Hoje, na sessão com a Dra. Michiko Kobayashi, minha psicóloga há anos, me peguei pensando em algo novo: estou com um desejo gigantesco de me apaixonar novamente. Subi as escadas com meus fones, ouvindo , La javanaise, de Serge Gainsbourg. Quando cheguei na porta do consultório, ao me aproximar do interfone, a porta se abriu sozinha. O corredor tinha um leve aroma de cappuccino, e logo ouvi sua voz animada:
— Hoje eu fiz cappuccino !!
Sou completamente viciada em café, especialmente cappuccinos, e chocólatra assumida. Me joguei na poltrona gigante ,enquanto ela, sorrindo, me oferecia uma xícara enorme.
— Quero me apaixonar. Viver um amor avassalador. Igual ao de Ronit e Esti, no filme Desobediência.
Houve um breve silêncio, quebrado pela risada dela.
— Você é uma comédia !!
Rimos juntas
— Você me ajuda a encontrar um amor? Disse brincando.
— Amor, não… Menina, eu sou psicóloga e não cúpido.. Mas ,tenho chocolate, que é quase a mesma coisa. Sabia que ele estimula a serotonina? Sem contar a feniletilamina, o “hormônio da paixão”. É como uma dose grande de felicidade.
Entre muitas risadas, ela me deu uma barra de chocolate suíço, que devorei rápido.
Quando a sessão terminou, desci as escadas lentamente, perdida em pensamentos. Uma ideia começou a tomar forma. talvez fosse hora de explorar aplicativos de namoro. Claro, a vida não é um filme, mas os filmes muitas vezes se inspiram em nossas vidas. E, ultimamente, algo em mim dizia que eu precisava tentar novamente.
Já em casa, com o notebook no colo, comecei minha pesquisa. Her, Taimi, Feeld, Bumble, PinkCupid, Lex, Spicy, Scissr, Wapa, Zoe, Lesbit, Femme... A lista era interminável. Enquanto navegava pelos perfis, a ideia de convidar alguém para um capuccino e uma fatia de torta de chocolate me parecia tentadora.
Porém, existe uma diferença entre querer se apaixonar e estar apaixonada. E, de repente, me lembrei da menina ruiva do meu passado. Que jamais esqueci ..
Foi aí que percebi algo. Eu não tenho paciência para salas de bate-papo. Como encontrar alguém assim? Ainda acho os aplicativos válidos e recomendaria a maioria deles , desde que você não crie expectativas, e tem cuidados com a sua segurança.
A verdade é que a solidão tem vários caminhos, é uma jornada pessoal. Às vezes, é melancólica. Outras vezes, é confortável, especialmente para mim. Talvez por ser autista, me habituei à minha bolha, meus livros, games, filmes, meu notebook, meu mundo.
Mas, algo está mudando. Estou em meio a uma metamorfose, em busca de uma nova menina ruiva. Ainda assim, tenho a sensação de que ela não estará em um aplicativo. Talvez o destino tenha outros planos, e, quem sabe, eles envolvam cappuccino , chocolate, teatro, cinema , roteiro e dramaturgia.
Talvez a nova menina ruiva , sequer goste de café. Quem sabe? A cabala fala sobre zivug, ou bashert, almas gêmeas conectadas por um propósito maior. Não é só sobre amor romântico.
É um chamado espiritual. Almas que, juntas, elevam-se e iluminam o mundo enquanto cumprem seu tikkun, sua correção espiritual.
Eu ainda quero encontrar minha bashert. Ainda acredito no amor, apesar de tudo.
Enquanto isso, sigo cultivando minha ilha. E desejo que cada um de nós cuide bem da sua. Afinal, é a partir dessas ilhas que construímos pontes..
Ainda quero encontrar a minha bashert. Eu acredito no Amor, apesar do mundo em que vivemos.
Até lá, vou continuar a cultivar minha ilha !! Cultivemos nossas ilhas !!
Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo . Cultivando minha Ilha .
@silviadiaz2015