Por André Junior
Prestes a estrear na dramaturgia da Rede Globo, a atriz Glamour Garcia, estará em Dona do Pedaço, nova novela das 21h. Na trama do autor Walcyr Carrasco, a atriz será um travesti. Mas, se engana quem pensa que essa será sua primeira aventura na televisão. A princípio, a atriz que é formada em artes cênicas pela Universidade Estadual de Londrina, ficou conhecida por seu trabalho na série Rua Augusta do TNT. Em conversa com o Observatório G, a triz discute a importância da representatividade trans na mídia e os desafios de atuação para A Dona do Pedaço. Confira:
Glamour, quando é que você emergiu nas artes cênicas?
“Emergir mesmo eu acredito que aos 20 anos de idade, quando já em São Paulo eu tive contato com a dança contemporânea e o teatro. Em meados de 2010. Eu participei de muitas peças de dança, por exemplo. Eu digo isso de forma nacional, quando comecei a rodar o pais com isso. Mas eu sempre estive ligada às artes, eu tinha 13 anos e já dirigia e atuava. Meu amor e vontade de realizar começaram muito cedo; faz quase 16 anos.”
Já fez novela antes?
“Não, será a minha estreia mesmo. Nesse formato nunca fiz antes.”
Você já esteve em Rua Augusta, série da TNT e estreará na rede aberta em A Dona do Pedaço da Rede Globo. Existe alguma semelhança entre as suas personagens?
“Não existe muitas semelhanças, não. Eu acredito que são semelhanças no contexto social, ambas são transexuais, representam a comunidade e dão visibilidade à cidadania trans. O que eles tem em proximidade é o espaço social — o local de trabalho. Babel e Britney são bastante diferentes.”
A transgressão completa não seria de fato o momento em que a maioria lhe enxergar como uma mulher hétero e não usar “atriz trans” em manchetes? Isso lhe incomoda?
“Eu acho que esta palavra já está batida. Para mim, a palavra transgressão pra nossa comunidade é muito maior. Ela envolve toda a ‘polêmica positiva’ que nós representamos, a nossa arte, o nosso trabalho, as nossas conquistas. Eu acredito que a transgressão é um espaço de discussão na sociedade também. Existe uma fantasia muito grande de que as mulheres trans não precisam sonhar, ou ter orgulho do que nós somos, sabe. Nós estamos sempre tendo que nos encaixar em algum lugar. Toda mulher trans quer se sentir plena e contemplada em suas vidas sociais. Mas eu ao menos, me sinto muito orgulhosa como uma mulher transexual e não tenho vaidades para esquecer tudo aquilo que eu passei e toda a minha trajetória. Ser uma mulher trans é incrível! Só quem é trans sabe o quanto é maravilhosa esta experiência de descobertas e aceitação.”
Você já interpretou papéis cis?
“Sim, já fiz papeis cis. Eu acho que a atuação é uma arte imensa e ampla, a arte não está ligada à gêneros. Mas quando nós falamos do audiovisual – a TV e cinema, eu acredito que a representatividade é algo muito importante porque é neles que nós criamos ‘modas’.”
Pessoas trans são enquadradas em papéis onde a transexualidade e homossexualidade são abordadas até então. Qual será o enredo de sua personagem?
“O enredo da minha personagem é bem interessante. No enredo inicial aborda uma jovem que acaba de completar a faculdade, e está iniciando a vida no mercado de trabalho. Ela é uma pessoa que passa por muitas dificuldades mas sabe que nasceu para arrasar!
O que você já pode nos contar sobre a sua personagem?
“Olha, contar muita coisa eu não posso falar. Mas a Britney vive em uma família que invadiu uma casa quando ela era criança, e é neste momento onde eles conhecem a família de Maria da Paz. Britney sai da cidade para estudar e anos depois volta para trabalhar e o enredo se desenvolve. Britney é uma menina muita fofa.”
Glamour Garcia é uma atriz que sonha em utilizar da arte para transmitir qual mensagem?
“Eu, como artista, gostaria de transmitir a mensagem de que a cidadania é um ponto crucial na vida de qualquer cidadão. E como uma mulher trans, gostaria de falar que a nossa cidadania é violentada todos os dias, desde os nossos direitos até a violência física de fato. Eu deixo o meu beijo e amor para todos os meninos e meninas trans deste pais e espero que o meu trabalho possa orgulha-los e representá-los.”