REBOLA, SIM!

Após medalha inédita nas Olimpíadas de Paris, Caio Bonfim relata ofensas homofóbicas ao treinar na rua: "Falavam: 'Vira homem', 'para de rebolar'"

Caio Bonfim conquista a prata com a Torre Eiffel ao fundo - Divulgação/Wagner Carmo/CBAt
Caio Bonfim conquista a prata com a Torre Eiffel ao fundo - Divulgação/Wagner Carmo/CBAt

O medalhista olímpico de prata na marcha atlética 20km nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, Caio Bonfim, desabafou na última quinta-feira (01/08), após a histórica conquista, a primeira do Brasil nessa modalidade.

Filho de João Sena e Gianetti Sena Bonfim, ambos marchadores, o atleta não começou no esporte quando criança, pois sempre teve medo dos xingamentos que ele iria ouvir por “rebolar” na rua.

“Um cara me perguntou: ‘foi difícil essa prova?’. Eu disse que não. Difícil foi o dia que eu fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado”, afirmou o marchador, em entrevista para a Cazé TV.

O atleta disputou sua quarta Olimpíada. Depois de bater na trave nos Jogos do Rio 2016, quando terminou na 4ª colocação, e nos Jogos de Tóquio 2020, quando terminou em 13º, ele afirmou que fez um compromisso consigo mesmo em busca da medalha inédita. Entretanto, esse caminho nunca foi fácil.

“Não estamos brincando de rebolar, somos potência, medalhistas olímpicos”, afirmou ele, em entrevista para a Globo, destacando a seriedade e o esforço envolvidos na prática do esporte.

“Nós somos medalhistas olímpicos. Obrigado ao Brasil e a todos que apoiaram. Nessa prova nós não estamos brincando de rebolar. Nós somos uma potência. Nós somos medalhistas olímpicos. Eu fui muito xingado no primeiro dia que marchei com meu pai. Não é me fazendo de vítima. Eu só comecei com 16 anos, porque era muito difícil ser marchados. Eu decidi ser xingado e não ter problema com isso. Difícil não foi a prova de hoje, foi vencer o preconceito”, destacou.

Vale destacar, que na marcha atlética, a regra exige que o esportista não tire os dois pés do chão ao mesmo tempo e nem flexione os joelhos no momento da passada. Por conta disso, os atletas balançam o quadril quando fazem o movimento comparado a um “rebolado”. E isso gera preconceito das pessoas que o encontram na rua, conforme explicado pelo medalhista.

“Sempre xingado quando marchava, depois do Rio mudou. Ali eu fui quarto colocado nas Olimpíadas, aí o pessoal parou um pouco de xingar. Os caras berravam e até mandavam a gente acertar a marcha”, desabafou.