MÚSICA

"Mulheres, em geral, estão sempre se posicionando e lutando”, declara Simone, ícone LGBTQIAPN+ da música brasileira, em entrevista exclusiva

A cantora Simone.
A cantora Simone.

Simone, uma das maiores estrelas da música popular brasileira, nos concedeu com exclusividade uma entrevista imperdível na qual ela fala sobre alguns dos momentos mais emblemáticos de sua carreira musical.

Simone Bittencourt de Oliveira é baiana de Salvador, mas adotou o Rio de Janeiro como sua cidade há mais de 40 anos.

Ela sempre esteve imersa num ambiente musical em casa e a primeira canção que aprendeu a tocar no violão foi o clássico “Risque” de Ary Barroso.

Porém, antes de ingressar no universo artístico, Simone foi jogadora de basquete profissional e professora de educação física, tendo sido, inclusive, colega de faculdade do rei Pelé.

Curiosamente, foi o desporto que colocou no seu caminho a pessoa que a introduziria no cenário musical do Brasil. Quando Simone integrava o time de basquete São Caetano Esporte Clube, costumava mostrar seus dotes musicais às colegas de equipe tocando violão nos ônibus das viagens que o time fazia para participar de campeonatos.

Deste modo, chamou a atenção da sua colega Delcy(um dos grandes nomes do basquete feminino brasileiro) que a apresentou à professora Elodir Barontini, de quem Simone também se tornou aluna e grande amiga.

Elodir, por sua vez, apresentou Simone ao gerente de marketing da Odeon, Moacir Machado, que a convidou imediatamente para fazer um teste na gravadora.

Depois de conseguir êxito neste teste, Simone assinou um contrato de quatro anos com a Odeon, tendo gravado seu primeiro LP no final de 1972 e o lançado no dia 20 de março de 1973, considerado, em virtude disso, o marco inicial de sua carreira.

Também na década de 1970, Simone lançou os antológicos álbuns: “Gota D’Água” de 1975, “Face a Face” de 1977, “Cigarra” de 1978 e “Pedaços” de 1979.

Em 1980, a gravação de Simone da canção “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores” de Geraldo Vandré ganhou uma excelente repercussão. Ela foi a primeira cantora a gravar a canção depois que a mesma foi liberada pela censura federal.

Ainda dos anos 1980 é válido destacar o álbum “Delírios, Delícias”, gravado pela CBS, no qual se encontram as fabulosas canções “Depois das Dez” de Tunai e Sérgio Natureza, “Liberdade” de Djavan, “Mulher da Vida” de Milton Nascimento e Fernando Brant e o samba-enredo “O Amanhã” de João Sérgio, que se popularizou na voz de Simone.

Na década de 1990, um álbum que se sobressaiu foi o belíssimo “Café Com Leite” no qual Simone interpreta composições do magistral Martinho da Vila.

Nos anos 2000, Simone nos presenteou com álbuns antológicos.

Em 2000, a composição “Lenha” de Zeca Baleiro se tornou um hit graças à gravação de Simone, que projetou o nome do compositor maranhense nacionalmente.

No álbum “Baiana da Gema” de 2004, Simone interpretou apenas canções do fantástico Ivan Lins.

Em 2008 foi registrado em CD o formidável show “Amigo é Casa” de Simone com Zélia Duncan gravado no Auditório Ibirapuera.

Já o álbum de 2009 “Na Veia” trouxe uma grata surpresa.

A novidade foi a canção “Vale a Pena Tentar”, uma das raras composições da própria Simone, esta, em parceria com o genial Hermínio Bello de Carvalho.

O álbum “É Melhor Ser” de 2013, ano em que Simone comemorou 40 anos de carreira discográfica, também trouxe duas composições de Simone: “A Propósito”, em parceria com Fernanda Montenegro e, “Só Se For”, em parceria com Zélia Duncan.

