Reflexão

O Homem gay e a infelicidade com seu corpo

O Homem gay e a infelicidade com seu corpo

Por diversas vezes vejo  situações de homens gays se queixando de seus próprios corpos ou de suas aparências, eventualmente tomando atitudes inclusive perigosas em decorrência dessas queixas.

A pressão social, os padrões de beleza idealizados pela mídia e a falta de representatividade podem contribuir para que algumas pessoas, incluindo homens gays, sintam-se insatisfeitos com seus corpos. 

No entanto, parece que esse incômodo com o corpo tem tomado proporções exageradas em relação aos homens homossexuais. Uma pesquisa, feita em 2017 pela Attitude, uma importante revista britânica focada no público gay, mostra isso de forma clara: 84% dos homens que a responderam disseram sentir uma intensa pressão em ter um “corpo bom”.

Os homens gays crescem com essa sensação de inadequação, de que serem quem são pode lhes custar o amor e a felicidade, de que serão rejeitados apenas por serem eles mesmos, e na vida adulta parece que continuam com essa ideia quando se trata do seu corpo.

A ideia de que se deve ter um “corpo perfeito”, vendido pela mídia como um com muitos músculos e pouca gordura, está levando esses homens a adoecerem. E não é só na mídia que esse ideal está a todo momento exposto e visualizado: as redes sociais e os apps de relacionamento têm contribuído bastante também para essa sensação de inadequação. Há sempre uma foto de alguém sem camisa no Instagram com a legenda “o de hoje tá pago” ou um perfil no Grindr com os dizeres “não a gordos e a quem não se cuida”.

A partir daí entra-se numa rotina de exercícios físicos, dietas, uso de esteróides e procedimentos estéticos, incluindo cirurgias plásticas, tudo isso às vezes feito de forma exagerada e sem supervisão médica, em busca desse suposto corpo ideal. Dá-lhe “projeto carnaval”! Em contrapartida, o corpo que não se encaixa nesse padrão magro e musculoso é visto como feio, doente e não digno de atenção e amor. A ideia de que um corpo gordo é inferior e pode ser ridicularizado é a todo momento vista no discurso midiático e aterroriza quem não se encaixa no corpo “.

Gay” é um padrão que vai muito além de desejos sexuais ou de identidades culturais. É um nicho social que tem regras rígidas, reproduzidas quase sem pensar. Um “homem gay ideal” precisa ser melhor do que um heterossexual. Mais bonito, culto, bem cuidado, estiloso… É como se a “falha” da homossexualidade tivesse que ser compensada com uma série de qualidades fabulosas de anúncio de revista. Dentes brancos, cabelo liso e bem penteado, corpo sarado, porte atlético, barba desenhada porque a aparência masculina deve ser cultivada. Somos lindos e gays, mas apenas quando parecemos uma coleção de bonecos Ken!

A pressão estética da sociedade pode, de fato, impactar a saúde mental de homens gays e de indivíduos de outras orientações sexuais. A busca incessante por atender a padrões de beleza irreais e a constante comparação com imagens idealizadas podem levar a problemas como baixa autoestima, ansiedade, depressão e distúrbios alimentares.

É fundamental conscientizar sobre a importância da aceitação do corpo e da valorização da diversidade, além de promover uma cultura de respeito e inclusão. Encorajar a autoaceitação, a prática de autocuidado e o desenvolvimento de uma relação saudável com o próprio corpo são passos importantes para preservar a saúde mental.

Buscar apoio psicológico, participar de grupos de apoio e se cercar de pessoas que promovam um ambiente positivo e acolhedor também podem ser estratégias úteis para lidar com a pressão estética da sociedade e preservar a saúde mental. Se você ou alguém que você conhece estiver enfrentando dificuldades nesse sentido, não hesite em buscar ajuda profissional.

O colunista Fábio Alves além de ser psicanalista ele é pós graduado em sexualidade, psicanálise, terapia de casais e família, TCC, Psicologia Hospitalar e tem um quadro na Rádio Tropical fm 91,5 do RJ todas as segundas às 10h. Você também pode encontra lo no Instagram @fabiopsicanalista