Na coluna de hoje, traremos uma entrevista exclusiva feita nesta semana com o antológico cantor Edy Star, o primeiro a se assumir gay no Brasil. Ele foi o primeiro homenageado desta série de colunas sobre música popular brasileira e agora temos a honra de tê-lo conosco falando de si mesmo e de páginas muito importantes da história da música popular brasileira.
Edy nos contou, com o seu delicioso humor cáustico, sobre sua história, seus projetos e sobre a recém-lançada biografia “Eu Só Fiz Viver- A História Oral Desavergonhada de Edy Star” de autoria do historiador Ricardo Santhiago.
A entrevista pode ser lida integralmente na sequência:
Observatório G: Você poderia nos contar um pouco sobre a sua passagem pelo programa “Hora da Criança”? Que repertório você cantava nele? Como conheceu as irmãs do Quarteto em Cy nesse período?
Edy Star: A “Hora da Criança” pelo Rádio, pela Rádio Sociedade da Bahia, foi um programa feito para crianças, pelo professor Adroaldo Ribeiro Costa e ocorria todos os domingos às 10 horas da manhã. Eu ouvia pelo rádio e queria cantar, queria participar e meu pai me levou aos estúdios, que ainda eram naquele Bairro do Comércio, em Salvador. Não tinha auditório, era tudo num estúdio e eu fiquei encantado, pois eram as crianças cantando ali. Tanto fiz que meu pai me levou então para ver como é que eu poderia entrar na “Hora da Criança”, então eu também fui aceito. Tinha um elenco naquela época de umas 50 ou 60 crianças e isso ocorreu nos anos de 1948 e 1949. Eu tinha 11 anos apenas. Depois de um tempo, os estúdios passaram para a rua Carlos Gomes. O estúdio passou a ser num casarão bonito e os diários associados passaram a conhecer esse casarão. No casarão já tinha um auditório e o programa já era feito no auditório, sempre dirigido pelo visionário professor Adroaldo Ribeiro Costa, tendo ao piano o acompanhamento do maestro Agenor Gomes. Lá eu cantei músicas de Ivon Curi, cantava as músicas que eu gostava e que se podia cantar, porque não se cantava aquelas músicas apaixonadas, de amores…Adroaldo evitava isso. Havia as sessões de ciranda, de cultura para criança, era um programa para crianças feito por crianças. Participei das montagens, pois tinham montagens teatrais também. A primeira montagem de Simbad(o marujo)aconteceu no programa. Outra baseada no livro de Monteiro Lobato “A menina do nariz arrebitado”. Eu me lembro que em 1947, no Teatro Guarany, no centro de Salvador, o Monteiro Lobato esteve presente na plateia na apresentação dessa montagem. Tem fotografias do Monteiro Lobato presente. Depois, também, a famosa família Penteado, fretou um avião e trouxe centenas de pessoas para assistir ao espetáculo em Salvador. Eu participei da segunda montagem de “Narizinho”, que deve ter seus 50 ou 51 anos e aconteceu no Teatro do Instituto Normal da Bahia. Depois participei de outra chamada “Monetinho”, que era uma história de Adroaldo Ribeiro Costa e nela eu fazia o papel do Conselheiro Bonifácio, pois haviam os personagens do Conselheiro Malefício e do Conselheiro Bonifácio, tenho as fotos até hoje. Em “Narizinho” eu fiz o papel do Major Agarra e Não Larga Mais que era um sapo, então meu apelido ficou sendo Sapo na “Hora da Criança”. Tive grandes amigos, inclusive as meninas que depois formariam o Quarteto em Cy. Naquele tempo só cantavam Cyva e Cybele, em dupla, depois se separaram e anos depois, já com o Vinícius de Moraes, elas se transformaram em Quarteto em Cy, as quatro irmãs, todas com nomes começando com Cy. Eram Cyva, Cybele, Cynara e Cylene. Frequentei muito a casa delas na Cidade Baixa. Com Cyva e Cybele, tomamos parte também da montagem de “Monetinho”. Depois teve uma outra montagem, também dirigida e criada por Adroaldo Ribeiro Costa, que foi “Enquanto Nós Cantarmos”. Era uma revista teatral infanto-juvenil. As crianças da “Hora da Criança”, quando completavam 14 anos, tinham que sair, porque já não eram mais crianças. Fazia-se uma despedida, meio chorosa, com a música de despedida e tudo o mais. A partir dos 14 anos éramos colocados “de lado”, mas, quem quisesse, poderia continuar como um assistente e dando apoio às demais atividades do programa pra ajudar outras crianças, viu? As montagens apenas eram uma parte infanto-juvenil da “Hora da Criança”.Quero deixar registrado que foi uma coisa maravilhosa pra mim, inclusive de iniciação musical e que eu guardo com muito carinho pelos grandes amigos que fiz lá e pelo amor que eu tinha por tudo aquilo. Sou agradecido, a “Hora da Criança”, pra mim, foi uma coisa maravilhosa! Foi minha iniciação musical…
Observatório G: Qual é a importância do circo e das artes circenses na sua formação artística?
