LGBTQIA+

A Cultura Ballroom,o movimento de resistência

Karime Xavier/Folha Press
Karime Xavier/Folha Press

Todo mundo já ouviu falar da cultura Ballroom em algum momento. Mas o que exatamente é essa cultura e qual é sua relação com o movimento LGBTQIA+?

A cultura Ballroom é um movimento político e de entretenimento que celebra a diversidade de gênero, sexualidade e raça. Surgiu nos subúrbios de Nova Iorque e se espalhou pelo mundo, dando voz a comunidades marginalizadas e influenciando a cultura pop.

Em inglês, “Ballroom” significa “casa de bailes”. Esta subcultura foi criada por pessoas LGBTQIA+ não brancas, que começaram a organizar bailes performáticos como forma de resistência às constantes violências que sofriam. Hoje, a cultura Ballroom é referenciada em produções como a série Pose de Ryan Murphy, o reality show de sucesso RuPaul’s Drag Race e o documentário cult Paris is Burning de Jennie Livingston.

A essência da cultura Ballroom se estabeleceu no Harlem, um subúrbio de Nova Iorque. Os primeiros registros de um baile onde homens expressavam um visual feminino datam de 1849, no “Annual Masquerade and Civic Ball”, realizado pela Grand United of Odd Fellows. Esses concursos de beleza protagonizados por Drag Queens e pessoas trans eram comuns desde a década de 1960, mas não eram inclusivos para aqueles que não se enquadravam no padrão branco e europeu da época. Cansada dos padrões racistas dos concursos, Crystal Labeija, uma lendária drag queen e mulher trans negra, se recusou a continuar participando desses eventos e criou um novo segmento de balls voltado para pessoas negras e latinas. Esse foi o ponto de partida para a cultura Ballroom como a conhecemos hoje.

Crystal Labeija não foi apenas uma precursora na criação dos balls inclusivos, mas também uma figura importante no cenário LGBTQIA+. Ela fundou a primeira house: a House of Labeija. As houses são coletivos com relações de afeto que se assemelham a uma família, lideradas por uma mother ou father. Durante a epidemia de HIV nos anos 80, essas casas acolhiam jovens gays, lésbicas e transsexuais que eram expulsos de casa pelas próprias famílias e encontravam nos balls um local de abrigo e pertencimento.

Nos anos 70, os balls se tornaram eventos políticos e de entretenimento onde pessoas LGBTQIA+, pretas e latinas podiam se expressar livremente. Esses eventos funcionavam como bailes, onde se disputavam categorias e se premiavam os melhores. Os vencedores de cada categoria levavam um troféu, um prêmio que também era direcionado à sua house.

As balls são eventos e cerimônias organizadas com fins políticos e de entretenimento. São locais de diversão, livre expressão e acolhimento de corpos marginalizados. Nelas, se desenvolvem os elementos da cultura: categorias de dança, caracterização e performance, com temas e no formato de batalhas. O vencedor de cada categoria leva um Grand Prize, que contribui para a reputação e legado da sua house.

Um dos elementos mais conhecidos da cultura Ballroom é o Voguing, uma dança de rua inspirada nas poses de modelos da revista Vogue. Surgiu quando pessoas LGBTQIAPN+ eram presas apenas por sua sexualidade e, na prisão, usavam revistas de moda como entretenimento, reproduzindo as poses das mulheres brancas nas páginas. O documentário Paris is Burning define o voguing como “a versão gay das batalhas de hip hop”. Com o tempo, a dança evoluiu, criando diferentes estilos e modalidades. No final dos anos 80, o voguing atingiu a cultura pop mainstream quando Madonna reproduziu a arte em seu clipe “Vogue”.

No Brasil, a cultura Ballroom começou a ganhar força nos anos 2000, influenciada pelo clipe de Madonna. Aqui, o movimento se desenvolveu de forma inversa, com a dança ganhando destaque antes mesmo do conhecimento sobre o ballroom e suas demais categorias. Em 2008, já era possível se inscrever em aulas de voguing na região sul do país. O conceito de comunidade foi implementado em 2011, com a criação da House of HandsUp, liderada pela mother Kona em Brasília.

A cultura Ballroom é um símbolo de resistência e celebração que continua a se expandir e a inspirar novas gerações ao redor do mundo.

A cultura ballroom no Brasil tem visto o surgimento de vários artistas talentosos e influentes que têm ajudado a moldar e expandir a cena. Esses artistas não apenas competem nos balls, mas também promovem a cultura através de workshops, performances e presença na mídia.

Esses artistas têm desempenhado um papel crucial na construção e fortalecimento da cultura ballroom no Brasil. Eles não apenas competem e ganham títulos, mas também educam, inspiram e empoderam as próximas gerações de membros da comunidade ballroom. Seus esforços têm ajudado a garantir que a cultura ballroom continue a crescer e a se desenvolver, proporcionando um espaço vital para a expressão e resistência das comunidades LGBTQIA+ e pretas no Brasil.

Todo artista LGBTQIA+ ou não, deve integrar e respeitar a cultura ballroom, pois é enriquecedor e benéfico tanto para os artistas quanto para a comunidade em geral. A cultura ballroom é uma parte significativa da história e da expressão artística da comunidade LGBTQIA+, especialmente entre pessoas negras e latinas. Aqui estão alguns motivos pelos quais a integração ou pelo menos a compreensão da cultura ballroom, é sim, muito valiosa para artistas LGBTQIA+. Reconhecimento e respeito pela história, inspiração artística, fortalecimento da comunidade, educação e sensibilização, empatia e networking. A cena ballroom é um lugar onde muitos artistas talentosos se reúnem.

Hoje, a Cultura Ballroom continua a ser um espaço vital para a expressão criativa e resistência política. Ela proporciona um palco para que vozes marginalizadas sejam ouvidas e celebradas, contribuindo para a luta por igualdade e reconhecimento dentro e fora da comunidade LGBTQIA+.

Karime Xavier /Folhapress

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Crystal Labeija /Cena do Documentário The Queen

Silvia Diaz

Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo .

@silviadiaz2015