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MÚSICA

Ney Matogrosso: o deus camaleônico da música brasileira

A voz de Ney Matogrosso é o instrumento musical mais brasileiro de todos e merece todas as reverências

Publicado em 13/04/2024

Ney Matogrosso sintetiza em si as belezas e oposições que o tornam o mais brasileiro de todos os nossos intérpretes. Ney, esta divindade camaleônica, é uma metáfora viva do nosso país e, além de expressar o Brasil enquanto ideia, traz no seu canto o Brasil enquanto matéria. Os nossos seis biomas parecem integrar seu ser. Os rios e árvores centenárias deste país-continente se estendem até o interior de Ney e, através de seu canto límpido e sólido, fazem morada também em quem o escuta. A fauna e a flora do Brasil sussurram, cantam e gritam junto com Ney. Nosso passado, presente e futuro nele coexistem ora de maneira harmoniosa, ora revolucionária.

Quando olhamos em retrospecto para a biografia e a discografia de Ney, percebemos que ambas estão integradas, pois suas vivências foram definidoras também para o seu fazer artístico.

Nascido na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, ele é neto de um avô argentino falante de castelhano e de uma avó paraguaia falante de guarani. Também é filho de pai militar, cujo ofício fez ele se mudar constantemente com sua família de um estado para outro. Tudo isso formou um artista com rara consciência de nossa brasilidade e latinidade.

A convivência na infância e adolescência com o seu pai Antônio Matogrosso Pereira o ensinou desde cedo a transpor o autoritarismo com muita perspicácia. A transgressão seria, mais tarde, a principal característica de sua identidade estética.

Foi o grupo Secos e Molhados que lançou Ney Matogrosso na cena musical brasileira na década de 1970. Até hoje, o Secos e Molhados é considerado um dos conjuntos mais emblemáticos da história da MPB. Ney liderava o grupo com seu canto agudo, sua coreografia subversiva e uma máscara inspirada no teatro kabuki japonês, encarando de frente a censura da ditadura militar, que tentou tolher por algumas vezes a estética andrógina dos integrantes.

Depois de sair dos Secos e Molhados, Ney inicia, em 1975, sua bem-sucedida carreira solo com o álbum “Água de Céu-Pássaro”. O sucesso foi garantido sobretudo pelo êxito da canção “América do Sul” de Paulo Machado que ganhou o primeiro videoclipe da história da música brasileira, dirigido por Nilton Travesso.

Durante muito tempo, em ritmo industrial, Ney Matogrosso lançou um disco por ano, passando pelas gravadoras Continental, WEA e Ariola.

Em 1987 grava seu primeiro disco pela CBS, “Pescador de Pérolas”, considerado por ele mesmo um divisor de águas em sua carreira. Este álbum é o primeiro de uma série de projetos exitosos de Ney. Em seguida vêm outros trabalhos com o mesmo teor como “À Flor da Pele”, “As Aparências Enganam”, “Estava Escrito”, “Um Brasileiro”, “Cair da Tarde”, “Batuque” e “Ney Matogrosso Interpreta Cartola”.

Embora tenha dedicado parte de sua obra discográfica ao cancioneiro popular do Brasil, Ney continuou lançando outros álbuns com uma linguagem mais pop e dando prioridade aos compositores da cena contemporânea, sem nunca abrir mão do rigor estético que sempre caracterizou sua obra.

Em 2012, Ney Matogrosso foi eleito pela revista Rolling Stone Brasil a terceira maior voz de toda a história da música brasileira.

Dois anos mais tarde, em 2014, ele recebeu o prêmio especial do Grammy Latino pelo conjunto de sua obra.

Termino esta singela homenagem lembrando as palavras de outro ícone LGBTQIAPN+, o escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, que certa vez escreveu uma observação muito poética sobre Ney na qual dizia que através de Ney nos tornamos mais belos, mais livres e muito mais nobres.

Caio tinha razão! A liberdade de Ney é como um facho luminoso espantando os fantasmas do atraso do nosso país, tão bonito e diverso por um lado e tão tristemente conservador por outro.

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