Edy Star: O circo sempre foi um grande encantamento para mim, encantamento para qualquer criança do meu tempo. Tanto os circos de bairro quanto os circos grandes. Já vi o Grande Circo Melino, Circo Pan Americano e outros que ficavam em terrenos de bairro, que eram os circos de bairro. Foi importantíssimo não só na minha formação artística, porque eu sempre fui fascinado por eles e, depois que fui trabalhar no circo, me dava muito bem com os outros artistas circenses, a quem eu tenho um grande respeito. Porém eu também trouxe esse universo para a minha pintura. Eu sempre continuei, mesmo depois de ter saído do trabalho circense, pintando clowns, palhaços, artistas circenses, trapezistas…até hoje eu ainda pinto o circo, sabe? Já fiz uma exposição só sobre circo na Bahia, na Galeria Bazarte e no Rio de Janeiro, na Galeria Vernon, que ficava ali em Copacabana. Eu continuo pintando o circo, mas não com aquela alegria…eu pinto mais a vida do circo lá de dentro, especialmente o circo nordestino. Tem que ter os elementos de tipo nordestino pra mostrar que é nordestino e uma certa pobreza, não é um circo americano ou um circo europeu, tem que ter uma atmosfera brasileira de simplicidade.
Observatório G: Você viveu a efervescência cultural da Bahia nos anos 60. Como o cenário das artes na Bahia desse período influenciou seu trabalho? Edy Star: Foi importante porque nos anos 60 estávamos já sob a ditadura e, na Bahia, instaurou-se a Escola de Teatro da Bahia e a maioria dos meus amigos eram artistas e se inscreveram na Escola de Teatro da Bahia. Eu não me inscrevi porque eu não tinha formação, acho que o ginasial era pré-requisito, tinha que ter um grau de cultura que eu não havia alcançado à época. Mesmo assim foi importante, pois todos os meus amigos foram artistas dali e a efervescência do cenário das artes e da música também floresceu na Bahia nos anos 60. O grupo Nós Por Exemplo, do Teatro Vila Velha, era composto por muitos artistas que eram da Rádio Sociedade da Bahia. Também a Rádio Excelsior da Bahia começou a fazer programas de auditório, então tudo isso influenciou meu trabalho. Todas as coisas que eu conheci, que eu vi e que eu admirei, tudo isso influenciou meu trabalho. Meu trabalho é influenciado pela minha juventude, pela minha infância, pelas coisas que eu vi e que passei.
Observatório G: É verdade que o Cazuza teve um papel importante na decisão do João Araújo de gravar o “Sweet Edy” na Som Livre? Como aconteceu o convite pra gravar o disco?
Edy Star: O Cazuza foi imporante porque o João Araújo, o meu produtor, produtor do primeiro disco “Sweet Edy” era pai do Cazuza. Eu conheci o Cazuza no estúdio da Som Livre e o João naquele período disse a mim: “Dá uns conselhos pra ele, fala ali com o Cazuza…”Parecia que à época ele era um garoto de 13 ou 14 anos, um garoto de cabelo encaracoladinho que não fazia música ainda. Ele era um garoto, o João achava que eu, essa bicha maluca, ia dar conselhos a Cazuza? Deus que me livre! Eu me aproximei pouco, mas depois o João foi mostrando a Cazuza meu trabalho e o Cazuza expressava verbalmente “tem que gravar, tem que gravar…” Eu ouvi ele dizendo isso e gravei meu trabalho. Depois fui amigo do Cazuza, sempre o admirei muito.O convite para eu gravar ocorreu porque eu fazia show na boate Number One, que era a segunda boate mais famosa do Rio de Janeiro e o João foi me assistir e achou que eu deveria gravar um disco. Então fomos juntar músicas, fazer músicas, eu escolhi repertório e ele me deu uns pitacos também. Gravamos o disco “Sweet Edy”. Deste disco eu fiz toda a parte gráfica, a capa, a contracapa e o encarte, que depois depois foi utilizado como convite para o lançamento do disco. Inclusive, o lançamento do disco não foi na boate em que eu trabalhava, não. Eu lancei o disco na Boate Cowboy, na Praça Mauá, nos bordeis em que eu trabalhava. Em suma, esse convite partiu de João Araújo. Ele conseguiu o Guto Graça Melo, que era o maestro que fazia os arranjos e vinhetas da TV Globo, para fazer a parte musical do disco. Foi assim que nasceu o “Sweet Edy”.
