Inspirado livremente nas obras “Ética Bixa” (publicada no Brasil pela n-1 Edições), de Paco Vidarte, psicanalista espanhol e ativista LGBTI, e no filme “Não é o homossexual que é perverso, mas a sociedade em que ele vive”, dirigido nos anos 19700 pelo cineasta Rosa von Praunheim, o encontro intitulado “Ética Bicha” vai acontecer nos dias 12 e 13 de março, no Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, na Estação República do Metrô. Entrada gratuita.
Com curadoria e mediação do filósofo Ali Prando, o ‘talk’ vai reunir profissionais da comunicação e das artes para reflexões sobre temas como corpo, teoria queer, envelhecimento e a cooptação da comunidade gay pelos valores burgueses, além de, sobretudo, iluminar sobre para onde estamos indo em termos de militância LGBTI.
“Criar estratégias, pensando sobre o que afeta minorias como pessoas negras, mulheres, pessoas LGBTI, indígenas e trabalhadores sexuais, é fundamental neste momento para enfrentarmos o estado de necropolítica que aparece em nosso horizonte. A obra de Paco se faz necessária justamente por não fazer qualquer tipo de concessão com poderes hegemônicos”, comenta Ali, idealizador e mediador dos encontros.
Dividido em dois encontros, “Ética Bicha” tem como foco os homens homossexuais, parcela da comunidade LGBTI amplamente privilegiada historicamente, mas que deve se organizar em busca de novas perspectivas sociais. Participam das conversas Marcio Rolim (Observatório G), Ronaldo Serruya (Teatro Kunyn), Ademir Correa (GQ Brasil) e Neuber Fischer (Observatório G).
Teorizando sem amarras acadêmicas, Paco Vidarte escreveu seu livro três semanas antes de falecer em decorrência do HIV/AIDS, que, segundo o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya, funciona hoje em dia como uma tecnologia de opressão de corpos dissidentes. “O HIV/AIDS é hoje, mais do que nunca, a doença do outro, uma espécie de ferida psicossocial cultivada no medo, na ignorância e na negação”, diz Ronaldo.
Se hoje em dia as redes sociais criam uma cortina de fumaça, uma espécie de ilusão de que ser gay é como viver num filme, o longa-metragem de Rosa von Praunheim já nos anos 1970 criticava essa visão e convidava os homens gays para uma militância mais próxima do movimento negro e feminista, produzindo críticas ferozes sobre o que significa ser LGBT no contemporâneo.
“O sentimento de pertencimento não nasce com a bicha. Não se espelha em exemplos. Não é uma inspiração. A bicha não pertence a nada e nada pertence a ela, porque tudo nos é suprimido desde sempre. As conquistas são temporais, lentas, violentas e, sobretudo, efêmeras. A obra de Paco Vidarte descreve essa visão de não-pertencimento a partir de uma ótica pessoal tão tocante, que nos faz acreditar que será possível pertencer em algum momento de nossas vidas”, comenta Marcio Rolim.
Serviço
Ética Bicha
12 e 14 de março, das 19h às 21h
Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, Estação República do Metrô
Atividade gratuita, sem necessidade de inscrição prévia
Classificação indicativa: 18 anos