MÚSICA

Linda Rodrigues: a estrela bissexual da Era de Ouro do Rádio

Dona de uma bela voz e de uma personalidade forte, Linda Rodrigues terá sua história contada de uma maneira bem peculiar nesta edição.

A cantora e compositora Linda Rodrigues.
A cantora e compositora Linda Rodrigues.

A cantora e compositora bissexual Linda Rodrigues foi um dos maiores nomes do samba-canção brasileiro, gênero que antecedeu a bossa nova e cuja temática principal era a decepção amorosa.

Linda Rodrigues, cujo nome verdadeiro era Sofia Gervazone, nasceu no Rio de Janeiro em 1919.

Teve uma educação moral bastante conservadora. Estudou durante o ensino fundamental e o médio em um dos principais colégios de freiras do Rio de Janeiro, a Escola Maria Raither, na Tijuca.

Formou-se em Enfermagem, atendendo a um pedido da mãe, na Escola Ana Nery. Também começou o curso de Medicina durante o curto período que morou em Belém do Pará.

Foi na música, porém, onde Linda Rodrigues se fez reconhecer profissionalmente e ganhou prestígio nacional.

Durante o seu período de maior sucesso nas rádios, Linda foi frequentemente abordada pela imprensa acerca de sua vida amorosa, que era especulada cotidianamente, pois à época se vislumbrava o casamento para a mulher “quase como um destino certo” como nos conta a cantora e pesquisadora Denise Mello, que dedicou um capítulo inteiro só para Linda Rodrigues no seu livro “A Mulher na Canção: a composição feminina na Era do Rádio”, publicado em 2022 pela Editora Machine.

Linda, no início de sua carreira, nos anos 1940, foi uma intérprete que se destacou cantando sambas, marchinhas carnavalescas e batucadas. Também se aventurou por outro gênero, o fox-trot, que recebia influência direta do jazz norte-americano. Foi através do samba-canção, porém, na década de 1950, que ela se projetou nacionalmente como cantora e compôs boa parte de suas canções.

Seu maior hit foi “Lama”, composição de Aylce Chaves e Paulo Marques, registrada por Linda Rodrigues em 1952, sendo regravada depois por uma constelação de outras estrelas da música brasileira.

O apogeu de Linda Rodrigues como compositora foi a seleção de canções gravadas no antológico LP “Companheiras da Noite” de 1961, no qual predominam suas parcerias com o compositor Aldacir Louro.

Suas composições já foram gravadas por intérpretes do porte de Nelson Gonçalves, Waleska, Núbia Lafayette, Cauby Peixoto, Nora Ney, Linda Batista, Orlando Silva, Alaíde Costa e Leny Andrade.

Acerca da bissexualidade de Linda, não existe registro em jornais ou revistas da época. O que se tem de mais preciso em pesquisas são os depoimentos colhidos por pesquisadores especializados em música como Alberto de Oliveira, que é historiador, poeta e autor do livro “Socos na Bailarina”, publicado recentemente pelo selo Desacato. Alberto bateu um papo com Observatório G sobre a bissexualidade de Linda Rodrigues:

“Um dos romances dela foi com a Aylce Chaves, compositora de ‘Lama’, que também era bissexual. As pessoas da época contam que a Aylce também teve um relacionamento com o Paulo Marques, que era parceiro dela em várias composições.

Os registros que temos são muito sutis. Quando ela vai ao programa ‘Lira do Povo’ do Hermínio Bello de Carvalho na TVE do Rio de Janeiro e diz que dedicou a canção ‘Farrapo de Calçada’ para uma amiga que não queria mais ver, nós sabemos, pelos depoimentos, que essa amiga era a Aylce Chaves. Como a imprensa à época não comentava sobre isso, os registros que temos são depoimentos de amigos da Linda. Isso tudo é comentado nas rodas dos amigos dela.

Além da Aylce, a Linda teve um romance por muitos anos com a Nilza Brasil. Em relação aos homens, temos registros de romances dela com dois parceiros musicais: Paulo Marques e o seu recorrente parceiro em composições Aldacir Louro. Isso não chegou até a imprensa em parte porque ela era muito discreta e também porque ela passou uma parte da carreira como ‘persona non grata’ nas rádios, devido às rusgas que teve com homens do meio radiofônico. Isso a fez cair num certo ostracismo que deixava a vida pessoal dela distante dos holofotes da grande imprensa.”

Linda Rodrigues é a dona de uma das mais belas vozes da Era de Ouro do Rádio e também uma mulher que nunca abaixou a cabeça para o machismo vigente no meio musical do Brasil.

Seu álbum “Companheiras da Noite” foi revolucionário para uma época em que o direito à noite era monopólio dos homens e a temática da boemia apenas dialogava com eles.

Linda Rodrigues foi intensa em cada virtude e em cada vício. Tocou de maneira única a alma passional do Brasil. Sua história merece todas as reverências!

Viva, Linda Rodrigues!