Saúde

Urologista LGBT fala sobre os riscos do câncer de próstata em mulheres trans

Dr. Marcelo Magalhães, urologista LGBT, compartilha seus conhecimentos e expertise sobre a saúde da próstata em mulheres trans
Dr. Marcelo Magalhães, urologista LGBT, compartilha seus conhecimentos e expertise sobre a saúde da próstata em mulheres trans | Arquivo Pessoal

Durante o Novembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do câncer de próstata, o Observatório G conversou com o urologista LGBTQIA+, Dr. Marcelo Magalhães, para abordar um tema relevante: o cuidado com a próstata em mulheres trans

O exame de próstata em mulheres trans

Dr. Marcelo explica que o exame de próstata em mulheres trans varia de acordo com cirurgias realizadas e o uso de terapia hormonal.
• Uso de hormônios: A hormonização com estrogênio e bloqueadores inibem a produção de testosterona, principal responsável pelo crescimento da próstata em homens cis ao longo dos anos. Em mulheres trans em terapia hormonal, a próstata tende a manter um tamanho reduzido, semelhante ao de um jovem adulto, o que facilita o exame.
• Cirurgia de afirmação de género: Em mulheres trans que realizaram a cirurgia de redesignação sexual, a neovagina é posicionada entre o reto e a próstata. Assim, o exame de toque, tradicionalmente realizado pelo reto, é substituído pelo toque através da neovagina, garantindo maior precisão.

Importante destacar que, independentemente da técnica cirúrgica, a próstata não é removida na cirurgia de afirmação de género, devido aos riscos de complicações como incontinência urinária e perda de sensibilidade sexual.

Riscos de câncer de próstata em mulheres trans

Mulheres trans em terapia hormonal têm menor risco de desenvolver câncer de próstata devido à ausência de estímulo da testosterona. No entanto, quando o câncer ocorre, tende a ser mais agressivo, já que, nesse caso, ele se desenvolve independentemente da testosterona, sinalizando um estágio avançado da doença.

Os sintomas relacionados à próstata, como dificuldade para urinar, sangue na urina ou necessidade frequente de ir ao banheiro, são menos comuns em mulheres trans hormonizadas. Ainda assim, a recomendação é realizar exames de rastreamento, como o PSA e o toque, regularmente.

Cuidados durante o atendimento especializado

O acolhimento e o respeito são pilares fundamentais no atendimento a pessoas trans. Dr. Marcelo enfatiza que os serviços de saúde, de maneira geral, ainda carecem de treinamento e estrutura para atender as necessidades dessa população.
• Ambiente acolhedor: Consultórios especializados devem respeitar o nome social e os pronomes do paciente, além de garantir privacidade e sensibilidade durante os exames.
• Individualização do atendimento: É importante considerar as particularidades de cada paciente. No caso de mulheres trans, abordar temas como disforia de género com empatia é essencial.

“Eu sempre pergunto se o exame genital pode ser feito, respeitando o nível de conforto da paciente. Caso ela se sinta desconfortável, sugiro alternativas, como uma explicação detalhada ou até o uso de imagens para avaliação inicial”, explica o urologista.

Frequência dos exames e alternativas ao toque retal

A frequência dos exames de próstata em mulheres trans segue protocolos semelhantes aos de homens cis:
• Sem hormonização: A partir dos 50 anos, anualmente, ou a partir dos 45, em casos de histórico familiar de câncer.
• Com hormonização: Não há consenso específico, mas a recomendação é manter a rotina de rastreamento com PSA e toque, considerando intervalos de até dois anos em casos de resultados normais.

O exame de PSA, embora indispensável, não substitui o toque retal, pois ambos se complementam no rastreamento do câncer de próstata. Em casos de suspeita, exames adicionais, como ressonância magnética e biópsia, podem ser necessários.

Conscientização e cuidados essenciais para saúde da próstata de mulheres trans / Getty Imagens

Desafios na saúde de pessoas trans

Dr. Marcelo destaca que a formação médica ainda não prepara adequadamente os profissionais para lidar com a diversidade de género. “Esse respeito à diversidade não é ensinado nas escolas de medicina. Quem trabalha com o público LGBTQIA+ aprende na prática a acolher e tratar com naturalidade”, afirma.

Apesar dos avanços, ainda há um longo caminho para garantir atendimento de qualidade e inclusivo. A conscientização promovida por iniciativas como o Novembro Azul é essencial para reforçar a importância do cuidado integral e respeitoso à saúde das mulheres trans.

A saúde da próstata em mulheres trans é um tema que exige conhecimento técnico, sensibilidade e respeito. Garantir um atendimento adequado e inclusivo é fundamental para promover a saúde e o bem-estar dessa população, que enfrenta desafios únicos em sua jornada por cuidados médicos de qualidade.

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