Literatura

Livro nacional gay mostra lado inédito do Brasil

Romance publicado em 2021 que você ainda não leu conta a história de um jovem imigrante sírio no Brasil

Diogo Bercito
Diogo Bercito (Foto: Renato Parada)

Diogo Bercito lançou em 2021 romance histórico de estreia sobre a experiência de um imigrante sírio no Brasil. Yacub, personagem central do livro, está em luto por um amor perdido em seu país de origem. 

O livro discute temas relevantes, como a imigração por força maior. Além disso, o livro mostra outro lado da autoaceitação da sexualidade.

A história de Vou sumir quando a vela se apagar se passa durante o auge da imigração árabe para o Brasil. Trata-se de um novo olhar sobre a autoaceitação, mas também um ângulo diferente sobre a história do nosso país.

Lançado em junho de 2021, o livro ainda está com cheirinho de papel novo. Em pouco menos de 200 páginas, Bercito consegue representar a complexidade da migração síria.

O enredo é um retrato íntimo e doloroso do primeiro amor, numa linguagem acessível e viciante. Com capítulos curtos, você vai devorar esse daqui antes de queimar a vela toda.

Vou sumir quando a vela se apagar
Vou sumir quando a vela se apagar (Foto: Divulgação)

Senta que lá vem sinopse

Yacub e Butrus são trabalhadores agrários na Síria. Quando Butrus avisa o amigo de que vai para o Brasil com a família, Yacub se vê diante de perder seu primeiro amor.

Em meio a esses conflitos de primeiro amor proibido pelo sistema social na Síria, Yacub também está às voltas com outras armadilhas de sua cultura: as superstições, que parecem ser mais fortes do que ele pensava. 

No terreno abandonado de um tio longe de casa, Yacub e Butrus roubam momentos de profunda intimidade, fugindo ainda sem saber daquilo que os impede de viver livremente. É interessante ver os dois homens lutando contra um desejo que não sabem ainda como chamar.

É ali no jardim do tio expatriado no Brasil que os dois rapazes, entre cigarrinhos, se veem sozinhos e livres de olhares julgadores. É ali que eles têm a primeira experiência sexual. 

É também ali, nesse jardim, que os fantasmas da tradição cultural repressora estão mais fortes. Há relatos de um jinn morando sob a tampa do poço deixado para trás pelo tio. O poço deve sempre ficar tampado, para manter o jinn preso. Um dia, no entanto, Butrus abre a tampa do poço. 

É assim que, mesmo depois de fugir para o Brasil, Yacub vai ter que perseguir o jinn de fogo que marcou sua vida na Síria. Um jinn é uma espécie de espírito soprado no vento, uma lenda comum no mundo árabe, tão conhecida como o saci-pererê aqui para nós. A diferença é o que o jinn pode guardar destinos: mas qual destino guarda esse jinn de fogo para Yacub?

Por que você deveria ler

O que mais chama atenção em Vou sumir quando a vela se apagar é o jeito sensível de representar uma experiência homossexual que vai além do clichê saindo-do-armário. 

Em Vou sumir…, a leitura é fluida, imersiva e você não consegue largar de mão. 

Aqui o tratamento de uma experiência comum, sair do armário, ganha novos ares. Mas a história vai além disso, e o enredo busca respostas para perguntas que você nem lembra de ter feito durante a leitura. 

O que mais esperar da ficção além de enxergar o mesmo mundo por outras lentes?