Para muitas pessoas trans, a cirurgia de adequação de gênero representa muito mais do que um procedimento médico. É um passo fundamental para alinhar corpo e identidade, trazendo dignidade e qualidade de vida. No entanto, esse sonho ainda é atravessado por barreiras financeiras e pelo difícil acesso no sistema público de saúde.
O urologista Luiz Augusto Westin, especialista em reconstrução urogenital pela UERJ, explica que os custos variam bastante e dependem de diversos fatores, como a técnica utilizada, o hospital, o modelo de prótese, o tempo de internação e até possíveis complicações após a operação.
Entre as mulheres trans, a cirurgia de transgenitalização pode custar entre 70 mil e 100 mil reais. No caso dos homens trans, a metoidioplastia apresenta valores semelhantes, mas a neofaloplastia é mais complexa e pode ter custos ainda maiores. “Cada etapa complementar pode representar pelo menos metade do valor da primeira, além do custo adicional da prótese escolhida”, explica o médico. Ele lembra que esses números são apenas estimativas e que cada paciente vive uma realidade única.
Apesar dos altos valores na rede privada, o Sistema Único de Saúde realiza cirurgias de adequação de gênero. Hoje, existem oito centros credenciados, mas uma portaria recente, homologada em dezembro de 2024, prevê a ampliação para doze unidades especializadas. A fila, no entanto, continua sendo um obstáculo para muitas pessoas.
Westin destaca que os critérios do SUS são os mesmos exigidos pela rede particular, baseados em protocolos de avaliação cuidadosa. Mesmo assim, a falta de vagas e a demora no atendimento acabam gerando frustração e sofrimento em quem aguarda pelo procedimento. “Toda a normatização aplicada à rede privada foi inspirada inicialmente nos protocolos estabelecidos pelo SUS”, ressalta.
Outro desafio é a ausência de alternativas intermediárias. Até agora, não existem parcerias entre o SUS e clínicas privadas que possam ampliar o acesso às cirurgias. Para quem não consegue arcar com os custos particulares e não deseja enfrentar anos de espera na rede pública, resta a incerteza.
As cirurgias de adequação de gênero no Brasil simbolizam um direito fundamental, mas a realidade mostra que esse direito ainda não chega de forma igualitária. Entre valores altos e filas longas, muitas pessoas trans permanecem em uma espera que vai além do tempo cirúrgico. É uma espera pelo reconhecimento pleno de suas identidades.