O laboratório EMS aumentou um dos seus produtos em 430%!
A testosterona e nosso corpo
Deposteron é uma formulação comercial do hormônio testosterona. Ele é produzido pelos testículos a partir da adolescência, sem interrupção até a morte por velhice. Sua secreção é adaptada com o aumentar da idade. Ou seja, pessoas idosas terão uma concentração no sangue inferior àquela das mais jovens, mas adequada as suas necessidades.
A testosterona enquanto medicamento é necessária para as pessoas que, por alguma razão, deixaram de produzi-la. Uma baixa deste hormônio em pessoas adultas produz piora da qualidade de vida, com redução na expectativa da sua duração. Ela pode ocorrer: por lesão nos testículos ou na glândula hipófise; por deficiência nutricional severa; pelo uso de algumas medicações legais ou drogas ilegais; por doenças sistêmicas (por exemplo, insuficiência renal crônica).
Os sintomas na pessoa adulta vão depender do tempo de deficiência e da velocidade de sua instalação. São comuns baixa de libido, crescimento de mamas, perda de pelos nas axilas e genitália. A testosterona, através da sua transformação em estrógeno, é responsável por uma boa saúde óssea. Sua ausência pode levar a uma maior fragilidade, que significa fratura por traumas leves. Podem acontecer redução da energia para as tarefas cotidianas, baixa motivação, depressão, irritabilidade, memória prejudicada e baixa concentração.
A testosterona é um dos fatores responsáveis pelas células sanguíneas e sua baixa pode conduzir a anemia. A força muscular e o tamanho dos músculos também são reduzidos. O que implica em percepção de fraqueza e redução da capacidade física.
Pessoas transvestêneres também precisam
Os aspectos físicos que, ao simples olhar, colocam as pessoas no grupo masculino ou feminino, dependem também do uso deste hormônio. As pessoas que necessitam da testosterona, sejam cis ou trans, a usam de forma correta. Os riscos à saúde são desprezíveis. Os benefícios, imensos! E não há nenhum sentido afirmar que pessoas transvestegêneres correm mais riscos que as cisgêneres pelo uso desse hormônio.
O Caso absurdo
Há uma diversidade de preços significativa nas farmácias. As formas injetáveis iam de R$15,00 a ampola até R$750,00. A diferença é explicada pelas formas de embalagem, pelo preço do fabricante e pelas políticas de venda das farmácias. Nos últimos dias, a EMS, fabricante da formulação economicamente mais vantajosa, subiu o preço. Cada ampola do Deposteron custava em R$15,00 e R$20,00. O laboratório subiu para R$80,00. 430% de majoração, sem escalonamento, sem justificativa.
Na sua página na internet, nem uma mensagem. No menu “fale conosco”, não é possível fazer reclamação sobre preço. No “08000191914” a pessoa que atende, de forma muito educada, anota o protesto, informa que o absurdo foi aprovado pelas autoridades competentes e pergunta se pode auxiliar em algo mais.
É curioso que esta manobra vai reduzir o consumo do medicamento! Seu concorrente direto, Durateston, tem um histórico de irregularidade de venda. Disponível por alguns meses, indisponível por muitos meses. Nas farmácias em Belo Horizonte, de onde escrevo, custa R$15,00. Cada pessoa tem uma necessidade diferente de testosterona. Vai de 01 ampola a cada 30, 20 ou 15 dias (raramente menos e raramente mais). Se ela usar mensalmente, R$80,00 por injeção mensal. Há um concorrente, undecilato de testosterona. Na forma genérica, R$335,00 – a cada 3 meses, R$112,00 por mês, e duas injeções a menos. Se o uso for 2 ampolas mensais, R$160,00 ao mês, R$480,00 após 3 meses. Não faz sentido o aumento.
Tentando entender
Como a empresa não se manifesta, a imaginação corre solta. O que justifica esta atitude?
- Transfobia pura e simples. Os sócios descobriram que pessoas trans usam e são contra (difícil de crer)
- Atitude tomada sem muita reflexão (será?)
- algum fabricante de undecilato comprou a linha de produção do cipionato de testosterona (denominação correta do Deposteron) e forçou a subida de preços para alavancar a venda do undecilato (viajei demais?)
- correção pela inflação dos últimos anos (pouco crível)
O que pode acontecer? Enquanto a Durateston estiver nas farmácias, uma corrida desesperada por comprá-la. Uma procura por este medicamento, mas fabricado no Paraguai, e vendido no mercado paralelo. O abandono no tratamento de falta de testosterona ou das medidas medicamentosas para a transição de genérico.
O que pode ser feito?
Ligar para o laboratório (08000191914) e protestar.
Registrar queixa no Procon.
Abrir reclamação no Reclame Aqui.
Conferir, ao adquirir um medicamento, se ele é fabricado pela EMS. Não compre e exija de quem prescreveu uma alternativa.