Transfobia no mercado de trabalho
Estive a alguns anos atrás sendo convidado pela direção da casa de acolhimento Florescer de São Paulo a conhecer melhor o dispositivo e as pessoas que ali estavam sendo ajudadas.
Fui recebido maravilhosamente bem tanto pela direção quanto as trans que lá estavam sendo acolhidas. Isso me abriu demais a visão de como é importante a ajuda a trans e travestis em um país tão machista e preconceituoso como no Brasil. O país que mais mata trans e travestis por ano. Vivemos numa sociedade que realmente naturalizou o processo de violência contra a população trans e de travestis.
A Casa Florescer é considerada a primeira casa de acolhida voltada apenas para travestis e mulheres trans no Brasil. Atualmente, a capacidade do espaço consegue acolher 30 mulheres em situação de vulnerabilidade. Além disso, a casa também oferece atendimento psicológico e social, além de organizar eventos e ações que visam a inserção no mercado de trabalho e reinserção social, como regularização de documentos, cursos de qualificação e segurança alimentar.
Escrevi sobre o tema com o intuito de refletir e jogar luz sobre essa realidade excludente no mercado de trabalho. Chegar até a faculdade, por exemplo, e se formar, é uma estatística rara para a população trans e de travestis. Isso porque o preconceito – que têm início geralmente na infância – barra quase todas as possibilidades de desenvolvimento de pessoas trans no âmbito da educação formal.
Na infância a maioria larga os estudos pelo inúmeros casos de violência e preconceitos que vivem no decorrer da sua formação. Poucas conseguem ir até o final. E as que conseguem quando chegam entregam currículos e as reações dos profissionais de RH, das pessoas que recebem os currículos, são as mesmas. Alguns nem pegavam o papel, mesmo com uma placa na porta falando que tinha vaga. Logo eles tratam de dizer que estão ocupadas. A grande maioria trabalha prostituindo-se por esse motivo. Não lhes dando a oportunidade de escolher outras formas de trabalho.
Assim como a população trans e de travestis continua estatisticamente invisibilizada na sociedade brasileira, as barreiras que as impedem de traçar suas trajetórias de vida com mais dignidade também.
A contratação de pessoas transexuais ainda é envolta em estigmas, preconceitos e barreiras que dificultam o acesso destes profissionais aos empregos formais. Discriminação que leva quase 90% da população trans brasileira a recorrer à prostituição como principal fonte de renda e única possibilidade de subsistência, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais.
No dia em que estive na Casa Florescer fiquei pensando: Como poderia ajudar não só mostrando o dispositivo nas minhas redes sociais e pedindo ajuda aos meus seguidores?Quando me deparei com a minha prima dizendo que no seu salão tinha ido uma trans querendo trabalhar. Foi aí que pensei em lhe falar da importância em dar oportunidade a essa trans e assim foi feito.
Se você que está lendo essa matéria puder estar ajudando de alguma forma faça mesmo que seja explicando a um determinado grupo a mudar sua visão negativa em que a sociedade impõem a trans e de travestis. Parece ser uma ajuda pequena mais não é.
A ajuda nem sempre precisa ser material. Imagina você se todos fizessem sua parte ajudando as trans e travestis e educando à população como mudaríamos o Brasil é a transfobia que existe no nosso país. Então se tiver oportunidade pra fazer não titubeie e faça.
O colunista Fábio Alves além de ser psicanalista ele é pós graduado em sexualidade, psicanálise, terapia de casais e família, TCC e tem um quadro na Rádio Tropical fm 91,5 do RJ todas as segundas às 10h. Você também pode encontra lo no Instagram @fabiopsicanalista