Nany People comenta sucesso de personagem Marcos Paulo em "O Sétimo Guardião".

Marcos Paulo, personagem interpretada por Nany People (Reprodução/Tv Globo)
Marcos Paulo, personagem interpretada por Nany People (Reprodução/Tv Globo)

Por André Junior

Nany People estreou com maestria na dramaturgia da Rede Globo em “O Sétimo Guardião“, após anos de trabalhos no teatro. A atriz interpreta Marcos Paulo, uma cientista transsexual que deseja manter o seu nome de nascença – motivo inclusive que gerou críticas da comunidade LGBT.

Como se sabe, a ideia original de Aguinaldo Silva era que Renata Sorrah vivesse a rival trans de Valentina (Lília Cabral). No entanto, a Globo fez questão que uma transexual desse vida à personagem e abriu espaço para Nany entrar na trama. Atuando ao lado de ícones da televisão, a humorista deu conta do recado e conquistou o grande público.

Já na reta final da novela, Marcos Paulo protagonizou uma cena picante com Peçanha (Felipe Hintze) e promete viver ainda uma grande reviravolta no enredo da história. Em entrevista ao Observatório G, Nany comenta a sua estreia no projac da Globo e a importância da representatividade LGBT na TV.

Nany, a novela “O Sétimo Guardião” marcou a sua estreia numa grande produção. De início, você temeu o convite?

Eu não fiquei com medo não, era algo que eu sonhava há muito tempo, eu almeja muito, eu havia pedido ao universo no ano retrasado, no reveillon eu disse: “Eu quero fazer uma novela na Globo”. Mas eu assustei quando me deparei com o elenco da novela e o núcleo o qual eu lidaria: Tony Ramos e Lilia Cabral, por exemplo. Foi aí que eu percebi que o personagem teria um peso importante e eu não poderia estar mais feliz, hoje. Eu sou muito grata à vida!

Você é a primeira protagonista trans em uma novela da Rede Globo. Acredita que a sua estreia abriu espaço para as demais pessoas da comunidade LGBT?

O simples fato de ter uma personagem trans na trama já faz com que as pessoas discutam e comentem o fato. Marcos é assumidamente trans mas respeita o poder da palavra, acredito que pelo fato de ser químico e lidar com a ciência – talvez seja esta a filosofia de vida dela. Eu acho muito importante haver personagens como este pois ao menos fará com que o povo discuta e coloque em pauta este assunto, sabe. Isso por si só já é um grande avanço.

Você se considera uma representante da bandeira gay no país e quais são as suas atitudes para ajudar o movimento?

Olha, quando eu entrei na novela alguem me perguntou: “você vai miltar?” eu simplesmente disse que ser quem eu sou, com 53 anos e estar viva já é uma militancia. Isto é uma vitória a minha classe. Eu milito na vida! Eu sou uma sobrevivente e na Globo eu fui contrata para atuar. Eu tenho um curriculo muito vasto, já passei por todas as emissoras, mas faltava a Globo e eu estou muito feliz. Eu não tenho a pretensão de dizer que eu sou uma representante, sabe. Eu sou amada por muitos, mas sou segregada por alguns, e a vida é assim. Toda vez que eu falei, cantei, atuei e divulguei a minha imagem sendo quem eu sou, eu já estava militando. digamos assim. Minha vida é uma vitória. Dentro da minha condição de transsexual socialmente assumida eu já dou conta do recado. no trabalho, eu faço o meu trabalho. Simples assim!

O fato de o nome da sua personagem em “O Sétimo Guardião” ser Marcos Paulo, desagradou muitos representates da comunidade e principalmente os transsexuais. Como você interpreta esta vontade do autor – humor ou vontade de incomodar ainda mais?

É uma resposta que o Marcos Paulo dá à Valentina: “Eu sou um transgressor, Valentina!”. E a intenção do autor foi esta, é para incomodar mesmo. Marcos Paulo é uma mulher mas permanece com este nome. Ele tem um humor ácido e fora o único que enfrentou a vilã da novela. O nome de Marcos Paulo é o que menos importa pra ele, eu acredito. O que o define é a sua forma de viver e falar, ele incomoda e transgride todo o tempo em sua vivência. Eu acho até engraçado; talvez isso seja ironia do destino: Eu conquistei o meu nome social (finalmente). Depois de 18 anos, eu tenho documentos com o meu nome: Nany People. E justamente me vem em mãos um personagem trans que não quer assumir um novo nome. Isso é pra fazer o publico pensar ainda mais e incomodar!

Qual fora o momento mais marcante para você na novela até então?

Eu acho que o momento mais marcante é sempre o presente. Eu sempre digo isso e penso assim, Eu tenho vários momentos bons, a minha cena cantando na boate é incrível, mas para mim, Nany, a cena mais marcante fora quando Valentina e Marcos Paulo conversam sobre a amizade e relembram do passado e a vilã diz que o aceita de qualquer forma enquanto deitava a cabeça no meu colo. Foi muito marcante para mim! Mas socialmente falando, o pedido de casamento do Peçanha é o momento mais incrível da história. Marcos Paulo chegou na cidade achando que iria passar uma chuva, mas acaba se casando com o delegado da cidade (risos).

Você pretende investir cada vez mais no drama e abandonar a comedia ou conciliariará os dois?

Eu tenho fazer os dois, os três… os quatro (risos). Eu tento conciliar ambas as funções, e pretendo continuar com todos os meus ofícios. eu estou muito feliz e agradecida. Eu gostaria de ter ainda mais experiencia na dramaturgia, mas o carinho do publico é o mais incrível de se receber. graças a Deus mais uma vez, o publico abraçou o meu trabalho.

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