Observatório G: Ainda sobre o “Sweet Edy”…o Roberto e o Erasmo Carlos se inspiraram nas suas performances pra compor a canção “Claustrofobia”? Você fez alguma modificação nela pra gravar?
Edy Star: Olha, eu posso dizer que o Erasmo Carlos se inspirou. Existem músicas de Roberto & Erasmo que algumas não são do Erasmo, outras não são do Roberto. Eles tinham um contrato, não sei que diabos eles tinham em sociedade que, quando se colocava a música no nome de um, colocava o nome do outro também. O Roberto Carlos nunca me viu, quem me viu foi Erasmo Carlos, que ia muito à boate em que eu trabalhava para assistir às minhas performances com a Narinha, esposa dele. Foi ele que fez “Claustrofobia”. Inclusive eu brincava muito dizendo que queria ver ele um dia cantando “Claustrofobia” e dando aquele gritinho “aaaaiiii” que eu faço na minha interpretação. O que eu posso dizer é que foi Erasmo Carlos que se inspirou nas minhas performances e foi pedido a ele uma música pra mim e ele fez “Claustrofobia”. Não acredito que o Roberto Carlos tenha entrado nisso, não. Mas tá tudo bem.
Observatório G: Você poderia nos falar sobre as canções “O conteúdo” do Caetano e “Edyth Cooper” do Gil? Como elas surgiram?
Edy Star: “O conteúdo” eu já tinha ouvido o Caetano cantar e sempre gostei muito da primeira parte que é “Deita numa cama de prego e cria fama de faquir”. Essa música, ele cantou num daqueles shows no Teatro Vila Velha que eu gostei muito e aquilo ficou na minha cabeça e resolvi gravar. Quanto a “Edyth Cooper”, já é baseado nas minhas vivências de amizade com o Gilberto Gil. Ele já conhecia o meu jeito que era completamente despirocado. Já tinha assistido aos shows que eu fazia na Galeria Bazarte, então ele fez a canção levou pra mim. Nessa época em que nos conhecemos, eu trabalhava ainda na Galeria Bazarte e com as lembranças da minha fase baiana na Galeria Bazarte ele compôs “Edyth Cooper”. Eu cheguei pra ele e disse : “Ah, você faz uma música pra mim?”. Assim foi feita e ficou o nome da música “Edyth Cooper”,pois ela também é uma homenagem e uma referência à Alice Cooper, aquele grupo famoso que pintava a cara também. Eu nem tinha me tocado nisso, que eu pintava a cara e Alice Cooper também pintava a cara.
Observatório G: Você compôs “Procissão” junto com o Gil, que chegou a ser gravada por grandes nomes como Luiz Gonzaga…que imagens e sonoridades te levaram a compôr essa canção? Sua cidade, Juazeiro, exerceu alguma influência nessa composição?
Edy Star: Não, Juazeiro não influenciou na composição dessa música, não. Essa música surgiu num dos shows do Vila Velha, o Gil fez um show chamado “Inventário”, que era o último show dele lá no Vila Velha, porque ele estava vindo pra São Paulo. Ele se casaria na na semana seguinte ao show e depois ele viria trabalhar em São Paulo na companhia Gessy e mostrou uma música no palco que ele só tinha a música, não havia a letra. Eu vim pra casa com a música na minha cabeça, fiz a letra e levei ao Gil essa música com a letra no dia do casamento dele, num sábado à tarde no Bairro dos Dendezeiros, o casamento dele foi no Clube dos Oficiais da Polícia Militar e lá eu mostrei a ele. Então ele levou a música com a letra e gravou. Muitas pessoas gravaram, inclusive Luiz Gonzaga, mas meu nome nunca saía nos créditos. Só em 2008 é que eu corri atrás para readquirir o que eu tinha direito a receber dessa canção porque eu estava doente e precisava fazer um tratamento. Inclusive hoje no livro das músicas de Gil consta lá o meu nome creditado como compositor de “Procissão”.
