Tremembé

Como Tremembé Molda Corpos LBTQIAPN+ e Reforça Fetiches Sobre o Crime

Tremembé não é apenas uma série, é um espelho. E como todo espelho, mostra o que desejamos e o que negamos.
06/12/2025 22:11
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(foto: UOL)

TREMEMBÉ

Entre o Sensacionalismo e a Invisibilidade

Produzida pela Paranoid para o Amazon MGM Studios, Tremembé chegou ao Prime Video com a promessa de revisitar a Penitenciária de Tremembé . Oficialmente um presídio, extraoficialmente um espelho do imaginário brasileiro. Dirigida por Vera Egito, com roteiro de Egito ao lado de Ullisses Campbell, Juliana Rosenthal, Thays Berbe e Maria Isabel Iorio. A série se apoia nos livros,Suzane, Assassina e Manipuladora. Elize , A Mulher que Esquartejou o Marido ,e Tremembé, O Presídio dos Famosos, de Campbell. Estreou em 31 de outubro de 2025.

O elenco é amplo e afinado: Marina Ruy Barbosa (Suzane von Richthofen), Felipe Simas (Daniel Cravinhos), Kelner Macêdo (Christian Cravinhos), Bianca Comparato (Anna Carolina Jatobá), Lucas Oradovschi (Alexandre Nardoni), Carol Garcia (Elize Matsunaga), Letícia Rodrigues (Sandrão), Anselmo Vasconcelos (Roger Abdelmassih), João Pedro Mariano (Duda) e Luan Cardoso (Gal).

Confesso que não li os livros de Campbell , mas, diante do frenesi coletivo, resistir à série seria quase uma provocação.

Marina Ruy Barbosa entrega uma Suzane surpreendentemente precisa. Não se trata de glamourizar a assassina, tampouco demonizá-la. Marina constrói o que a imprensa nunca conseguiu sustentar: uma personagem cheia de lacunas, contradições e estratégias de sobrevivência. É um trabalho que desafia a própria atriz e quem assiste.

Outro grande destaque é Luan Cardoso, como Gal, a travesti encarcerada. Sua presença é breve, mas contundente. Cardoso dá densidade a uma personagem que poderia ser apenas alegoria  e, ainda assim, o roteiro a reduz a um sinal de diversidade, não a um eixo político.

O fetiche como mania nacional.

No Brasil, o caso Richthofen nunca acabou. É mito vivo, sempre remontado, sempre reempacotado para consumo. Tremembé prometeu fugir do sensacionalismo. Falhou. A série não desmonta fantasias: apenas oferece pornografia moral em alta definição.

Sandrão, interpretada de forma vigorosa por Letícia Rodrigues, nasce pronta para o delírio popular: lésbica, forte, perigosa, desejável. A produção até tenta humanizá-la ,solidão, remorso, dureza. Mas o público quer outra coisa: o fetiche da ameaça. A caricatura vence a nuance, como sempre.

Suzane, por outro lado, ocupa o polo oposto do imaginário: A menina rica, frágil, maquiavélica. Sua sexualidade foi usada como prova de culpa desde 2002. A série evita repetir a baixaria, mas escorrega no silêncio. Quando o silêncio protege, ele também participa.

A cena da calcinha, parou o País por Sete segundos. É o tempo da cena em que Christian Cravinhos , interpretado por Kelner Macêdo, aparece vestindo uma calcinha rosa. E isso bastou para incendiar as redes.

Não pela violência, não pelo assassinato , mas pela calcinha.

O Brasil não suporta ver o homem que deseja deslizar. É como se o país inteiro confessasse, involuntariamente, seu pavor de qualquer masculinidade que escape dos trilhos.

Gal, a travesti da série, tem duas cenas e quatro falas. E isso diz tudo. Ela deveria ser o coração político do projeto, a personagem capaz de revelar a engrenagem real do cárcere: violência institucional, abandono, sobrevivência.

Mas, Gal aparece apenas para que a produção declare: “Nós falamos do sistema”. Travestis seguem permitidas apenas em dois registros: a vítima ou o escândalo. Nunca a pessoa.

Tremembé cutuca, mas não sangra. Levanta as perguntas certas.

Por que sexualizamos mulheres que matam?

Por que lésbicas são ameaça e fetiche?

Por que travestis só existem como dor?

Por que uma calcinha escandaliza mais do que um assassinato? E responde todas com o mesmo gesto: devolve o espetáculo ao público.

No fim, a série não desmonta o fetiche. Só melhora sua iluminação.

Os corpos permanecem expostos.

O consumo, refinado.

O cheiro, o mesmo.

Tremembé não revela o Brasil , apenas confirma o que já sabemos.

Somos um país que depõe corpos. E faz disso entretenimento.

Mas, o que esperar de um país que parou para torcer pela Odete Roitman no último capítulo de Vale Tudo?

Cultivando minha Ilha.. Eu Sinto…

Letícia Rodrigues/Marina Ruy Barbosa/Carol Garcia/UOL

FelipeSimas/Marina RuyBarbosa/KelnerMacêdo

Luan Cardoso (Gal)UOL

Letícia Rodrigues/Marina Ruy Barbosa/UOL

Carol Garcia/Letícia Rodrigues/UOL

João Pedro Mariano/Kelner Macêdo/UOL

Kelner Macêdo/UOL

João Pedro Mariano/Kelner Macêdo/UOL

Marina Ruy Barbosa/UOL

Elenco completo: Anselmo Vasconcelos, Lucas Oradovschi, Felipe Simas e Letícia Rodrigues (de pé, a partir da esq.) com Carol Garcia, Marina Ruy Barbosa, Bianca Comparato e Kelner Macêdo ((Manu Scarpa/Brazil News/Divulgação)

Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos.

E quando os dias não os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo .

Cultivando minha Ilha.. Eu Sinto…

Instagram @silviadiaz2015

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