(foto: UOL)Autismo,uma Jornada de Autoconhecimento
Por décadas, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi um tema silenciado ou minimizado, como se ignorar sua existência pudesse apagar suas complexidades. Hoje, contudo, enfrentamos uma questão urgente: por que parte da sociedade ainda insiste em marginalizar ou “fraturar” pessoas neurodiversas, especialmente quando essas também pertencem à comunidade LGBTQIAPN+?
O TEA é uma condição de neurodesenvolvimento que afeta comunicação, interação social e padrões de comportamento. Mas vai muito além de diagnósticos clínicos , é uma forma singular de perceber, sentir, pensar e se relacionar com o mundo.
O termo espectro é justamente a metáfora da pluralidade: uma paleta de intensidades e expressões que refletem a diversidade humana. Cada pessoa autista carrega um universo próprio, e quando essa neurodiversidade se entrelaça com identidades queer, surge uma interseccionalidade potente ,marcada por resistências múltiplas .
O autismo foi visto através de uma lente patologizante, associada à ausência ou ao déficit. Mas uma nova geração vem rompendo essa narrativa: pessoas que reivindicam o direito de existir fora das normas neurológicas e de gênero, corpos e mentes que não cabem nas caixinhas e, por isso, criam novas linguagens.
É nesse contexto que surge o conceito de “neuroqueer” , um termo que une neurodivergência e identidade queer.
Cunhado por Nick Walker, o conceito parte da ideia de que mentes e corpos neurodivergentes desafiam as estruturas normativas da sociedade.
Ser neuroqueer é recusar a ideia de cura, porque não há nada de errado em ser quem somos. É transformar o “estranho” em arte, o “diferente” em linguagem e o “silêncio” em manifesto.
Meu diagnóstico tardio foi um reencontro comigo mesma
Eu sou neuroqueer , multiartista, colunista e faço parte da comunidade LGBTQIAPN+.
Essa sensação de desalinhamento constante vinha acompanhada de isolamento , ampliado pela minha identidade queer, que também fugia às normas. Gênero, sexualidade e comportamento se entrelaçavam em um labirinto de expectativas inalcançáveis.
Ao longo da vida, enfrentei violências verbais, emocionais e psicológicas , muitas vezes disfarçadas de uma falsa “preocupação”. O capacitismo deixa marcas profundas, especialmente quando disfarçado de cuidado.
Mas quando finalmente compreendi que era autista, uma luz se acendeu.
Pela primeira vez, consegui me olhar com clareza, afeto e pertencimento.
A “estranheza” que me acompanhava desde a infância se revelou como uma forma autêntica de estar no mundo.
E foi na arte que encontrei abrigo. Apesar de certas pessoas desagradáveis que pensam que são Deuses.
Não vocês não são !!
A criação sempre foi meu território seguro , o espaço onde o ruído se transforma em palavra, e o caos, em poesia, as vezes nem tanto...
Nesse caminho que conheci Sophia Bicudo, uma jovem psicóloga, autista, bissexual, pesquisadora e idealizadora de um simpósio sobre autismo e diversidade, cuja próxima edição está prevista para o primeiro semestre de 2026.
Nos encontramos em um grupo de apoio, e a conexão foi imediata. Eu a Convidei, para uma entrevista sobre autismo, identidades LGBTQIAPN+, interseccionalidade e resistência.
Sophia disse :
“Quanto mais a gente faz o que é normativo, mais percebe o que não cabe.
A vida que vale a pena ser vivida é aquela em que podemos existir inteiros.”
Essa frase é um manifesto.
Ser autista e LGBTQIAPN+ é viver em resistência constante , contra o apagamento, os estereótipos e as violências sutis que tentam nos silenciar.
Sophia falou sobre crises sensoriais agravadas por ambientes hostis, o capacitismo que invisibiliza mulheres e pessoas não binárias autistas, e sobre as suas dúvidas :
“Será que foi real ou estou imaginando?”
Ela defende a criação de redes de apoio , e espaços acolhedores e seguros onde seja possível existir sem medo.
“As pessoas fraturam as outras. É muito sofrimento.
Precisamos criar lugares seguros que fortaleçam autistas LGBTQIAPN+.
O primeiro passo é entender as falhas na formação.
O segundo, deixar claro que este é um espaço seguro.
O terceiro, validar as histórias dessas pessoas.”
Essas palavras revelam uma urgência coletiva: ouvir, acreditar e validar as experiências autistas e queer.
Cada vivência é uma peça essencial no mosaico da diversidade humana.
Sophia lembra que não há manual para ser autista, nem para viver.
Os caminhos se constroem aos poucos ,com paciência, autoconhecimento e amor.
E, segundo ela, o amor próprio é o gesto mais radical de resistência:
“O recurso mais poderoso é o autoconhecimento e a autoaceitação.
Se eu tiver uma pessoa para amar, que eu seja essa pessoa.”

Quem é Sophia Bicudo
Formada em Psicologia pela FFCLRP-USP, autista, bissexual e pesquisadora, criadora de um simpósio sobre autismo realizado no segundo semestre de 2025 e com nova edição prevista para 2026.Sophia é pesquisadora bolsista da FAPESP, investigando a adaptação universitária e as carreiras de jovens autistas, com ênfase nas interseções LGBTQIAPN+.
Autora de Escritos Poetizados, Um Momento e Brinca Palavreando, ela também criou o projeto @girassois_nossos, dedicado à difusão de conhecimento sobre autismo e diversidade, com foco em trocas afetivas, poéticas e inclusivas. Também criou @pessoaautista.
Nossa conversa foi mais do que uma entrevista , foi um espelho entre trajetórias atravessadas por dor, descoberta e celebração.
Falamos de medo e solidão, mas também da coragem de existir sem pedir licença.
cada passo rumo ao autoconhecimento é um ato de liberdade.
Na arte, na escrita e na vida, construímos , pouco a pouco ,um mundo mais sensível, inclusivo e interseccional.
Que possamos florescer em nossos ritmos, com nossas texturas e intensidades.
Existir autenticamente é amor, revolução e visibilidade.
Ser neuroqueer é transformar vulnerabilidade em força, dor em palavra e diferença em poesia.
E, sobretudo, jamais baixar a cabeça ou se calar.
Não permita que ninguém frature sua alma.
Cultivemos nossas ilhas !! Eu sinto !!






Silvia Diaz , é Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Dramaturgia ,SP escola de Teatro. Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos.
E quando os dias não os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário. Fluindo .
Cultivando minha Ilha.. Eu Sinto…
Instagram @silviadiaz2015
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