Observatório G: Sobre o álbum “Sociedade da Grã Ordem Kavernista apresenta a Sessão das Dez”, como nasceu a ideia desse álbum e como era sua amizade com o Raul, o Sérgio Sampaio e a Miriam Batucada?
Edy Star: “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, quem deu a ideia foi Sérgio Sampaio e, com Raul Seixas, os dois acharam que poderiam gravar um disco junto comigo. O Raul achou que tinha que ter uma mulher no disco. Era pra ser um quarteto. Foi pensado primeiro em Diana, foi pensado em Lena Rios(uma grande cantora piauiense contemporânea dessa turma), mas ambas estavam comprometidas já com outros projetos, então não entraram. Eu já tinha visto a Miriam Batucada numa boate aqui em Copacabana e falei pra eles, levei a Miriam Batucada lá e fizemos o disco. Essa é a história do “Sessão Das Dez”.
Observatório G: Agora sobre a sua passagem pelo teatro…que referências você usou pra interpretar o Vampiro Frank em “Rock Horror Show”?
Edy Star: A referência que eu usei pro Frank Foda foi a referência que deram pra mim lá na companhia. Quando estávamos ensaiando o “Rock Horror Show”, eu realmente não gostei das ideias do diretor, que era Rubens Correia. Então eu saí. Fui embora para Salvador, passei um carnaval, gastei meu dinheiro todo em gasolina e outras coisinhas. Então, eles estrearam a peça com outro artista no meu lugar e parece que 10 dias depois o ator ficou adoentado e eles não tinham quem o substituísse. Eu estava viajando, quando a minha mãe entrou em contato comigo, orientando que eu voltasse direto ao Rio de Janeiro, pois o Guilherme queria falar comigo e eu vim direto de onde eu estava, estava em Recife, vim direto de fusquinha. Eu estava sem dinheiro e ele enviou o dinheiro pra minha gasolina, de modo que eu cheguei ao Rio de Janeiro. Cheguei à tarde direto para o Teatro da Galeria, onde eles estavam em cartaz e parados porque não tinha quem fizesse o personagem do Vampiro Frank. Haviam 10 músicas, as coreografias e a parte falada para apresentar. Eu voltei ao “Rock Horror Show” com a exigência de que transformassem aquilo num show realmente porque o Guilherme Araújo estava super chateado, uma vez que a peça não funcionava. Ele tinha visto em Londres, tinha visto em Nova York e era uma grande catarse que acontecia na plateia, coisa que não se deu no Rio de Janeiro, apesar da peça ser jocosa. Eu tive que inventar uns cacos, aqueles cacos meio gays e com coisas de televisão para transformar a peça. Deu tão certo que a peça ficou dois meses em cartaz. Depois foram fazer uma temporada em São Paulo, mas eu não participei.
Observatório G: Durante os anos em que você morou na Espanha, o que estava acontecendo lá no cenário cultural e sociopolítico? Você trouxe algumas referências hispânicas para o álbum “Cabaret Star”?
Edy Star: Quando eu cheguei na Espanha estava acabando o regime de Franco, estava acabando aquele regime ditatorial, inclusive, eu conheci várias travestis, aliás, todas, muitas travestis de Espanha não podiam usar o nome de mulher, eram todas com nomes de homem. Era Paco de España, José Rena, pois não podiam usar nome de mulher. Anos depois é que apareceram as travestis mais modernas usando nomes de mulher. Altamira, Geni, Cassandra…já era bem depois daquele outro momento que eu falei primeiro. Mas o cenário político-cultural ainda era o resto da ditadura e se via muitos simpatizantes ainda de Franco. Aquelas senhoras todas muito católicas, porque Franco se dizia muito católico, todas eram realmente muito a favor de Franco, ainda havia o saudosismo do ditador Franco.
Eu acredito que não tenha trazido referências de Espanha pro meu trabalho, não. Você não pode esquecer que eu trabalhei toda a minha vida em cabaret, eu trabalhava nos cabarés da Praça Mauá, da Lapa, entende? Nos de Copacabana também…trabalhei em todos os cabarés do Rio de Janeiro. Então todas as minhas referências sempre foram do universo do cabaré, eu sempre fui cabareteiro. Agora a minha autodescrição de cabareteiro não é porque eu canto músicas de cabaré, não, é porque eu trabalhei em cabaré, querido, tá bom?
Observatório G: Em 1975, numa entrevista à revista Fatos e Fotos, você se tornou o primeiro cantor brasileiro a se assumir gay na imprensa…pode nos contar um pouco sobre o dia dessa entrevista e da repercussão na época?
