Com uma longa carreira na TV, no teatro e no cinema, Marco Nanini encontrou em Greta uma forma de expor os desejos, as aflições e o envelhecimento de um excluído: Pedro tem 70 anos, é gay, solitário, trabalha como enfermeiro num hospital público de Fortaleza e é amigo de uma cantora transexual, Daniela, que está à beira da morte.
Sob a direção e o roteiro de Armando Praça, Pedro precisa liberar uma vaga no hospital onde trabalha para Daniela. Para tanto ele decide ajudar Jean, Démick Lopes, um jovem que acaba de ser hospitalizado após ter cometido um crime. Pedro o ajuda a fugir e o esconde em sua própria casa até que eles seniciam um romance.
O texto já foi apresentado no teatro nos anos 90, Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá, sob o olhar de Fernando Melo e Wolf Maya com Raul Cortez, Eduardo Moscovis e Elizângela, mas em tom de comédia, dessa vez, Armando, adaptou a obra para as telonas tendo o drama como pano de fundo com destaque para os conflitos que giram em torno de personagens da vida real que buscam o amor, o sexo, a cumplicidade na terceira idade.
Rodado em 2017, o longa, que estreia dia 10/10, traz um Nanini entregue por completo à arte: cenas de sexo, nu frontal, beija outro ator, emociona, reflete sobre sexualidade, solidão, companheirismo, lealdade e empatia com um toque de arte até nos fetiches. Na hora do sexo, Pedro gosta de ser chamado de Greta Garbo, estrela do cinema americano nos 20 e 30, que recebeu quatro indicações ao Oscar, mas abandonou a carreira no auge.
Além do cotidiano no hospital e na casa de Pedro, a película ousa ao mostrar o profissional numa sauna com outros homens, a casa de Daniela, que serve de ponto de encontro de garotos de programa. Os conflitos de Pedro encantaram Marco. Ao Observatório G, o ator falou sobre temas centrais da obra que estreou mundialmente em setembro na Mostra Panorama do Festival de Berlim de 2019. Vale lembrar que Marco é casado há 31 anos com o produtor Fernando Libonati. A relação está registrada como união estável. E no combinado é “abertíssima”, como disse o ator ao jornal O Globo.
Confira!
Pedro, 70 anos, enfermeiro, gay, um excluído:
“Gostei demais do personagem, tem uma visão LGBTQ+, ele é um excluído, um homossexual aos 71 anos, um personagem difícil de encontrar nos roteiros. Felicidade maior é saber que esse filme não houve censura ou pressão em cima dele. Daqui pra frente vamos fazer filmes censurados. Isso castra a criação, entristece os artistas, mas é essa é a pena que teremos que cumprir”.
Escolha de papéis, cenas de sexo e nu frontal:
“Sempre procurei inovar de acordo com as propostas que eu recebi. Eu li aquelas cenas todas. Por que não? Eu já tinha o desejo de mostrar o meu envelhecimento aos telespectadores, porque eles me acompanham há muito tempo, nada mais justo. Mas eu tenho que fazer isso num filme muito bem embasado”.
Na TV aberta não, TV fechada talvez, no cinema sim:
“Na TV não cabe muito, o público não entenderia um nu frontal. Nunca tive pudor em me mostrar desde que o roteiro fosse sério. Em geral a gente vê nus parciais de galãs, o que não é meu caso. Aqui [filme] é com dramaticidade. As cenas de sexo têm profundidade, a tristeza do sexo ser tão difícil, com muitas camadas. Acho difícil uma TV super popular exibir esse filme, talvez um canal fechado”.
Reflexões sobre envelhecimento em frente às câmeras:
“Essa reflexão eu tive a vida inteira. Como vai ser a vida daqui pra frente?. E as coisas vão acontecendo tal e qual…”
Trailer: