Viver em um mundo hipócrita e homofóbico é exaustivo. Digo isso em 2025, mas, imaginem algumas décadas atrás, nos anos 1980, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar. Uma época de censura, repressão e medo, onde a liberdade de expressão era limitada e a identidade de muitos precisava ser escondida. A geração daquela época fazia tudo em segredo, com receio do julgamento alheio e, pior, das duras consequências impostas por um regime que controlava não apenas a política, mas também a moral e os costumes.
Sair do armário era um ato de extrema coragem, muitas vezes impossível para aqueles que temiam a rejeição da família e da sociedade. Andar de mãos dadas, trocar beijos em público? Nem pensar. Nem mesmo em espaços alternativos como o Soho, conhecido por sua efervescência cultural e artística, era possível viver plenamente a própria verdade sem medo de retaliações. O preconceito estava por toda parte, e a invisibilidade era, para muitos, uma necessidade de sobrevivência.
Foi nesse contexto sombrio que um filme revolucionário, e à frente de uma época, surgiu : “Onda Nova” , um filme brasileiro de 1983, dirigido por José Antonio Garcia e Ícaro Martins ,e que logo em seguida, foi silenciado. Sua ousadia não foi perdoada pela censura da época, que o proibiu, privando uma geração inteira do direito de se ver refletida na arte. Agora, décadas depois, este filme ressurge, resgatado de um passado de sombras, trazendo consigo a força da resistência e a necessidade de lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, sempre houve aqueles que ousaram existir plenamente.
Em 1983, eu tinha apenas dez anos quando fiz minha estreia no teatro em Santos, na peça “Capitães da Areia”, uma adaptação do clássico de Jorge Amado. Naquela época, qualquer espetáculo precisava passar pela censura. O diretor ou a diretora agendava uma apresentação exclusiva para um censor, que assistia à peça munido do texto e de um bloco de notas, registrando tudo atentamente. Ao final, ele decidia se a peça poderia ser encenada, às vezes com cortes , restrições, ou a proibição de apresentar.
Foi nesse contexto que comecei minha trajetória como atriz.
O filme abordava a vida de jovens garotas que fundaram o “Gaivotas Futebol Clube”, um time de futebol feminino. Classificado pelos próprios realizadores como “uma colagem surrealista sobre a juventude paulistana”. Protagonizado por Carla Camurati e Cristina Mutarelli, acompanhava a trajetória das jogadoras em um ano de 1983, quando o futebol feminino foi oficialmente regulamentado no Brasil, após 40 anos de proibição.
A ousadia de “Onda Nova” não passou despercebida pelos censores da ditadura. O filme foi considerado “imoral” e “subversivo”, sendo interditado logo após sua exibição na 7ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A censura silenciou a voz de um filme que celebrava a vida e a liberdade, mas, não conseguiu apagar sua mensagem.
A censura classificou “Onda Nova” como imoral. O motivo? O filme retratava jovens livres, sem medo de expressar seus desejos e vivenciar suas experiências. Não era uma obra política no sentido clássico, mas reafirmava o desejo como identidade e afirmação de vida. Mesmo no fim da ditadura, sofreu uma censura severa, quase sendo apagado da memória cinematográfica.
“Onda Nova” é um testemunho da resistência cultural brasileira durante a ditadura militar. O filme desafiou os padrões morais e sexistas da época, celebrando a diversidade e a liberdade de expressão. Quase quatro décadas depois, “Onda Nova” ressurge restaurado e remasterizado, pronto para ecoar sua mensagem de liberdade e paixão para as novas gerações.
O longa foi restaurado e remasterizado, e, após ser exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2024, finalmente chega ao circuito nacional.
A revitalização do filme foi um projeto complexo e ambicioso, que envolveu a recriação do trailer e do cartaz originais, ambos considerados perdidos. A artista gráfica Helena Garcia foi responsável por desenvolver uma nova identidade visual para o filme, que manteve a essência da obra original, mas com um toque contemporâneo.
A produção do novo trailer ficou a cargo de Marina Kosa, da Tanto Produções, que trabalhou em estreita colaboração com a Cinemateca Brasileira. A Cinemateca desempenhou um papel fundamental no projeto, auxiliando na digitalização dos negativos originais do filme, garantindo a qualidade da imagem e preservando a integridade da obra.
Estavam também no elenco, Regina Casé, Caetano Veloso, e o locutor Osmar Santos. No gramado, as jogadoras também recebem o apoio de nomes históricos do futebol brasileiro, como Casagrande, Wladimir e Pitta , jogadores do Corinthians .
ONDA NOVA é um lançamento Vitrine Filmes e Tanto Filmes e chega aos cinemas em 27 de março.
Diante disso, me pergunto: qual é o verdadeiro significado da palavra “imoral”? Um filme que retrata desejos, desafios e ousadia é considerado imoral, mas, perseguir, prender, torturar e matar artistas, intelectuais e políticos contrários à ditadura, não? É um paradoxo que evidencia como a humanidade insiste em repetir seus erros, sem evolução.
Além disso, o projeto contou com a colaboração de diversas empresas e profissionais, incluindo a JLS, a Zumbi Post, a Sinny Assessoria e Comunicação e a família do diretor, que desempenhou um papel importante na preservação e divulgação do legado do cineasta. O trabalho em conjunto de todas essas partes foi essencial para o sucesso da revitalização do filme.
O filme “Onda Nova” foi considerado “imoral” pela censura da ditadura militar brasileira devido à sua ousadia em retratar temas considerados tabus na época.
A sexualidade, o filme aborda a sexualidade feminina de forma explícita e libertária, desafiando os padrões morais conservadores da época.
O futebol feminino, a paixão pelo futebol feminino, retratada no filme, era considerada “inadequada” para mulheres pela sociedade da época.
A liberdade de expressão, o filme celebra a liberdade de expressão e a diversidade, dando voz a personagens marginalizados pela sociedade da época.
O contexto político, o filme foi lançado em um período de forte repressão política no Brasil, e sua mensagem de liberdade e resistência foi considerada subversiva pelo regime militar.
Em resumo, “Onda Nova” foi considerado “imoral” por desafiar os padrões morais e sexistas da época, celebrando a diversidade e a liberdade de expressão em um contexto de opressão.
É um filme atemporal que celebra a vida, o desejo e a identidade. A obra nos convida a refletir sobre a importância da liberdade de expressão e da luta por igualdade. O filme nos lembra que a paixão pelo futebol feminino e a celebração da vida são atos de resistência e liberdade.
Estou sendo repetitiva ? Sim !!! Viva a Liberdade de expressão e a diversidade !!
O filme deu voz a personagens marginalizados pela sociedade da época. A paixão pelo futebol feminino, retratada no filme, é um símbolo da luta por igualdade de gênero no esporte.
Fico feliz, que, enfim, possamos assistir a “Onda Nova”. Um filme que sempre esteve à frente de seu tempo.
Ditadura nunca mais!! Censura nunca mais !!
Sejamos Imorais, muito imorais !!
Cultivemos nossas ilhas !! Eu sinto !
Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos.E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo . Cultivando minha Ilha.. Eu Sinto…
@silviadiaz2015