Eleito um dos 50 futuros líderes LGBT’s mais importantes do mundo pelo jornal britânico Financial Times, o gaúcho Filipe Roloff, que lidera o Pride@SAP Brasil, grupo que espera tornar a companhia mais amigável com funcionários da diversidade, falou, em entrevista ao Gaúcha ZH, sobre como a companhia atua.
“Trata-se de um grupo de colaboradores aliados à causa LGBT que, unidos, buscam criar uma cultura inclusiva na empresa. Criamos iniciativas de afirmação para quem é LGBT e para que todos entendam que a diversidade não é um problema, mas uma solução, porque traz produtividade e cria relação afetiva com a empresa”, afirmou.
Roloff ainda comentou sobre como as empresas podem ganhar ao abraçar políticas LGBT. “Pessoas que criam um laço afetivo com a empresa produzem mais e são mais felizes. Assim, trabalho para que a empresa seja melhor e falo para outras pessoas como me sinto bem. Não há como criar um ambiente inovador sem respeitar as diferenças. Esse é um problema na política brasileira: não temos a representatividade necessária para resolver os problemas de toda a população, que é diversa”, declarou.
Modalidade já existente em outros países, o empreendedor elencou as diferenças do grupo no Brasil. “O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. Aqui, um grupo assim tem muito peso. É o trabalho desse tipo de grupo, aliado a ONGs e outros agentes, que promove a transformação cultural e social, já que os políticos não assumem esse papel. A cultura brasileira tem duas dimensões sociais. A primeira é que somos um país individualista, não temos pensamento com noção de comunidade, como, por exemplo, a China e os países nórdicos. A outra: temos como marca um certo afastamento do poder, no caso das pessoas em níveis sociais vistos como inferiores. Elas não se sentem aptas a ir além e contribuir com o país. Alguém em uma classe social baixa não acha que pode mudar alguma coisa.”
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Apesar dos avanços, Roloff reconhece que o preconceito é muito forte e ainda há uma certa resistência do empresariado em investir na área. “É o maior desafio de grupos como o Pride: mostrar que se abrir para a diversidade é bom para todo mundo, e não só para os LGBTs. Empresas brasileiras vivem só a realidade nacional e não sabem como ser diferentes nesse aspecto, o que não é o caso das multinacionais. É o papel das multinacionais, desses grupos de diversidade e de pessoas que vivem essa realidade mostrar às empresas nacionais o quão benéfico para todos é abraçar a diferença”, ressaltou.
Sobre a maior representatividade da comunidade LGBT na mídia, o empreendedor acredita que apesar de ter muito interesse financeiro, a medida traz conscientização. “Entendo que, a longo prazo, uma transformação ocorre inevitavelmente. Passamos por um momento de retrocesso no país e no mundo, com o avanço do conservadorismo, mas ações pela diversidade consolidam uma empresa como defensora de causas morais e éticas. Para as novas gerações, isso é relevante […] Essa representatividade costuma trazer retorno a curto prazo, sim. Não é só uma conquista dessas novas gerações: é uma resposta das empresas, que também saem ganhando”, comemorou.