O hino LGBTQIAPN+ lançado pela Jovem Guarda no cinema há 55 anos

Os cantores e compositores Wanderléa, Roberto e Erasmo Carlos.
Os cantores e compositores Wanderléa, Roberto e Erasmo Carlos.

Em 1969 era lançada no filme “O Diamante Cor-de-Rosa” uma composição de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que ficou imortalizada na voz de Wanderléa e se tornou um hino dos casais LGBTQIAPN+ do Brasil.

A canção “Você Vai Ser o Meu Escândalo” é considerada uma das maiores sucessos comerciais de Wanderléa e da dupla Roberto e Erasmo enquanto compositores.

A performance de Wanderléa no filme “O Diamante Cor-de-Rosa” entoando a música se converteu no clipe oficial desta faixa.

A letra é bastante emblemática e, a princípio, não está relacionada especificamente a casais LGBTQIAPN+, porém, como ela sugere um grito de revolta contra as convenções e contra a interdição de qualquer romance fora dos padrões estabelecidos pela sociedade e suas tradições ultrapassadas, a comunidade LGBTQIAPN+ do Brasil ressignificou a letra que, a bem da verdade, remete-nos imediatamente à luta dos casais LGBTQIAPN+ contra a restrição aos seus corpos, afetos e a liberdade de amar livremente e constituir família.

Talvez porque letra fale de uma voz abafada, de um amor que não pode ser revelado e um de um mundo que não aceitaria tal relação é que essa canção coube na medida certa nas relações afetivas da comunidade LGBTQIAPN+ que sempre temeu, com muita razão, a lgbtfobia da sociedade brasileira.

O filme “O Diamante Cor-de-Rosa”, dirigido por Roberto Farias, onde a canção foi lançada, é bastante inventivo e, embora siga o script de alguns blockbusters norte-americanos, não deixa de ter um tempero brasileiro que cativa até mesmo os espectadores mais exigentes.

A produção foi gravada no Brasil, no Japão e em Israel. Isso conferiu ao filme uma fotografia rica de elementos culturais dos três continentes em que foi gravado.

Também é importante ressaltar que os três nomes da Jovem Guarda, os primeiros ídolos teen do Brasil, são aliados históricos da causa.

Roberto Carlos sempre foi um dos maiores amigos da atriz e performer trans Rogéria.

Erasmo Carlos teve um romance e compôs uma canção especialmente para a modelo trans Roberta Close.

Wanderléa também é uma apoiadora antiga da causa, sendo uma das intérpretes da primeira compositora lésbica a falar do assunto no Brasil: Dora Lopes. A canção que Wanderléa gravou foi “Picada Na Pulguinha”, parceria de Dora com Gilberto Lima.

A “Ternurinha” também foi influente na carreira de seu grande amigo Luiz Antônio, cantor gay e não-binário que integrou a dupla Les Étoiles. Luiz Antônio contou para Wanderléa que decidiu ser cantor depois de ouvi-la cantando “Dá-Me Felicidade”.

Embora nem todos consigam perceber, a Jovem Guarda foi revolucionária do ponto de vista do comportamento, sobretudo o feminino.

As garotas e os garotos “papo-firme” gradualmente se distanciavam da tradição familiar.

Os músicos do movimento trouxeram de modo tímido o rock ao Brasil sem quebrar de todo os padrões estéticos em voga no país que tinha como gênero favorito o samba-canção.

Talvez isso também explique o êxito comercial da Jovem Guarda.

Ela se comunicou tanto com quem queria inovar quanto com quem não deixaria jamais de seguir a tradição.

Esse híbrido de rebeldia e bom-mocismo, ambos na dose certa, fez do movimento um dos mais bem-sucedidos do Brasil.

Pelo mérito que tiveram de criar uma das canções favoritas da comunidade LGBTQIAPN+ do Brasil e apoiarem, dentro dos seus limites, a causa, celebramos a existência e quebra de paradigmas de representou a Jovem Guarda para a cultura e o comportamento brasileiros!

Viva a Jovem Guarda!