Receber uma compra feita online nem sempre é simples — especialmente fora dos grandes centros urbanos. No Brasil, a chamada “última milha” ainda representa um dos maiores desafios do e-commerce, com fretes caros, falhas na entrega e exclusão logística de bairros periféricos e comunidades. Para driblar esse cenário, startups têm apostado em soluções que descentralizam a distribuição e tornam o processo mais acessível. Uma delas é a Keep It, fundada por Thiago Fernandes de Freitas, que pretende utilizar armários inteligentes como pontos de apoio logístico e abre caminho para uma nova geração de empreendedores digitais.
A proposta parte de uma premissa simples, mas poderosa: transformar espaços do cotidiano — como condomínios, pequenos comércios e estações de transporte — em hubs logísticos descentralizados, onde produtos podem ser armazenados, retirados ou enviados com segurança e agilidade. O modelo reduz custos de operação, encurta distâncias e elimina etapas que antes tornavam o processo inacessível para quem não tinha estrutura própria de entrega ou armazenamento.
“A logística ainda é uma barreira invisível para milhares de pequenos empreendedores. Com a Keep It, estamos criando uma rede inteligente e acessível, que permite vender, armazenar e entregar sem depender de grandes operadores ou infraestrutura cara”, explica Thiago Fernandes de Freitas, especialista em negócios escaláveis e fundador da startup.
Esse tipo de solução ganha ainda mais relevância diante do crescimento acelerado das vendas por canais digitais. Segundo dados da Euromonitor Internacional, o mercado brasileiro de delivery cresceu 50,8% entre 2019 e 2024, movimentando cerca de R$ 139 bilhões em pedidos realizados por aplicativos, sites, telefone e até WhatsApp.
Além de atender consumidores finais, o sistema também funcionará como uma alternativa real para pequenos vendedores e autônomos que desejam operar no e-commerce, mas enfrentam obstáculos como aluguel de espaço, custo com transporte ou dificuldade em gerir a entrega. Com os armários inteligentes da Keep It, esses profissionais conseguem despachar ou receber produtos de forma automatizada, sem intermediação e com rastreamento completo.
Essa descentralização da entrega impacta diretamente a competitividade dos pequenos negócios — especialmente em um cenário onde as grandes plataformas logísticas dominam os canais tradicionais. O modelo também reduz o volume de entregas malsucedidas e diminui a emissão de CO₂, por evitar múltiplas tentativas de envio e rotas ineficientes.
Thiago, aposta na interseção entre logística, inclusão social e tecnologia urbana. Segundo ele, o futuro do e-commerce está na construção de soluções que não apenas escalem, mas também redistribuam oportunidades de forma mais justa.
“O modelo centralizado funciona para quem já está dentro da cadeia. Nosso foco é criar acesso para quem está fora dela. Microempreendedores, moradores de periferia, pequenos comerciantes — todos eles podem se beneficiar quando a infraestrutura deixa de ser um obstáculo e vira uma ponte”, afirma.
Assim, a Keep It exemplifica uma tendência que deve ganhar ainda mais força nos próximos anos: a de uma logística urbana mais flexível, colaborativa e conectada à realidade das cidades.