Edy Star: Em 75 eu estava fazendo o “Rock Horror Show”, com o personagem Frank Foda…então o jornalista da “Fatos e Fotos” me perguntou numa entrevista e eu respondi com a maior naturalidade porque sempre fui gay e nunca escondia, escondia somente nos meus tempos de juventude. Escondia na Bahia porque eu tinha vergonha inclusive de que minha família soubesse que eu era gay. Mas no Rio de Janeiro, querido, eu tava desbandeirado. Eu estava no meio de um monte de artistas e todo mundo era gay. Tinham outros artistas também que todo mundo sabia que eram gays mas nunca assumiram e o mesmo o público todo sabendo. Eu dei a cara a tapa e disse que sou o que eu sou, mas nunca perdi trabalho por caixa disso, nunca fui achincalhado por causa disso e nunca me pegaram pra dar porrada por causa disso. Pelo contrário, consegui muito mais trabalho e fui muito mais respeitado por isso. Até hoje ainda me perguntam se eu sou o primeiro artista a me assumir gay no Brasil…é, eu realmente sou, eu sou.
Observatório G: Como nasceu o projeto do disco “Cabaret Star”? Quais são as peculiaridades dele? Quais são as semelhanças e diferenças entre ele e o “Sweet Edy”?
Edy Star: O “Cabaret Star” nasceu do desejo de fazer um disco novo e eu o batizei de Cabaret Star. Convidei o Zeca Baleiro para dirigir e escolhi algumas músicas, ele escolheu outras. Então fomos fazendo. Eu disse quem eu gostaria que estivesse no disco junto comigo, porque eu achava que meu último disco seria esse, então quis fazer com o nome de “Cabaret Star” porque eu sempre fui cabareteiro, sempre trabalhei em cabaré. O diretor Baleiro aceitou e gravamos o disco. Sou muito satisfeito, é um disco que eu gosto muito…com participação de Caetano Veloso, quer coisa melhor? Tem a voz de Angela Maria, pra mim é um disco antológico. Pra mim, meu retrato é o “Cabaret Star”. Não tem nenhuma semelhança com o “Sweet Edy”, absolutamente…”Sweet Edy” já é um disco mais roqueiro, mais verde, eu estava muito verde e a diferença que separa um do outro é de mais de 40 anos, então não vejo nenhuma semelhança entre um e outro. Acho que existe muita diferença entre um e outro.
Observatório G: O que o público pode esperar do livro “Eu Só Fiz Viver-A história oral desavergonhada de Edy Star”?
Edy Star: No livro “Eu só fiz viver” foi utilizada a minha história real, não tem mentiras, não tem invenções porque a minha vida é tão incrível que eu não preciso inventar nada, querido! Mas agradeço muito ao Ricardo Santhiago, que escreveu o livro, as outras pessoas, amigos dele, que ajudaram nas pesquisas para complementação do livro e é isso…o que que eu posso esperar? Que as pessoas leiam e vejam a vida de um cara que sempre batalhou e sempre foi muito gay, muito desaforado…eu achava que o livro poderia ser um pouquinho mais picante, sabe? Podia ter umas coisas mais escabrosas, porque muita gente pensa que vai ler sobre as minhas aventuras sexuais, sobre quem eu levei pra cama…e o livro não traz nada disso, fica pra uma segunda parte(risos). É um livro legal, um livro que fica como um documento e um documento para a comunidade LGBTQIAPN+. É um documento e dedico a vocês, os gays de hoje.
Observatório G: Você sendo um artista LGBTQIAPN+ percebeu alguns avanços políticos que a comunidade LGBTQIAPN+ conquistou nas últimas décadas?
Edy Star: Eu vejo alguns avanços e muitas marchas à ré também, querido! Os avanços que não vejo como avanço, é que de repente virou moda ser gay. Mas eu vejo dentro da pŕopria comunidade gay muita briga, muita inveja…muito despeito. A comunidade não é tão unida como deveria ser. Eu estou aqui agora num conclave que debate os principais assuntos LGBTQIAPN+ no teatro, na literatura, fala sobre os avanços políticos. Ainda existe muito preconceito contra gay dos próprios gays. Ainda tem muito preconceito de gay contra gay. Não digo em relação a questões etárias e de classe social. Conquistamos muita coisa, é fato, mas eu continuo do meu lado tentando sobreviver. Eu sou um elefante cor-de-rosa passeando na Avenida Paulista.