Segundo o Centro de Valorização da Vida, 32 pessoas nascidas no Brasil tiram a própria vida a cada dia (32×365 = 11.680). Fazem parte daquelas 17% que, em algum momento, pensam seriamente em tomar esta atitude e 4,8% daquelas que elaboram um plano. Fenômeno mundial, onde todos os países e culturas o têm. Quais atitudes para o enfrentamento? Cada sociedade tem, ou não tem, a sua resposta.
Cada evento ocorrido afeta a vida, direta ou indiretamente, de 6 a 10 pessoas, com impactos emocionais, às vezes econômicos, difíceis e sofridos. A sociedade perde força de trabalho, força de solidariedade, a morte autoinfligida começa a ser banalizada e menosprezada, assim como é vista com preconceito e desvalia para com quem falece e com sua família.
A intenção de encerrar a própria vida não é irrevogável, e as pessoas que estão cogitando esta possibilidade sempre pedem ajuda, de alguma forma e para alguém. Autoextermínio é uma causa de morte evitável…e provocável. É possível colaborar, mesmo que não se deseje, com a morte de alguém.
Postagem anterior procurei alargar o conceito de transfobia inserindo o desnível de poder entre quem é LGBTQIA+fóbico e quem sofre: uma questão de poder. Há um desnível, a primeira pessoa é mais (ou se sente) empoderada que a segunda. Transfobia tem impacto sobre a taxa de mortalidade deste país – acredito que de todos ao redor do mundo.
O que leva uma pessoa a pensar nesta alternativa? Agressões físicas, sexuais e psicológicas são fatores frequentemente encontrados. Mas outros também existem: a percepção de ser um peso familiar ou social e de não pertencer ao grupo de onde se vem são dois outros fatores.
Uma tentação frequente é atribuir a ideação suicida a um sofrimento mental. Ou seja, a morte autoinfligida ocorre não por fatores externos à pessoa, que poderiam ser evitados, mas exclusivamente por uma doença que sobre ela se abate. Uma forma sutil de “tirar o corpo fora”, de fugir à responsabilidade social.
Agressões físicas, sexuais, psicológicas, a sensação de não pertencimento e de ser um peso morto são, sem dúvida, fatos que deprimem quem os sofre. Mas a raiz da morte não está nesta consequência, mas na origem do sofrimento: os fatores citados (que não esgotam a lista).
Você que nos lê aqui, sabia que as pessoas transvestegênere têm uma taxa de autoextermínio em torno de 15x a taxa da população cisgênere? E ser pessoa homoafetiva cis também eleva em muito o risco?
Você avaliou que os fatores citados são manifestações concretas de transfobia?
O que impede a redução deste número de mortes?
Mas antes de responder, tome cuidado com sua transfobia internalizada. Lembre-se: ser transvestegênere não é escolha, é destino.