NO MINISTÉRIO PÚBLICO

Erika Hilton e Amanda Paschoal denunciam pastor por "cura gay" após travesti tira própria vida após "destransição"

Leticia Maryon, de 22 anos, cometeu suicídio poucos dias após comparecer a um culto promovido por Flávio Amaral, que se diz "ex-travesti" e aplica "terapias de conversão" em jovens LGBTQIAPN+

O pastor evangélico Flávio Amaral, do Ministério Liberto Por Deus - Reprodução/Instagram
O pastor evangélico Flávio Amaral, do Ministério Liberto Por Deus - Reprodução/Instagram

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e a candidata a vereadora Amanda Paschoal (PSOL-SP) apresentaram uma denúncia ao Ministério Público (MP) contra o pastor Flávio Amaral, do Ministério Liberto Por Deus, por transfobia e tortura após o suicídio da travesti Letícia Maryon, submetida a um processo de “destransição”.

A vítima, de 22 anos, tirou a própria vida no dia 27 de setembro, após enfrentar durante mais de um ano o processo conduzido pelo evangélico, que se diz “ex-travesti” e prega a “cura gay” através da fé, jejum e oração.

Nos últimos dias, Letícia havia participado de um culto de Flávio para falar sobre o seu processo de “cura”. No evento, ela afirmou que estava há dias passando por uma “guerra espiritual entre a carne e o espírito”.

O líder religioso é uma figura conhecida no meio cristão e tem se tornado um símbolo para aqueles que buscam reorientação espiritual, participando de programas de TV e podcasts que promovem sua mensagem.

Em seus perfis nas redes sociais, o pastor compartilha diariamente o processo de “detransição” de membros da sua igreja, além de atacar figuras públicas da comunidade LGBTQIAPN+. Além disso, associa pessoas trans a práticas demoníacas, vícios e maldições.

De acordo com as informações do portal Carta Capital, a denúncia contra Amaral não apenas aponta suas ações como LGBTfóbicas, mas também menciona práticas coercitivas que incluem a imposição de jejuns e humilhações públicas de fiéis.

Na peça, ambas destacam também a irregularidade de práticas fraudulentas de “cura” para pessoas que apresentam sexualidade ou identidade de gênero divergente na sociedade, atualmente proibidas pelo Conselho Federal de Psicologia no âmbito de tratamentos psicoterapêuticos, e que também podem ter levado diretamente ao agravamento da saúde mental de Letícia Maryon e a outros fiéis que possam estar em situações semelhantes.

“As condutas perpetradas por Flávio Amaral são graves e não podem ser abarcadas dentre os ditames constitucionais de livre manifestação de suas crenças religiosas, pois extrapolam os limites delimitados ao violar os direitos fundamentais, consubstanciado no discurso de ódio”, destaca um trecho do documento.