MÚSICA

A história épica de Osvaldo Nunes, o maior compositor gay do samba carioca

Nesta edição vamos conhecer um pouco da biografia e da musicalidade do sambista gay Osvaldo Nunes

O cantor e compositor Osvaldo Nunes
O cantor e compositor Osvaldo Nunes

Osvaldo Nunes foi um cantor e compositor gay bastante celebrado principalmente nas décadas de 1960 e 1970. Durante este período áureo de sua carreira teve um disco produzido por Raul Seixas e, em determinadas épocas, vendia mais discos que Roberto Carlos.

A história de Osvaldo é comovente! Embora nosso objetivo nesta coluna seja a abordagem de seu trabalho artístico, não podemos deixar de mencionar brevemente sua história de superação.

Osvaldo não chegou a conhecer os pais, pois foi criado desde o nascimento em instituições asilares. Permaneceu nelas até os 13 anos, quando fugiu e começou a trabalhar em diversos ofícios como engraxate e camelô.

Ainda neste período, associou-se ao grupo que daria origem, no ano de 1956, ao bloco de rua Bafo da Onça do bairro do Catumbi, no centro do Rio de Janeiro.

Seis anos mais tarde, em 1962, Osvaldo Nunes lançaria seu primeiro e maior sucesso musical: “Oba”. Esta canção ajudou a popularizar Osvaldo como cantor e compositor e também tornou o Bafo da Onça nacionalmente conhecido.

Em 1968, o ano mais frutífero comercialmente de sua carreira, um de seus maiores hits, curiosamente, não foi lançado em LP, mas em Compacto Simples. “Segura Essa Onda” se popularizou de tal maneira que, em algumas semanas do ano de 1968, Osvaldo Nunes vendia mais discos que Roberto Carlos, que já era considerado um dos maiores recordistas de vendas de discos no Brasil.

No ano de 1969, com a música “Levanta a Cabeça”, Osvaldo Nunes venceu o 3º Concurso de Músicas de Carnaval, realizado pela TV Tupi e pelo Jornal Última Hora, cujo júri era formado por Cartola, Dori Caymmi e Sidney Miller. Ao obter o primeiro lugar neste concurso, Osvaldo desbancou nomes consagrados como a rainha do rádio Marlene, que ficou em 4º lugar. “Foi a maior emoção da minha vida” declarou Osvaldo no dia do concurso.

No mesmo ano, Osvaldo gravou junto com o grupo The Pop’s, vinculado à Jovem Guarda, seu segundo LP “Tá Tudo Aí” cuja faixa “Canto da Sereia” foi regravada em fevereiro de 2024 pelo rapper BNegão.

Em 1970, Osvaldo lança um disco na gravadora CBS produzido por Raul Seixas: “Bota Samba Nisso”. Este álbum foi duramente criticado pela imprensa na época devido à pouca familiaridade que tinha com os trabalhos anteriores de Osvaldo, cuja recepção havia sido bem melhor.

Osvaldo ainda lançou os LP’s “Você Me Chamou” pela CBS em 1971; “Osvaldo Nunes” em 1972 também pela CBS e “Ai Que Vontade” em 1978 pela RCA Victor.

Osvaldo Nunes teve composições gravadas pelas mais diversas vozes da música brasileira como: Elza Soares, Wilson Simonal, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione, Luiz Melodia, Ivete Sangalo, Daúde, Maria Alcina, Eliana Pittman, Banda Blitz e Pedro Luís & A Parede.

Osvaldo Nunes foi um homem negro e gay cujas canções obtiveram êxito comercial num dos países mais racistas e lgbtfóbicos do mundo.

O seu mérito vai além disso, pois Osvaldo Nunes também foi responsável pela adesão por parte do grande público aos temas ligados às religiões de matriz africana, que até hoje são alvo de discriminação no Brasil.

Em suas composições e performances, Osvaldo fez o Brasil se olhar no espelho e enxergar o esplendor de sua africanidade.

Que o seu legado nunca seja esquecido!

Osvaldo Nunes, presente!