Para refletir

Pessoas trans e disforia de gênero são diferentes

Pessoas trans e disforia de gênero são diferentes

Ser uma pessoa transvestegênere não é igual a ter disforia de gênero. São duas circunstâncias bem diferentes.

Disforia de gênero é um diagnóstico de uma condição médica – logo, bem próximo de uma doença. Ainda que a resolução 2265/2019 do Conselho Federal de Medicina traga muitos avanços na área, ela ainda tem um núcleo patologizante (entenda-se compreender uma situação como a expressão de uma doença). Ainda persiste nos livros textos de endocrinologia e psiquiatria.

Ser transvestegênere, ou transgênere, é uma vivência humana possível, fruto da diversidade humana, inclusive conceitual e cultural (em eterno relacionamento dialético). Inexiste a patologia, existem desafios de como adequar a leitura social do gênero percebido por alguém. Estes têm questões biológicas de segurança e efetividade, que estão a serviço da felicidade das pessoas trans.

Quando a pessoa trans procura auxílio médico ela necessita de orientação de como usar os recursos médicos disponíveis para adequar sua aparência exterior ao modelo de aparência interior que todas as pessoas universalmente têm. Ela não procura para “tratar disforia de gênero”, ou “fazer reposição hormonal”.

A leitura médica tradicional é que existe uma divergência entre as duas identidades, e que esta reside no interior da pessoa transvestegênere. Supõe que a normalidade é a coerência ditada pela aparência externa (genitália) de modo automático. Quando este mecanismo automático falha, instala-se o problema “disforia de gênero”.

Esta posição não questiona os mecanismos que fazem a ligação entre genitália e gênero. Nos textos endocrinológicos a regra é assumir a naturalidade, no lugar de compreendê-la. Sem conseguir contar como o processo ocorre, determina estar na pessoa trans a fonte da tal “disforia”. Mas como não consegue detalhar esse processo de modo a demonstrar ser o único saudável, por que não assumir que gênero e genitália são dois aspectos humanos que não tem que estar relacionados? Por que não aceitar a naturalidade de modificar medicamente o exterior em busca de coerência com o interior sem chamar a isso de tratamento?