A passagem de Levíticos 20:13 é uma extensão de Levíticos 18:22. Enquanto essa determina a proibição do ato, aquela diz qual será a pena aplicada no caso de desobediência.
Uma tradução mais fiel ao original de Levíticos 18:22 é trazida pela versão bíblica Almeida Revista e Corrigida de 1969:
“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”
Essa mesma versão nos traz a seguinte tradução relativa ao texto de Levíticos 20:13:
“Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles”.
A versão bíblica King James 1611 também apresenta uma tradução mais condizente com o original. A passagem de Levítico 18:22 está idêntica e a passagem 20:13 traz uma tradução bem similar também:
“Se um homem também se deitar com homem, como ele se deita com uma mulher, ambos cometerão abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles”.
Observe que ambos os textos e versões trazem a palavra “abominação”, a qual é traduzida do original hebraico toevah.
A palavra no português “abominação” possui vários termos no hebraico, a depender do sentido que se quer usar. Uma outra palavra traduzida em língua portuguesa como “abominação” é zimmah, que se refere a algo que é errado em si. A passagem poderia ter usado a palavra anomia, que significa abominação no sentido de violação da lei, ou poneria, que significa prática maléfica.
No entanto, o fato é que o original das escrituras é toevah, cujo sentido se refere a algo abominável por ser utilizado como meio para a prática de idolatria. O sexo entre dois homens não era o pecado em si. Mas o sexo feito em ritual idólatra se assemelhava às práticas dos povos cananeus, sendo, portanto, uma prática antijudaica.
Desse modo, tanto a passagem de Levítico 18:22, quanto a passagem de Levítico 20:13 se referem ao sexo realizado em rituais pagãos, não podendo ser aplicados às relações homossexuais, enquanto orientação sexual.
Todavia, a intenção da igreja é nos condenar, certo?
Assim, observe o que a Bíblia Nova Versão Transformadora, lançada no ano de 2016, fez com a tradução bíblica e como ela distorce o original:
Levítico 20:13 – “Se um homem adotar práticas homossexuais e tiver relações sexuais com outro homem como se fosse com uma mulher, os dois cometem um ato detestável e serão executados; decretaram a própria morte.”
Leia novamente a versão Almeida Revista e Corrigida de 1969 e a versão King James 1611, comparando com a Nova Versão Transformadora e veja a diferença.
A versão ARC1969, assim como a KJ1611, não falam em práticas homossexuais. Aliás, a palavra homossexual é do século XIX. Moisés poderia até se referir a expressões como “homem com homem”, mas nunca a palavra “homossexual”, pois essa palavra não existia. Quem lê uma tradução, espera que o tradutor a tenha feito de forma fiel ao original.
O segundo ponto é o uso do verbo “adotar”, palavra que não aparece no original e é usada pela versão de 2016 exatamente porque a intenção é dizer que os gays, lésbicas, bissexuais e pansexuais “optam” por serem assim, quando na verdade nós nascemos assim. Somos o que sempre fomos.
Na verdade, não é difícil perceber que o tradutor colocou sua interpretação na tradução bíblica. E isso fala muito do que as Escrituras têm se tornado hoje: um livro utilizado conforme a opinião do tradutor.
Reflita: uma coisa é o que o escritor quis dizer. Outra é o que o tradutor interpreta do que ele acha que o escritor quis dizer, conforme as suas próprias opiniões.
O discurso de que a Bíblia é Sagrada cai por terra nas mãos desses tradutores porque eles atualizam, revisam e corrigem as escrituras para torná-la mais agradável aos leitores e ainda se aproveitam disso para distorcer o original, apresentando até mesmo questões sociais que nem eram pauta no tempo em que o livro bíblico foi escrito.
Aliás, é contraditório dizer que a Bíblia é Sagrada, mas tem que se apresentar em uma linguagem agradável aos leitores. Seria a sociedade se adequando às escrituras ou as escrituras se adequando à sociedade?
Quando se faz uma versão em linguagem contemporânea, a “Palavra de Deus” deixa de ser “de Deus” para se tornar aquilo que o leitor quer ler.
Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!!