O mais recente álbum de Simone é o irretocável “Da Gente”, lançado em 2022 pela Biscoito Fino. O álbum conta com a direção artística de Zélia Duncan e a direção musical de Juliano Holanda, que também é o compositor da primeira música de trabalho “Haja Terapia”, cuja letra trata dos dilemas vividos pelos brasileiros durante o período da pandemia de covid-19. Juliano também compôs, em parceria com a própria Simone, a canção “Boca Em Brasa”, que está presente no álbum.

Para nos debruçarmos com mais propriedade sobre a obra de Simone, Observatório G traz na sequência uma entrevista pingue-pongue que a cantora nos concedeu de maneira muito gentil, mesmo com toda a correria da turnê “Tô Voltando”, que celebra os seus 50 anos de carreira. A entrevista pode ser lida na sequência.

Observatório G: O fato de o seu pai cantar ópera, sua mãe tocar piano e violão e o seu irmão tocar violino, enfim, o fato de a sua família ser tão musical, influenciou muito a sua musicalidade? Você pode contar um pouco como era a presença da música na sua casa?

Simone: Era uma casa muito musical, fui exposta a muitos tipos de música desde jovem. Sim, meu pai cantava muito bem, amava ópera, além de artistas brasileiros e internacionais. Sempre foi uma casa diversa.

Observatório G: Como aconteceu a gravação da canção “Cigarra” do Milton Nascimento e do Ronaldo Bastos? Você se lembra de quando se deparou com essa canção pela primeira vez? E, hoje, ao escutá-la, o que sente?

Simone: “Cigarra” é um presente dos Deuses, que me sopraram o nome da música, aí eu liguei pro Bituca e contei o que aconteceu, imagine, eu ouvi uma voz dizendo: “Cigarra, Cigarra”. Ele e Ronaldo Bastos fizeram esta música. Amo! Amo a beleza da música, a mensagem é maravilhosa.

Observatório G: Você foi a cantora que mais gravou as canções da grande compositora Sueli Costa. Como era a amizade de vocês duas e como você enxerga o trabalho dela dentro da história da música popular brasileira?

Simone: É um privilégio! A Sueli é tão importante na minha vida… Eu guardo as melhores memórias. Ela estava grávida quando fizemos o Projeto Pixinguinha, lembro muito. Tenho a Sueli na minha alma. Uma compositora maravilhosa.

Observatório G: Você é uma das cantoras da MPB que mais gravou compositoras e, no seu último álbum, “Da Gente” há composições de quatro grandes compositoras nordestinas como Cátia de França, Socorro Lira, Karina Buhr e Isabela Moraes. O que você acha do trabalho das compositoras que gravou nesse álbum e o que você quis apresentar ao público com esse álbum? Qual é a ideia ou quais são as ideias centrais dele?

Simone: No “Da Gente”, trabalhei com um pessoal lindo e novo. Então, tem Karina Buhr, Joana Terra, Isabela Moraes, Rogéria Dera, Socorro Lira, Cátia de França, tem Zélia. Uma gente linda! O objetivo foi fazer um projeto em homenagem a esse nordeste maravilhoso, minha terra. E, naturalmente, as mulheres predominaram.

Observatório G: Você sendo mulher e LGBT+ conseguiu enxergar alguns avanços políticos que as mulheres e a comunidade LGBT+ tiveram no Brasil nas últimas décadas?

Simone: Antes, a liberdade era escassa para muitos e ainda mais difícil para as mulheres. Mulheres, em geral, estão sempre abrindo portas, se posicionando e lutando, nada veio fácil, mas a gente sempre anda para frente. Fico muito triste com a falta de humanidade e, isso, nos faz persistir e lutar mais.Tem muito ainda o que fazer.

Simone é uma das artistas que abrilhanta a música brasileira com sua voz deliciosa e com seu bom gosto na escolha de repertório.

Que o trabalho dela continue nos encantando e deixando nossas vidas mais felizes e iluminadas!

Viva, Simone!