Pensar é bom

Alegria com o gênero é mais saudável que a tristeza

Disforia de gênero e euforia de gênero são duas perspectivas possíveis para também compreender as pessoas trans

Zen balancing pebbles next to a misty lake.
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A atenção médica oficial para as pessoas transvestegêneres é regulamentada por normas do Conselho Federal de Medicina. A última publicada usa o termo “incongruência de gênero”. Segundo o texto existe incongruência de gênero quando o gênero percebido pela pessoa não está de acordo com a genitália que as regras sociais escolheram para aquele gênero.

Toda resolução é aperfeiçoada com o tempo. Resoluções do CFM protegem as pessoas através da atenção profissional cientificamente embasada. O objetivo não é impedir o exercício da medicina, mas colocar limites na má prática, na picaretagem, na exploração econômica que tem objetivo em si mesma.

A citada tem avanços importantes em relação à anterior. Ela ainda tem muito que melhorar, inclusive a partir de alguns conceitos. São 10 anos de distância entre elas. E ambas não usam um termo muito corrente no meio médico como um “diagnóstico” de transvestegeneridade. “Disforia de Gênero”

A tristeza

O uso desta expressão é autorizada pelo “Manual Diagnóstico e Estatístico” da Associação Norte-americana de Psiquiatria, na sua 5ª versão. Ela enfatiza que existe uma angústia entre o gênero percebido pela pessoa e sua genitália. As normas sociais dizem que ela não é compatível com ele.

O uso desta expressão, o seu abrigo em um manual de psiquiatra de alcance internacional, a dependência dela para se iniciar cuidados de saúde associam fortemente a transgeneridade à doença.

Outra questão que torna o termo inadequado é o reforço de uma compreensão de gênero binária, de extremos. Ou se é masculino ou se é feminino.

Existem escalas de intensidade de disforia, que vai do quase nenhuma ao quase absoluta. Isto sugere que o citado desconforto não é o aspecto mais importante da experiência humana de ser transvestegênere. Não é nem mesmo necessário.

A Alegria

Um termo é pouco usado na literatura médica e psicológica. Talvez ele tenha nascido entre a comunidade trans. Alguns pesquisadores têm trabalhado com ele. “Euforia de Gênero”.

Há várias formas de compreender o termo. A alegria especial em perceber a identidade de gênero com as modificações corporais que adéquam socialmente o corpo àquela identidade. Ou não identidade, para as pessoas não-bináries e agêneres.

O termo é muito usado em redes sociais. Há, inclusive, literatura produzida pela própria comunidade. O seu editor a avalia como “documento histórico em que pessoas trans e não-binárias estão ditando nossas próprias histórias como um todo, sujeitos históricos plenos capazes de imensa alegria”.

Cientificamente há muito que trabalhar esta visão. Mas ela deve ser popularizada para que sua construção seja coletiva. A melhor é aquela que nasce da associação entre a comunidade trans e a universidade.

E perceber as pessoas transvestegêneres como “felizes” produz mais saúde que percebê-las “tristes”.

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