mesmos? Não seria de esperar mais violência?

Importante lembrar que violência não é apenas física. Violência psicológica, como a rejeição, é tão nociva à saúde quanto a física. Rejeição ocorre quando o nome social não é respeitado. Quando propositadamente o gênero assumido é ignorado. Violência, não importa por qual via, mata.

Segundo autores, 90% das pessoas trans femininas trabalham com sexo. E a grande maioria são analfabetas, ou parcialmente alfabetizadas. Um litro de leite vale quantos programas? E a taxa do cafetão? E o aluguel do “quarto”? Quem paga o preservativo? Quantes trabalhadores de sexo contraíram covid-19 pelas condições insalubres dos locais onde trabalham?

Falta de assistência médica

O ambulatório especializado no atendimento desta população em Belo Horizonte, MG, no Hospital Eduardo de Menezes, ficou fechado meses durante a pandemia. Onde podiam buscar assistência médica respeitosa? Como apontado em outro artigo, o temor de ser mal recebide é uma das razões pelas quais as pessoas transvestegêneres não buscam assistência médica.

O fechamento dos ambulatórios públicos de assistência afetaram principalmente a população trans masculina. A testosterona injetável de menor preço somente pode ser vendida com retenção da receita médica. A omissão de doses leva à regressão das características ditas masculinas. O retorno da menstruação é quase que certo.

Como medir o efeito sobre as pessoas trans quando o Estado sistematicamente rejeita contá-las? Quando o IBGE não levantou até hoje o tamanho da população LGBTQUIAP+ do Brasil? Mais fácil ignorar o número. Se não é conhecido, não são necessárias políticas públicas.

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