O Afoxé Filhos de Gandhy, bloco que desfila no Carnaval de Salvador há 76 anos apenas com homens e tem como princípios a paz, o respeito e a tradição, gerou polêmica nesta segunda-feira (24) após denúncias de que teria vetado homens trans de comprar o traje do afoxé para desfilar no Carnaval de 2025.
De acordo com o termo de aceite do Afoxé, apenas pessoas do sexo masculino cisgênero poderiam integrar o bloco. O aviso foi divulgado junto com os itens de fantasia e destacava que, conforme o artigo 5º do Estatuto Social, apenas homens cisgêneros poderiam se associar, restringindo assim a venda do passaporte a esse público.
O tema do Carnaval 2025 do Afoxé Filhos de Gandhy será Ogum, o senhor do ferro, dos metais e da tecnologia, em homenagem ao orixá patrono do bloco. O investimento para desfilar é de R$ 800 para sócios e R$ 900 para não sócios. O bloco se apresentará no domingo (2) na Avenida, e na segunda (3) e terça-feira (4) no circuito Barra-Ondina. O kit para os foliões inclui: 01 toalha, 01 lençol, 01 faixa, 02 fitas, 01 par de sandálias, 01 alfazema e 01 par de meias.
A decisão gerou forte reação da comunidade LGBTQIA+, que denunciou a medida como transfóbica por excluir homens trans da manifestação cultural. Diante da repercussão negativa, a diretoria do bloco foi procurada, mas o presidente dos Filhos de Gandhy, Gilsoney Oliveira, declarou apenas que “não tinha nada a declarar” e que a matéria poderia ser publicada sem alterações no comunicado.
No entanto, na noite do mesmo dia, o Afoxé Filhos de Gandhy publicou uma nota oficial em suas redes sociais, assinada em conjunto com o presidente Gilsoney Oliveira. No documento, a entidade afirmou que reconhece a importância do debate sobre inclusão e anunciou que promoverá uma assembleia geral para discutir possíveis mudanças no estatuto. Além disso, o termo de aceite foi modificado, removendo a palavra “cisgênero” e mantendo apenas a exigência de que os integrantes sejam do sexo masculino.
A mudança foi vista como um recuo diante da pressão social, mas ainda levanta questionamentos sobre a real disposição do grupo em acolher homens trans. O desdobramento desse episódio pode marcar uma transformação histórica dentro do tradicional bloco afro-religioso.