Poucos devem se lembrar, mas Edy Star foi o primeiro artista da Música Popular Brasileira a falar abertamente de sua sexualidade e se assumir gay. Isso aconteceu há quase 50 anos, em 1975, numa entrevista à revista Fatos e Fotos e de uma forma bem espontânea.
Edy, que dispensa fanatismos e idolatrias, começou sua carreira artística ainda na pré-adolescência. Apresentava na década de 1950, em Salvador, operetas infantis inspiradas na obra literária de Monteiro Lobato no programa Hora da Criança, na Rádio Sociedade da Bahia. Nesse período, foi colega de trabalho das irmãs Cyva e Cybelle que, anos mais tarde, formariam o Quarteto em Cy.
Outra curiosidade da biografia de Edy Star foi a sua desistência de um alto cargo da Petrobrás para “fugir” com o Circo Fekete, famoso sobretudo dos anos 1930 a 1940, quando circulava pelo interior do Norte e Nordeste do Brasil. A partir daí Edy ingressa de vez no mundo das artes.
Sua ida ao Rio de Janeiro, cidade em que deslanchou como cantor e performer, deu-se no início dos anos 1970, a partir de um convite inusitado e inesperado de seu grande amigo Raul Seixas. Raul, que à época trabalhava como produtor da gravadora CBS, convidou Edy para participar do antológico álbum Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10. O álbum recebeu inúmeras críticas positivas da imprensa à época, mas circulou apenas por 15 dias, pois foi retirado de venda pela própria gravadora, obedecendo a uma ordem da sede da CBS de Nova York. Hoje o álbum é considerado artigo de colecionador.
Três anos mais tarde, em 1974, convidado por João Araújo, pai de Cazuza, Edy Star grava pela Som Livre seu primeiro álbum solo. Sweet Edy é até hoje considerado um álbum cult. Merece destaque o fato de que todas as canções nele presentes foram encomendadas por Edy e feitas exclusivamente para ele. Vale destacar as faixas Claustrofobia de Roberto e Erasmo Carlos, Edyth Cooper de Gilberto Gil e O Conteúdo de Caetano Veloso. Também estão presentes no álbum composições de Moraes Moreira, Renato Piau e Jorge Mautner.
Depois de passar mais de 20 anos na Espanha, Edy volta ao Brasil e, em 2017, lança seu segundo álbum solo Cabaré Star, produzido por Zeca Baleiro. O álbum tem participações especiais de Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Ângela Maria, Emílio Santiago e Filipe Catto.
Meu Amigo Sérgio Sampaio(2023), o mais recente álbum de Edy Star, é um tributo ao compositor capixaba Sérgio Sampaio, grande amigo de Edy, considerado um dos maiores compositores da contracultura brasileira da década de 1970.
Edy Star merece ser ouvido e reverenciado pela qualidade musical de sua obra e por ter tirado a estética e a temática LGBTQIAPN+ da marginalidade e elevado ela a patrimônio cultural do Brasil.
Viva, Edy Star!