O que o sexo pandêmico pode nos mostrar sobre o comportamento de LGBTQIA+s diante do risco
Durante a pandemia, as recomendações dos órgãos de saúde eram isolamento social. O Grindr ouviu, mas, segundo relatos, fez a egípcia.
O portal gringo Queerty noticiou em 2020 rumores de que o Grindr contaria com filtro de identificação voltado para sinalizar quem dos usuários fez o teste de covid-19.
Se alguns pensam que o aplicativo teve a ideia por responsabilidade social, outros são mais pessimistas.
Isso porque os usuários da aplicação não pausaram o rala-e-rola por causa da corona. Veja o que isso diz sobre a forma de se relacionar de homens gays.
Com estudo feito pelo aplicativo Grindr há pouco mais de um ano, cuja página de resultados hoje dá em 404, uma amostragem de 10.000 usuários foi entrevistada. O estudo mostrou que o público dos apps não parou de transar por causa do micróbio.
Será que algo mudou na forma com que encaramos o sexo de aplicativo, e o afeto em geral?
Não importa o nicho, os dados de apps de relacionamento mostraram que a pandemia do covid-19 não conseguiu parar o hábito de se encontrar com estranhos pra uma rapidinha.
No entanto, os dados da pesquisa feita pelo laranjinha são a respeito dos Estados Unidos.
Já aqui no Brasil, o pesquisador carioca Ruann Moutinho e seus parceiros da UFRJ publicaram estudo em 2022 sobre a falta de adesão aos cuidados da OMS por parte da comunidade usuária de aplicativos.
Os autores do artigo analisam como a epidemia do HIV e o surto de covid-19 são relacionados no discurso publicitário do aplicativo, que promoveu o lançamento de um filtro digital do status de covid para usuários.
O Grindr inovou ao proporcionar serviço de geolocalização para gays dispostos a molhar o biscoito, mas ninguém sabe a quem compete cobrar responsabilidade sobre a saúde de seus usuários.
Segundo site do desenvolvedor, hoje em dia, interessados podem divulgar o status de vacinação em covid, varíola de macaco e outras doenças.
Além disso, é possível identificar se as pessoas usam PrEP, o que tem deixado alguns mais seguros, e outros, mais descuidados.
Como divulgado nos sites de conscientização sobre a profilaxia, quem faz uso da pílula não deve abrir mão da camisinha, já que a medicação, seja qual for o método de uso, não protege contra outras ISTs.
É importante, também, frisar que o Grindr não verifica informações de status de saúde de seus usuários, que continuam sendo autodeclarações sem evidência.
A pandemia talvez trouxe mais conscientização sobre o sexo seguro, sendo inegável que funcionou como plataforma de informação para a comunidade frequentadora. Por isso, pode ser que, antes de entrar no app, alguém não soubesse o que era PrEP.
Isto é: a autodeclaração de vacinação pode ter ajudado a estimular a profilaxia contra o coronavírus. Similarmente, o uso de PrEP, e a criação de um status de HIV no app, pode ter ajudado a criar interesse na profilaxia por parte de usuários.
Afinal de contas, ser maria-vai-com-as-outras é ótimo quando “as outras” estão se protegendo direitinho.
Não tem como negar: se relacionar é um risco para a saúde e para o coração em qualquer contexto. O coração pode ser quebrado tanto num relacionamento duradouro quanto numa rapidinha.
Diante do risco de contaminação que a pandemia nos trouxe e, com ela, o retorno de preocupações das gerações passadas, será que aprendemos a encarar o risco de ser feliz, ou estamos com mais medo ainda de pegar uma paixonite?