Vamos falar de “Bebê Rena” e suas múltiplas camadas que se desdobram ao longo da série da Netflix, um fenômeno que surpreendeu até mesmo seu protagonista, roteirista e produtor, o comediante escocês, Richard Gadd. A história, inicialmente adaptada para o teatro como um monólogo em 2019, é muito complexa.
O título da série, traduzido do inglês como “baby reindeer”, faz referência ao apelido carinhoso dado ao personagem principal, Donny, por uma mulher que se torna sua perseguidora, Martha. Aqui, as camadas começam a se formar, revelando os traumas que permeiam a vida de Donny e de muitos outros sobreviventes de experiências dolorosas.
Em um mundo profundamente machista, de uma masculinidade tóxica, onde os meninos são desde cedo incumbidos da obrigação de serem fortes, corajosos e heterossexuais. Qualquer desvio desse padrão imposto pelo patriarcado é frequentemente punido, levando à perseguição de meninos sensíveis, femininos ou homossexuais. Essa perseguição é alimentada por um “manual de conduta na tentativa de se tornar um “homem de verdade”.
Você já ouviu aquela frase do pai para o filho: ? ” Menino, não chora! Vire homem” !!. Bem, existe uma linha muito delicada entre o medo e a coragem quando se trata de falar sobre qualquer forma de abuso ou de mostrar vulnerabilidade.
A série joga luz sobre os tabus que envolvem o universo masculino. Donny, é bissexual, luta para aceitar sua sexualidade devido ao medo incutido por seus abusadores e pela sociedade em geral. Seu romance com Teri, uma mulher transexual, é mantido em segredo, refletindo o peso das expectativas sociais.
A fluidez da sexualidade de Donny desafia os estereótipos associados aos personagens gays em séries e filmes, convidando o espectador a refletir sobre a diversidade e a complexidade da identidade sexual. A narrativa de Donny é inspirada na vida real de Richard Gadd, que corajosamente expõe sua própria história de abuso sexual por um homem em quem confiava, e que pensava ser seu amigo, Darrien . Ele foi dopado e sodomizado por ele.
Homens são frequentemente ensinados a esconder seus medos e nunca se mostrarem como vítimas, perpetuando assim um ciclo de abuso e silêncio. Em um mundo onde os homens raramente são encorajados a falar sobre suas próprias experiências de abuso e violência, “Bebê Rena” destaca a coragem necessária para quebrar esse ciclo.
O arquétipo do bebê rena, tem muitos aspectos. A rena apesar de ser uma animal muito forte e poderoso, tem sua fragilidade, quando bebê precisam de cuidados para que sobrevivam até a vida adulta. Assim com os meninos quando bebês , até se tornarem adultos.
Os homens não são heróis, não tem super poderes, precisam aprender a olhar para dentro e reconhecer seu bebê rena, os lobos maus podem ser caçados também. São gatilhos recônditos de qualquer pessoa que tenha passado por abusos ou perseguições, ou qualquer tipo de violência.
Donny, é um homem que tem sua sexualidade abordada em uma narrativa, que faz com que o público reflita sobre a diversidade, identidade e todos os desafios que a comunidade LGBTQIA+ enfrentam.
Richard Gadd, é sim muito corajoso em se desnudar diante de um mundo cruel, abordando um recorte de sua vida, o estupro entre homens adultos.
Bebê Rena é uma um soco no estômago , muito difícil de assistir ,mas, necessário .
Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo ..
@silviadiaz2015