De André Leite Suzano
Erika Hilton, co-deputada da Bancada Ativista (PSOL-SP), fora a protagonista da primeira audiência LGBT de seu mandato na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), na última quinta-feira (27). Além dos demais integrantes de seu mandato, estavam presentes na cerimônia a deputada federal Sâmia Bonfim e representantes da OAB. No evento, os convidados apresentaram suas vivências e também ideias de políticas públicas para a comunidade LGBT+ do país.
Durante o evento Erika criticou com veemência o atual prefeito de São Paulo, por encerrar o Centro de Referência da Diversidades (CRD), projeto municipal que atendia cerca de 1.200 LGBTs na cidade. A co-deputada estadual ainda reforçou que o Centro oferece acolhimento, escuta especializada e oficinas de geração de renda para travestis e transexuais, pessoas que vivem com HIV/Aids e vivem em estados críticos de vulnerabilidade. Em entrevista ao Observatório G, Erika fala sobre isso e muito mais. Confira:
Erika, aos 14 anos você foi expulsa de casa, viveu na rua e teve a prostituição como primeiro emprego. Como foi isso pra você? De que forma você encontrou uma saída?
“O processo de expulsão escolar e familiar está muito atrelado à comunidade trans, então infelizmente esse fato não afeta apenas a mim. Existem muitos e muitas como eu que sofreram deste mal. Com certeza, esse processo é e foi muito doloroso mas hoje eu tenho um relacionamento incrível com a minha família. Minha mãe, por exemplo, ela é a melhor pessoa da minha vida. A prostituição foi uma fase da minha vida da qual eu me orgulho muito, isso ajudou a criar o meu caráter e me fez enxergar o mundo com outros olhos. A forma que eu encaro a vida hoje fora alcançada graças à minha primeira profissão. Eu fico triste e acho vergonhoso que nós encaremos a prostituição como algo sujo, esse trabalho deveria ser respeitado como qualquer outro, para que os profissionais não sofram o tanto que sofrem hoje e essa é uma das pautas que me guiam como ativista até hoje.”
Como e quando você mergulhou no ativismo de fato?
“Em Itu eu decidi usar o meu nome social no passe escolar e esse direito me foi negado, então eu comecei a ler, pesquisar sobre a causa, conversei com militantes e pela internet li inúmeros textos de direitos humanos. Com toda essa informação, eu entendi que deveria mobilizar um número maior de pessoas para que o meu problema fosse escutado. Eu criei uma petição online, alcancei mais de 70 mil assinaturas e então eu consegui o que me era garantido por direito. Foi exatamente neste momento o qual eu percebi que seria necessário que corpos como o meu se posicionassem, dessem a cara à tapa para que deixássemos de ser invisíveis.”
E como é que uma petição online te levou à uma candidatura?
“Primeiramente eu me filiei ao PSOL. Isso teve uma grande repercussão na mídia e então eu alcancei um certo protagonismo dentro do ativismo. Eu concorri a uma vaga como vereadora em Itu, não consegui entrar, mas conheci Mônica Seixas. O Partido desenvolvia uma Bancada, um mandato coletivo e eu aceitei o convite. Depois de me formar em Pedagogia na UFSCAR, vim para São Paulo a convite da Bancada Ativista.”
A Mônica Seixas sempre foi a responsável por este mandato coletivo?
“Não, a Bancada já existia antes de nós co-deputados. Todos fomos convidados para estar aqui agora, isso fora um processo criativo do PSOL que desenvolveu junto a outros nomes esta formação.”
Como funciona o seu mandato, você é a responsável pelas pautas LGBT, apenas, ou os co-deputados atuam de forma ampla?
Existe um conselho político que debate todos os assuntos. É claro que existe, sim, um demarcador identitário em todas nós, mas a gente senta e elabora propostas juntos, não é algo extremamente taxativo. Não existe essa regra, por exemplo: ‘Erika trabalhará apenas pela comunidade LGBT, o outro pelas mulheres, outro deputado falará sobre meio ambiente’, entende? Nós trabalhamos juntos e dividimos pautas de acordo com a bagagem e acúmulo político de cada um. Cada membro da Bancada tem a sua militância, mas dialogo pluralmente!”
Até então, quais foram os seus discursos e propostas apresentadas?
“No momento, todas as propostas são voltadas para a comunidade LGBT, tendo em vista o ambiente o qual nós estamos vivendo agora. Nós estamos vivendo em uma era onde o governo é explicitamente homofóbico e retrógrado. Quem governa hoje viola os nossos direitos, mas eu não estarei engessada para tratar da comunidade a qual eu faço parte, apenas.”
Bruno Covas, o atual prefeito da cidade de São Paulo extinguiu o CRD (Centro de Referência da Diversidade). O motivo alegado é o de que a Secretaria Municipal de Direitos Humanos já exerce esta função e atende de forma igual os socorridos pelo Centro. O que de fato é verdade, e o que isto acarretará para a comunidade LGBT+?
“Na verdade isso é mais uma ação deste governo nefasto de destruição em São Paulo. Nós temos vários centros na cidade, mas o CRD atende os piores quadros de vulnerabilidade possíveis na cidade. O Centro de Referência cuida daqueles que estão na rua, e o fechamento dele será uma tragédia para pessoas que necessitam de ajuda. Esse motivo é uma desculpa para que eles possam continuar fazendo que fazem de melhor, ou seja, acabar com direitos.”
O CRD era mantido por verba municipal e não federal, portando a decisão foi de Bruno Covas. Correto?
“Exato, a decisão é do prefeito de São Paulo e de seus secretários.”