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Faxinas, reparos e sexo: reportagem expõe nova tendência em app de pegação gay

Divulgação
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Uma reportagem especial do jornalista Gilvan Marques, do portal UOL, trouxe à tona uma prática que vem ganhando espaço em aplicativos de pegação gay, como o Grindr. Homens têm utilizado a plataforma para oferecer serviços diversos, como faxina, reforma, montador, pintura, consertos elétricos, transporte particular, entre outros. Entretanto, no pacote, eles também oferecem sexo para quem estiver interessado. Alguns cobram um valor extra, enquanto outros incluem o item como “brinde”.

A matéria identificou vários perfis no Grindr que disponibilizam esses serviços, com a descrição de atividades profissionais na bio e a possibilidade de negociação de valores e pacotes diretamente com os clientes interessados. A reportagem conversou com quatro profissionais que atuam em cidades como São Paulo, Guarulhos e Jundiaí.

Vale destacar, que nem todos os trabalhadores são homossexuais. Um exemplo curioso foi o anúncio de um motorista. “Sigiloso, rol* grossa e bom de cama. Gosto de gente educada. Se quiser cotar corrida, pode cotar”, diz o texto. Ao enviar mensagem para fazer a cotação de uma corrida, o condutor comentou que a “mamada vai de brinde”, mas logo após acrescentou: “não faço”.

Na sequência, a publicação conversou com um inspetor de limpeza que, apesar de ser gay assumido, prefere manter o anonimato por medo de represálias e perda de emprego. O profissional cobra entre R$ 150 e R$ 250 por faxinas, porém, dependendo do interesse do cliente, o preço pode chegar a R$ 400, caso haja a inclusão de sexo com ou sem penetração.

“Teve uma época que eu estava desempregado e desesperado. Procurava trabalho e não encontrava. Foi aí que, do nada, veio a ideia de divulgar os meus serviços no app. Eu, particularmente, considero um trabalho normal, porque se eu faço sexo com um e outro e não ganho nada… essas pessoas transam e te descartam como objeto. Então, se passo por isso, por que não juntar o útil ao agradável e ganhar uma grana?! Pelo menos eu saio com o bolso cheio e feliz”, declarou.

A sua clientela é formada majoritariamente por gays, solteiros e casados com mulheres: “Já me perguntaram se eu trabalhava de roupa feminina, de calcinha ou só com avental. Por grana, topo tudo”.

Especialistas consultados pela reportagem analisaram a nova tendência. O psicólogo Daniel Fernandes associou o aumento dessa prática aos avanços tecnológicos, mudanças socioculturais e econômicas, reforçando que o ato sexual como produto tornou-se mais comum.

“Passamos por uma pandemia e vínhamos de crises políticas e financeiras, o que afetou postos de trabalho e poder de compra, somado à precarização da mão de obra e do trabalhador. Este cenário pode ter sido condição importante para os trabalhadores terem visto uma possibilidade de aumentar sua renda, de ter um pouco mais de certa segurança financeira. Às vezes, podem não estar te contratando como um eletricista, mas, se você for um ‘eletricista com benefícios’, talvez você note um aumento quantitativo substancial com esse diferencial no número de solicitações para realizar consertos ou revisões elétricas, por exemplo. Sexo gera muito dinheiro”, explicou.

Já o advogado especializado em Direito Digital, Márcio Stival, destacou que, em princípio, a prática não é ilegal, desde que envolva maiores de idade e não configure exploração sexual. No entanto, ele alertou que o próprio Grindr podem criar regras para regular essas ofertas.

“É possível haver algum tipo de infração aos termos de uso dos aplicativos de relacionamento. Isso, claro, desde que sejam pessoas maiores e também que não haja indução ou exploração sexual para ter algum tipo de benefício ou lucro. Os aplicativos são os únicos que podem, de algum modo, criar um regramento interno que impeça esse tipo de oferta dentro do seu serviço”, afirmou.