No dia 28 de junho de 2.025, dia do orgulho LGBTQIAPN+, a Igreja Betesda, em São Paulo, promoveu o “Fórum da Diversidade: uma jornada LGBTI+ com Deus”. O evento iniciou no meio da manhã e foi encerrado ao final do dia. E, provavelmente, a escolha da data não foi ao acaso. Os meios religiosos, não importam quais, na sua maioria, apresentam diversas objeções às pessoas deste segmento. E, como temos visto no nosso país, e em outros, são fontes de justificativa e apoio ideológico para o não reconhecimento da legitimidade desta população.
Parte da manhã
A primeira pessoa a falar foi Arthur Cavalcante, pastor evangélico de uma igreja histórica (além de cientista da religião e psicanalista). Relatou sua vivência nas diversas comunidades de fé e como teve que enfrentar resistência institucional a sua orientação afetiva. Hoje se mantém ativo na sua denominação a qual serve e que decidiu apoiar o casamento entre pessoas do mesmo gênero.
A segunda parte foi uma roda de conversa entre três pessoas homoafetivas a respeito das experiências no ambiente sagrado – no caso, igrejas evangélicas. A psicanalista Erika Balieiro relatou sua trajetória de descoberta da sua orientação afetiva, o rechaço familiar sofrido, a obrigatória renúncia dos espaços de liderança jovem que até então ocupava na sua comunidade de fé. Contra a expectativa habitual, seu período de análise pessoal a devolveu, a partir de uma nova construção de significados, a uma vivência de fé em uma comunidade onde é completamente integrada. O advogado e estudante de teologia Anderson Veloso relatou como foi progressiva sua percepção de si, como é transitar de uma igreja conservadora para outra pentecostal, e a imporância de encontrar seu atual espaço de fé, a Betesda. Novamente o pastor que já havia falado aprofundou suas reflexões.
Parte da tarde
A programação da tarde foi iniciada com a fala de uma das pastoras da Betesda, Silvia Geruza (também psicóloga de casais e sexóloga). Seu foco foi abordar as principais passagens bíblicas que são usadas no rechaço à população LGBTQIAPN+. Mostrou como é possível interpretá-las de uma outra forma, como o uso habitual das mesmas ignora o conhecimento histórico dos ambientes em que os textos foram escritos e como há falta de coerência entre o uso destas passagens com a mensagem bíblica global.
A útlima parte, na qual participei, foi uma roda de conversa entre um endocrinologista cristão membro atuante de uma igreja histórica e duas pessoas transvestegêneres, uma feminina (que mediou a roda de conversa) e outra masculina. As pessoas evangélicas estão habituadas a escutar histórias onde alguém LGBT se converte e deixa (supostamente) de ser LGBT. A moderadora Livia Venaglia (jornalista e estudante de teologia) contou que sua história foi em direção oposta: ela se converteu ao Evangelho de Jesus por ter feito a transição de gênero!
A transmasculina, Ian Lucas (profissional em processos gerenciais), narrou sua experiência trans: líder feminina atuante, mergulhava nas atividades da igreja para não olhar para si e enfrentar seu pertencimento a outro gênero. Foi casada com um jovem pastor, mas o matrimônio não durou. Sua vida se tornou autêntica, e permaneceu uma pessoa cristã, ao assumir sua transgeneridade. Minha participação foi informar sobre os aspectos médicos envolvidos no cuidado das pessoas transvestegêneres e defender o imperativo moral e ético que é estar ao lado de todo o segmento LGBTQIAPN+ na promoção da saúde integral: orgânica, psicológica, social, legal, espiritual.
Avaliação final
O evento foi regado com muita fraternidade, músicas que enfatizam a aceitação da Trindade Cristã e o acolhimento a vivência LGBTQIAPN+ enquanto tão legítima e sagrada quanto à cisgênera e heteroafetiva.
Parabéns à Igreja Betesta!!!