Envelhecer é uma parte inevitável do ciclo da vida; todos passamos por isso, e até o momento, não há uma fonte da juventude. No entanto, o mundo parece ser moldado para os jovens, como se apenas eles tivessem o direito de experimentar a vida: beijar, tentar coisas novas, mudar de profissão, paquerar, viver plenamente.
Quando alguém com mais de quarenta ou cinquenta anos decide voltar a estudar, mudar de carreira, namorar uma pessoa mais jovem ou usar uma roupa que a sociedade não considera “adequada” para a idade, o preconceito logo surge.
Na comunidade LGBTQIAPN+, a situação não é muito diferente. A diferença é que aprendemos a envelhecer com autenticidade, sem nos importar com os julgamentos alheios, e é assim que deve ser.
Afinal, por que o envelhecimento precisa seguir padrões tão rígidos e sem sentido?
Etarismo é o preconceito ou discriminação com base na idade, geralmente direcionado a pessoas mais velhas. Esse tipo de preconceito pode se manifestar de várias formas, como em comentários depreciativos, estereótipos negativos sobre envelhecer ou em práticas que excluem ou desvalorizam indivíduos mais velhos, seja no trabalho, na mídia, ou em situações sociais.
O etarismo reforça a ideia de que há um “padrão ideal” de idade para viver certas experiências, desconsiderando a diversidade e o valor das pessoas em todas as fases da vida.
Somente os jovens podem sonhar ou realizar sonhos ?
E se você realizar seu maior sonho ou sonhos depois dos cinquenta ?
O etarismo é uma discriminação que atravessa todas as classes sociais e grupos, sem escolher alvos. Ao passar dos 40, é comum começar a perceber esses vieses. Trata-se de um preconceito frequentemente negligenciado, mas que afeta diferentes camadas da sociedade, incluindo a comunidade LGBTQIAPN+.
Nas comunidades, gays e lésbicas, o etarismo se manifestam de diversas formas. Homens gays, por exemplo, sentem uma pressão constante para manter uma aparência jovem, já que a cultura valoriza corpos idealizados e vitalidade. Com o passar do tempo, muitos relatam uma sensação de invisibilidade e desvalorização, inclusive dentro de seus próprios círculos sociais. Esse apagamento social pode gerar exclusão, afetando a autoestima e a saúde mental. O fetiche em torno do “sugar daddy” , homens mais velhos e charmosos , é um reflexo de como a sociedade cria rótulos para justificar essas dinâmicas de poder e atração.
No caso das mulheres lésbicas, o etarismo se entrelaça com o sexismo e o machismo. A sociedade muitas vezes impõe às mulheres um “prazo de validade”, especialmente no que diz respeito à aparência física e capacidade reprodutiva. Essa pressão se intensifica para as lésbicas, que já enfrentam a marginalização por sua sexualidade. As lésbicas quando envelhecem, muitas vezes, podem se sentir menos representadas em espaços que parecem focados na juventude e em uma visibilidade voltada para corpos jovens.
Certa vez, estava em um café, tomando um cappuccino, quando percebi que uma mulher me observava. Sorri, e ela se aproximou, pedindo para sentar comigo. Conversamos por um longo tempo, rimos e trocamos contatos. Quando estávamos saindo, encontramos um conhecido meu que, ao nos ver, perguntou: “É sua mãe?” Ela riu alto e, sem perder o humor, respondeu: “Sou a sugar mommy dela!” Rimos juntas, e ele ficou sem graça.“Mas, por que ela deveria ser minha mãe?”
Além disso, a velhice na comunidade LGBTQIAPN+apresenta desafios particulares, como a solidão e a falta de uma rede de apoio, já que muitos foram rejeitados por suas famílias de origem. A discriminação etária, nesse contexto, é ainda mais perversa. O acesso a cuidados de saúde que respeitem suas identidades e orientações também se torna mais limitado, perpetuando um ciclo de exclusão.
Combater o etarismo na comunidade LGBTQIAPN+ e na sociedade como um todo requer uma cultura que valorize a diversidade em todas as suas formas. Precisamos criar espaços de convivência e diálogo intergeracional que reconheçam as contribuições das pessoas mais velhas para as lutas sociais e garantam o direito de envelhecer com dignidade, respeito e pertencimento. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
O mundo está cheio de preconceitos, mas não devemos desperdiçar nosso tempo nos preocupando com o que os outros pensam. A jornada de cura da nossa sociedade é longa e avança lentamente, com passos de tartaruga. Mas, a vida não espera , e tampouco devemos esperar para sermos felizes.
Então, se joga! Viva intensamente. Seja feliz, beije na boca, seja afetuoso, diga “eu te amo”, declare seus sentimentos, dance, grite, cante. Vamos nos permitir viver plenamente, sem medo, sem reservas. Sim, há tempo para você realizar aquele sonho que você deixou de lado. A felicidade está no agora. Envelhecer é o entardecer da alma. Permita-se !!
Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo .
@silviadiaz2015