Por que é difícil para muitas pessoas compreender as letras LGBTQIAP+?
Compreendo que parte da dificuldade está na compreensão que elas sejam sinônimas. Que L = G = B = T = Q = I = A = P. Esta percepção é irracional, emocional e preconcebida. Irracional porque não foi analisada pelo crivo do raciocínio. E o que não passa por este filtro é, por ausência de opção, “emocional”. Preconcebida porque parte de uma ideia que se cria sobre algo antes de analisar este algo. E permanece na recusa de pensar sobre ele após tomar contato com ele.
Observe que há um vínculo entre pensar e sentir. Um influencia o outro. É característica humana.
Vou reescrever: observe que há uma dialética entre pensar e sentir. Sentir desperta emoções que podem, em última análise, resultar em ações com repercussões positivas ou negativas (não há intermediária). As repercussões afetam pessoas, de forma positiva ou negativa. Quando é positiva, promove crescimento, amadurecimento, empoderamento. Quando negativa, infantilização, regressão, destruição. Pensar é desmontar uma situação que se vive, observar os diversos aspectos que estão presentes (há sempre mais que um), rastrear suas origens e significados – tudo isso sem permitir a interferência da emoção.
A dialética acontece quando uma ação é efetivada e eu me permito perguntar: valeu a pena? Foi correta? Causei dano? Quem foi beneficiado? Quem foi prejudicado? Que ética minha ação revela? Que espiritualidade a sustenta? Só existe reflexão verdadeira quando se permite que opiniões contrárias se manifestem com a mesma intensidade que as minhas. Se não existe dialética na vida das pessoas elas se tornam menos humanas: basicamente emotivas ou basicamente racionais.
Letra a letra
As letras L, G, B, A, P falam, em primeiro lugar, sobre a direção do afeto. Não falam sobre a genitália ou o gênero. O afeto, o romance, volta-se para pessoas do mesmo gênero? Gênero diferente? Ou não importa o gênero? Elas se opõe a letra H, ausente da sigla. Ausente porque é a direção que existe na maior parte das pessoas. Observação: quando digo existe afirmo que não é escolha; afirmo que é um fato que se impõe às pessoas sem que elas possam escolher. Quando digo que “existe na maior parte das pessoas” não afirmo que este é o critério da normalidade. Cor da pele, características do cabelo, culturas não são normais ou anormais. A direção dos afetos também não pode ser normalizada. É o que é, assim como as características humanas.
A letra T fala, em primeiro lugar, sobre minha identidade de gênero. Ela se opõe a outra ausente, a C. T significa que o meu gênero (inexistente, fluido, feminino, masculino, sem polos definidores) não é determinado pela opinião de outras pessoas. Esta foca na genitália para determinar o gênero, na suposição sem embasamento nos fatos estatisticamente avaliados, que anatomia define naturalmente um comportamento cultural, por força de genes e reações bioquímicas.
A letra I fala, em primeiro lugar, sobre minha identidade de genitália. Masculina ou feminina. Ou, melhor conceituando, testículo determinada ou ovário determinada. I desafia o conceito de que somente há normalidade quando apenas um fator (testículo OU ovário; testosterona OU estradiol; SRY presente OU ausente) guia o desenvolvimento saudável da genitália.
Se você chegou até aqui,
L = lésbicas
G = gays
B = biafetives
T = transvestegêneres
Q = queer
I = intersexo
A = assexuado
P = pansexual