Uma antiga propaganda terminava com o bordão: “parece, mas não é”. Ela foi produzida pelo fabricante original de um produto, quando concorrentes passaram a produzi-lo. A ideia era enfatizar que quem sabia produzi-lo era o seu inventor.
Já ouviu falar de token? Uma palavra inglesa que é usada atualmente como nome a instrumentos eletrônicos que permitem o acesso a contas bancárias, por exemplo. Originalmente, pode ser traduzida como “sinal” (algo que serve para indicação ou prova), “símbolo” (de autoridade, de identidade – a faixa presidencial, p.ex.), uma classe de fenômenos que pode ser estudada como grupo, um brinde, uma ficha dos antigos fliperamas.
Mas há outro significado: “uma pessoa considerada representativa de um grupo social que é empregada em primeiro lugar para demonstrar que a empresa, ou pessoa, não faz distinção, não pode ser acusada de discriminação”.
Parece que quem usou o termo com este significado pela primeira vez foi Martin Luther King em 1962. Ele mirava empresas que, na semana da consciência negra, empregavam uma única pessoa em situação visível, para passar uma imagem positiva.
Fenômeno que deve ser bem observado, pois diversidade dá lucro, aumenta a fatia do mercado. Assim como ser uma empresa verde, ecologicamente correta; uma empresa que recicla; que abraça todos os credos, raças, gêneros e orientações. Parece que as perdas são muito menores que os ganhos.
Ser aceita como pessoa em igualdade de condições com as outras, sem inferiorização por alguma característica pessoa, é fator promotor de saúde. O não ser aceito, é fator promotor de doença. Quando pessoas transvestegênere tem as mesmas condições de acesso a vagas de trabalho para as quais estão habilitadas (e não seria correto ter uma vantagem sobre as pessoas cisgêneras?), participam em igualdade de condições do plano de carreira e salários (nas empresas que têm), acessam chefias, tem-se uma organização que não faz uso de tokens.
Acompanho centenas de pessoas transvestegêneres. Não é fácil emprego formal. Se ainda estão no processo de transição (já ouviu falar disso?), pior ainda. Atingida a passabilidade (conhece o conceito?) há uma maior facilidade. Muitas estão contratadas, mas a gerência imediata não usa o nome social, exige roupas ou aparência compatível com o binarismo que afeta a pessoa, são ríspidas e grosseiras. Outras estão lá, e colegas de trabalho se dão o direito de inquiri-las de forma desrespeitosa, como se fossem objeto de exposição ou lá estivessem para serem…token.
Não tenho ouvido relatos de muitas empresas amigáveis às pessoas LGBTQIA+, especialmente trans. A fração que as trata com respeito, sem rejeição, é pequena.
Esta situação leva ao adoecimento, ao subemprego, à informalidade. Estas duas últimas implicam ausência de contribuição previdenciária, o que resulta em falta de apoio em situações de acidente ou doença e atraso gigantesco da aposentadoria.
Você, que tem um negócio próprio, realmente abraça a diversidade de gêneros e orientação sexual? Ou finge? Ou não liga? Ou toma atitude destrutiva?
@eduardoribeiromundim