Rogéria
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Um símbolo de resistência

Hoje eu quero , e vou falar dela : Rogéria

Rogéria, nascida Astolfo Barroso Pinto ,em 25 de maio de 1943, em Cantagalo, no estado do Rio de Janeiro, é uma figura emblemática da cultura brasileira e um símbolo de resistência e autenticidade para a comunidade LGBTQIA+. Ao longo de sua vida, Rogéria transcendeu os limites impostos pela sociedade e deixou um legado que continua a inspirar e desafiar as convenções sociais.

Desde muito jovem, mostrou interesse pelas artes e pela estética, um caminho que começaria a trilhar profissionalmente ao se mudar para o Rio de Janeiro. Lá, iniciou sua carreira como maquiadora no famoso Teatro Rival, conhecido por abrigar espetáculos de grande importância cultural. Foi nesse ambiente efervescente e criativo que nasceu Rogéria, a persona que Astolfo assumiria e que o acompanharia por toda a sua vida.

Rogéria, com sua habilidade inata para a maquiagem, rapidamente se destacou e passou a ser requisitada por artistas consagrados. Mas seu destino estava no palco. Não demorou muito para que sua beleza, carisma e presença de palco chamassem a atenção dos produtores, e ela começou a se apresentar em shows de travestis, que, na época, eram espaços de resistência e liberdade para aqueles que fugiam das normas de gênero.

Nos anos 1960 e 1970, Rogéria conquistou um espaço significativo no cenário artístico brasileiro, algo raro e ousado para uma travesti em uma sociedade ainda mais conservadora do que a atual. Ela não se contentava apenas em ser uma pessoa exótica, buscava ser reconhecida como artista completa. Com uma combinação de talento, elegância e humor afiado, Rogéria se apresentou em cabarés, boates e teatros, ganhando o público com suas performances que mesclavam canto, dança e, principalmente, uma narrativa de vida que rompia tabus e desafiava preconceitos.

Seu sucesso nos palcos abriu portas para a televisão e o cinema. Em 1970, Rogéria estreou na TV Tupi, em um tempo em que a televisão brasileira começava a se consolidar como um dos principais meios de comunicação e entretenimento. Participou de novelas, programas de auditório e filmes, sempre trazendo consigo sua personalidade vibrante e singular. Rogéria mostrou que uma travesti podia ocupar espaços que até então lhe eram negados, levando sua imagem e sua voz para dentro das casas brasileiras.

Foi vedete de Carlos Machado e em 1979 ganhou o Troféu Mambembe por uma peça que fazia com Grande Otelo.Em fevereiro de 1976, participou de um espetáculo chamado Alta Rotatividade .comédia na qual contracenava com a atriz Leila Cravo e os atores Agildo Ribeiro e Ary Fontoura.

No ano de 2007, estreou o espetáculo 7 , O Musical, sob a direção de Charles Möeller e Cláudio Botelho. No espetáculo, atua ao lado de Zezé Motta, Eliana Pittman, Alessandra Maestrini, Ida Gomes, Jarbas Homem de Mello e outros. O espetáculo estreou em São Paulo no ano de 2009.

Desde 2004 ao lado da atriz Camille K, faz uma peça com outros notórios transformistas no Teatro Rival do Rio, Divinas Divas, que ficou dez anos em cartaz.

Além de sua atuação artística, Rogéria se tornou um símbolo de resistência e uma grande representatividade para a comunidade LGBTQIA+. Em uma época em que as travestis eram vistas com preconceito e marginalizadas, ela conseguiu romper essas barreiras, tornando-se respeitada e admirada. Sua presença na mídia ajudou a abrir caminho para que outras travestis e pessoas trans pudessem ser vistas e ouvidas.

Rogéria não apenas desafiou as convenções sociais, mas também a si mesma, ao não se limitar a um único papel ou estereótipo. Ela foi uma artista completa, transitando entre diferentes gêneros e formatos, sempre com a mesma autenticidade que a caracterizava. Rogéria também participou de diversos eventos e manifestações em defesa dos direitos LGBTQIA+, usando sua visibilidade para lutar contra a discriminação e a favor da igualdade.

Em 2016, lançou sua biografia, Rogéria , Uma mulher e mais um pouco, de Marcio Paschoal.

Rogéria faleceu em 4 de setembro de 2017, aos 74 anos, mas seu legado permanece vivo. Sua história é contada e recontada como um exemplo de coragem, talento e pioneirismo. Ela abriu portas para que outras pessoas pudessem seguir seus passos, e seu impacto na cultura brasileira é inegável. Rogéria é lembrada não apenas por suas performances, mas por ter vivido de forma plena e verdadeira, em uma época em que isso exigia uma força extraordinária.

Seu nome está gravado na história da cultura brasileira e na memória daqueles que lutam por uma sociedade mais justa e inclusiva. Rogéria foi, e sempre será, uma referência, não apenas para a comunidade LGBTQIA+, mas para todos que acreditam na liberdade de ser quem realmente são, sem medo de enfrentar os preconceitos e as adversidades.

Rogéria é uma inspiração contínua, uma prova de que a arte e a identidade são poderosas ferramentas de transformação social.

A história de Rogéria nos ensina sobre o poder da autenticidade e da resistência, e sua memória permanecerá viva nas futuras gerações de artistas e ativistas. Em pleno 2024, ainda se faz necessária tê-la como referência.

Silvia Diaz

Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo .

@silviadiaz2015