Em 20 de novembro, o mundo celebra o Dia Internacional da Visibilidade Trans, uma data dedicada a aumentar a conscientização sobre as questões enfrentadas pela comunidade trans, destacar suas conquistas e, sobretudo, reconhecer suas lutas diárias por direitos e dignidade. Para Noah Scheffel, CEO da EducaTransfarma e um dos maiores defensores da diversidade e inclusão, esta data representa uma oportunidade de visibilizar os desafios enfrentados pelas pessoas trans, especialmente em um país como o Brasil, onde a violência contra essa população continua a ser uma realidade alarmante.
“Este é um dia de reflexão profunda. O Dia Internacional da Visibilidade Trans é mais do que uma celebração; é uma chamada à ação. Ele nos lembra que as pessoas trans, por muito tempo invisibilizadas, precisam de reconhecimento, respeito e, acima de tudo, de acesso aos seus direitos”, afirmou Noah Scheffel.
No Brasil, a comunidade trans continua a enfrentar altos índices de violência, discriminação e exclusão social. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil segue sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo, com um número crescente de assassinatos e crimes de ódio motivados pela identidade de gênero. Para Scheffel, essa realidade é um reflexo de uma sociedade que ainda não está pronta para abraçar as diferenças e que marginaliza, com frequência, quem não se encaixa nos padrões normativos de gênero.
“Apesar dos avanços em algumas áreas, as pessoas trans no Brasil ainda enfrentam uma realidade cruel de violência e falta de oportunidades. Somos, em muitos casos, o alvo mais fácil da intolerância e da agressão. O Dia da Visibilidade Trans, portanto, não é apenas uma data simbólica, mas uma data de conscientização e de luta”, destacou Noah.
A Interseccionalidade da Luta Trans
Noah Scheffel também apontou que a luta pela visibilidade trans é ainda mais complexa para as pessoas que, além de trans, pertencem a outras minorias, como as pessoas negras e periféricas. A interseccionalidade das identidades trans e negras, por exemplo, torna a exclusão e a violência ainda mais intensas, criando um cenário de vulnerabilidade extrema.
“A interseccionalidade é um conceito fundamental quando falamos sobre a vivência trans no Brasil. Ser trans e negro é um fardo ainda mais pesado, porque além da transfobia, existe o racismo estrutural que marginaliza ainda mais essas pessoas. Isso cria uma camada adicional de exclusão, que vai desde o acesso a direitos básicos até o direito à vida”, explicou Scheffel.
Ele também destacou que as pessoas trans negras, em muitos casos, não só enfrentam violência física, mas também têm dificuldades em acessar serviços de saúde, educação e emprego, que são essenciais para uma vida digna. “As oportunidades são escassas, e quando existem, muitas vezes são negadas ou condicionadas a um processo de desumanização”, completou.
A Visibilidade como Caminho para a Mudança
Para Noah, a visibilidade das pessoas trans é um passo crucial na luta por igualdade e respeito. “Visibilidade não significa apenas estar presente em discursos ou redes sociais. Significa ser reconhecido como ser humano, com direito à autonomia, à segurança e à dignidade. É sobre ocupar espaços antes vedados e ter voz nas decisões que impactam nossa vida”, afirmou.
A visibilidade trans, para ele, também está intimamente ligada ao reconhecimento de direitos fundamentais, como o acesso a cuidados de saúde adequados, reconhecimento legal da identidade de gênero, e proteção contra discriminação no mercado de trabalho e em outros espaços públicos.
“Se, por um lado, a visibilidade pode gerar uma sensação de pertencimento e de aceitação, por outro, também expõe as pessoas trans a um maior risco de violência, especialmente em um contexto de intolerância como o nosso. Portanto, a visibilidade deve ser acompanhada de ações concretas que garantam a segurança e os direitos dessa população”, apontou.
Propostas de Inclusão e Transformação
Scheffel acredita que, para que haja uma mudança real na sociedade, é necessário que as políticas públicas sejam reformuladas e que as empresas e instituições também se envolvam ativamente na promoção de um ambiente inclusivo para as pessoas trans.
“Precisamos de políticas de inclusão mais robustas, não só em empresas, mas também nas escolas, nas universidades e nas instituições de saúde. As pessoas trans devem ser tratadas com dignidade, e seus direitos devem ser garantidos sem qualquer tipo de discriminação”, defendeu Noah.
Além disso, Scheffel enfatizou a importância do apoio da sociedade como um todo para que a visibilidade trans seja não apenas celebrada em um dia específico, mas reconhecida todos os dias. “A luta pela visibilidade trans é uma luta de todos. Não é uma luta apenas das pessoas trans, mas de toda a sociedade que deseja construir um Brasil mais justo e igualitário”, finalizou.