Por André Junior
O Superior Tribunal de Justiça aceitou nesta quinta-feira (16), uma queixa-crime contra a desembargadora Marília Castro Neves, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) por injúria contra o ex-deputado federal Jean Wyllys. A decisão foi tomada pela Corte Especial do STJ, que avalia casos de pessoas que têm foro privilegiado.
Marília se torna ré e vai responder criminalmente por ter publicado uma postagem em uma rede social em 2015, na qual se referia ao ex-parlamentar dizendo que, no caso dele, ela seria a favor de um “paredão profilático”. Se for condenada, ela poderá ser sentenciada a penas que podem chegar a oito meses de prisão ou pagamento de multa. A desembargadora já atacou inúmeros políticos e até mesmo a falecida Marielle Franco, ex deputada do PSOL/RJ alvejada por milicianos no estado do Rio. Parece que os atos de responsabilidade estão contados para a jurista, visto que o placar da votação fora de 10 contra 2 para condenação de Marília.
Em entrevista exclusiva ao Observatório G, Wyllys dá detalhes do processo contra Marília e afirma que ainda restam muitos nomes a serem penalizados. Confira:
Este processo fora aberto por você em que data?
Esse processo foi aberto por minhas advogadas, Noemia Boianovsky e Carolina Brulher, assim que tomamos conhecimento da postagem de ódio que ela havia feito, na qual ela incitava a minha execução, usando uma linguagem extremamente violenta e ofensiva. Eu nunca havia ouvido falar nessa mulher, até o dia em que ela caluniou Marielle, poucos dias depois de sua e execução. Fiquei chocado, porque ela é desembargadora federal. Aí começaram a aparecer mais posts de ódio feitos por ela, cada um mais aterrorizante que o anterior. Esse em que ela reproduz calúnias contra a Marielle, um outro em que humilhava uma professora com Síndrome de Down esse que defendia o meu fuzilamento. Isso foi em março de 2018.
Alem desta desembargadora, existem outros nomes os quais você já processou e aguarda respostas judiciais?
Sim, existem outros nomes, claro. Eu fui e sou uma das pessoas públicas mais atingidas por fake news em toda história. E não sou em quem diz. Está nas teses acadêmicas, nas matérias de jornais e revistas, nas sentenças favoráveis a mim que a Justiça brasileira tem produzido.Tentam sistematicamente desconstruir minha imagem pública. Algumas dessas fake news são gravíssimas, afetaram fortemente a mim e minha família, então é necessário selecionar as que causam mais prejuízo, tanto político quanto emocional. Não é tarefa fácil, porque tenho que separar os caluniadores em dois grupos: os que divulgam mentiras porque são ignorantes motivados ou homofóbicos e aqueles que querem deliberadamente brigar comigo pra ganhar fama.A maioria das pessoas não conhece a amplitude das difamações, mas tenho vitórias judiciais contra deputados federais, juízes, padre, pastor, general, youtubers e até contra o presidente da República.
Jean, você comemora este primeiro passo ou o ato desta desembargadora é um grão no enorme deserto de ameaças que lhe causaram o exílio?
As duas coisas. É claro que comemoro – embora essa palavra não seja a mais adequada. Melhor seria dizer que sinto alívio porque agora pode ser que a Justiça seja feita.De todas as ofensas que já sofri na vida, e olhe que não foram poucas, essas palavras da desembargadora foram as que mais me chocaram. Imagine uma pessoa dizer que defende sua ida para um paredão profilático. Profilático!!! Como se você fosse uma doença. Em seguida essa pessoa – uma desembargadora, uma agente pública, alguém com responsabilidade de julgar ações que afetam a vida de todos nós – complementa dizendo que você “não vale a bala que o mate nem o pano que limpará a lambança”. Olha, imagine isso sendo dito a seu respeito e a sua mãe, seus irmãos, lendo uma coisa dessa. Tenho amigos e amigas que choraram dias depois de tomarem conhecimento disso. Minhas advogadas nunca haviam se deparado com uma situação que houvesse me abalado tanto. A mim e aos que me amam. E essa senhora, que provou ser uma pessoa totalmente desprovida de qualquer resquício de humanidade, ainda foi aos jornais dizer que “foi brincadeira”. Portanto, respondendo a sua pergunta, as duas coisas. Estou aliviado porque agora ela é ré; mas também reconheço que isso é uma parcela pequena diante de todas as razões que me levaram ao exílio. Essa senhora, pobre de espírito e hoje tão apequenada, será lembrada apenas pelas barbaridades que disse na vida, por seu preconceito latente, e pela cafonice de suas opiniões.