A coleção de bolsas Além de Fronteiras (traduzido do inglês Beyond Boudaries), apresentada em seu projeto de mestrado pela Universidade do Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, é uma jornada visual e poética de autoconhecimento e aceitação.
Composta por seis bolsas, a coleção explora a metáfora desses acessórios como recipientes de identidade e intimidade, tecendo uma narrativa pessoal que ressoa com a universalidade da experiência humana.
As bolsas são escolhidas como símbolo central por sua capacidade de carregar não apenas
objetos, mas fragmentos de quem somos. Dentro delas, guardamos documentos, fotos e itens pessoais que, de maneira prática e simbólica, representam nossa identidade e intimidade. Bertacini explica que utiliza essa metáfora para uma imersão nas camadas de sua própria trajetória de autoconhecimento.
A coleção é dividida em três atos, cada um representando uma fase distinta da jornada. No primeiro ato, “Apresentação” (Setup), as bolsas “The Best Little Boy” e “Existência Divergente” (Divergent Existence) dão início à história. A primeira bolsa, inspirada em um envelope de papel, simboliza a supercompensação das minorias sexuais masculinas. Feita de Tyvek, um material resistente usado na indústria de equipamentos de proteção, a bolsa tem a aparência de papel.
Na infância, o artista transformava envelopes em bolsas, um ato que era repreendido. Esta bolsa, ao ser aberta, revela espinhos internos, simbolizando a dor e a repressão sentidas naquela época. “Existência Divergente” segue essa narrativa, mostrando como esses espinhos internos se projetam para fora, tornando-se uma defesa contra o mundo exterior. Esta bolsa foi inteiramente impressa em 3D, com uma estrutura transparente, coberta de veludo e spikes de metal.
No segundo ato, “Confronto” (Confrontation), Bertacini apresenta as bolsas “Overthinking” e “Desenrolando” (Unraveling). Com a bolsa “Overthinking”, o artista nos leva a enfrentar as consequências dessa repressão, materializando a ansiedade e os pensamentos que sobrecarregam a mente, oriundos da insegurança e do medo.
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A complexidade de sua construção, com mais de mil lacres de plástico cobrindo sua superfície, simboliza o caos interno do artista. Esta bolsa, impressa em 3D, fecha por meio de ímãs. Em “Desembaraçando”, o artista inicia seu processo terapêutico, começando a lidar com seus sentimentos e emoções. A bolsa, adornada com cordas de paraquedas, representa o esforço de desatar os nós internos e enfrentar a complexidade de suas emoções. A estrutura desta bolsa também foi feita na impressora 3D.
Finalizando a coleção, Bertacini apresenta o terceiro ato, “Resolução”, representado com as bolsas “Metamorfose” (Metamorphosis) e “Cura” (Healing).
“Metamorfose” se inspira na transformação da lagarta em borboleta, um processo interno e invisível resultante em uma mudança profunda. Esta bolsa rígida e intrincada, impressa em 3D ao longo de 95 horas, simboliza o movimento e a transformação pessoal do artista, pois, segundo ele, as maiores mudanças e a evolução não são vistas externamente, mas ainda assim elas acontecem.
A última bolsa, intitulada “Cura,” é inspirada na relação simbiótica entre o peixe-palhaço e as anêmonas, simbolizando a habilidade de navegar por situações potencialmente prejudiciais sem se ferir. Assim como as anêmonas são um refúgio seguro para o peixe-palhaço, mas uma ameaça para outros seres, o artista aprendeu a ressignificar adversidades, transformando traumas em fontes de resiliência e segurança. O que antes era visto como ameaça torna-se um símbolo de proteção e renovação.
Com esta coleção, o designer dá luz a uma narrativa poética de resistência, aceitação e cura. A estrutura em três atos mantém o interesse do público que, ao observar cada bolsa, vê na história coesa e envolvente do artista a complexidade da jornada humana, refletindo sobre suas próprias experiências e encontrando, talvez, um espelho de sua própria busca por identidade e aceitação.
