Como as igrejas, falo das evangélicas por pertencer a uma delas, podem lidar com as pessoas LGBTQIAPN+?
Não há dúvidas que identidade de gênero e orientação afetiva sexual são temas delicados para as religiões. O tamanho da delicadeza é diferente em cada confissão de fé específica, e mesmo no interior delas há comunidades com compreensão divergente.
Há dois caminhos possíveis. O tradicional e o revisionista.
O primeiro advoga que pessoas LGBTQIAPN+ desagradam profundamente a divindade. É tão grave o desagrado que ela não as pode suportar. Mas sendo misericordiosa lhes dá a chance de reverem o caminho no qual estão e retornarem ao destino determinado ao nascer. Ter recusado este destino, dado com sabedoria e infalibilidade, é um pecado que deve ser confessado. E o retorno ao gênero ditado pela genitália e à heteroafetividade a única conduta com aprovação divina. Assim procedendo, bênçãos na vida aqui e acolhimento no céu após a morte são certeza.
O segundo defende que identidade de gênero e orientação afetiva sexual não são características determinadas antes do nascimento, ou genética e anatomicamente determinadas após o parto. São possibilidades divinamente deixadas em aberto a serem descobertas por cada pessoa que nasce no decorrer das suas vidas. Sendo possibilidades divinamente estabelecidas, nada há de pecaminoso em qualquer expressão LGBTQIAPN+.
O caminho tradicional é largo e confortável. Nada questiona, nada pergunta. Mantém as pessoas que o defendem em suas zonas de conforto. A consequência natural é que estas verão as LGBTQIAPN+ como seres perdidos, afastados do amor divino, seres em rebeldia indesculpável contra a vontade divina. Não são elas que causam dor; esta é natural fruto da revolta e não tem como serem afastadas a não ser pelo arrependimento. Este caminho produz, com natural e assustadora frequência, pessoas sem solidariedade, compaixão, simpatia. E como a estrutura social (como as leis) é fruto das emoções, pessoas LGBTQIAPN+ não terão os mesmos direitos civis e previdenciários. Também não terão o “privilégio” da presunção de inocência. Muito antes, gozarão da certeza da culpa por serem pessoas desviantes da moral.
O caminho revisionista é estreito e desconfortável. Questiona um conhecimento tido como terminado, sem falhas nem incoerência. Conhecimento é sinônimo de segurança; ignorância é de insegurança. A revisão leva para fora da zona de conforto. Produz, com grande probabilidade, simpatia pela dor alheia, solidariedade com as angústias. Pessoas LGBTQIAPN+ não são pessoas desviantes, mas oprimidas por um discurso cheio de imperfeições. Estas emoções frutificarão um estrutura social de igualdade de direitos civis e previdenciários, com a aplicação universal do conceito de presunção da inocência.
Jesus disse uma vez, em outro contexto, mas o aplico por analogia a este: “Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo é o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Mas estreita é a porta e apertado é o caminho que leva à vida, e são poucos os que a encontram.”