Anna Lua celebra conquista que marca um avanço no reconhecimento dos direitos das pessoas trans
Aos 21 anos, a estudante de direito Anna Lua Araújo alcançou o que muitas pessoas trans ainda sonham: o direito de existir em plenitude. No dia 14 de agosto de 2025, ela passou pela tão esperada cirurgia de redesignação de gênero, após uma longa batalha judicial que começou quando ainda tinha 19 anos.
O que torna sua história ainda mais marcante é o fato de ela ser a primeira mulher trans da América Latina a conquistar judicialmente o direito ao procedimento antes da idade mínima de 21 anos, tradicionalmente exigida por norma legal.
“No dia 14 de agosto, eu renasci. Essa cirurgia foi mais do que um procedimento; foi o fim de uma dor que me acompanhava desde a infância”, contou Anna Lua ao Observatório G.
A sentença foi emitida quando Anna tinha apenas 19 anos, com aval do Ministério Público, que reconheceu sua maturidade, estabilidade emocional e direito à identidade de gênero. Mesmo com a decisão favorável, o cumprimento da sentença só foi possível após o aniversário de 21 anos, tornando o momento ainda mais simbólico.
A causa foi acompanhada pelos advogados Ives Bittencourt e Janaina Abreu, com atuação da promotora Márcia Teixeira, do Ministério Público da Bahia, conhecida por seu trabalho em defesa dos direitos LGBTQIA+.
“Essa conquista é coletiva. Representa todas as pessoas trans que ainda lutam para ter seus direitos respeitados”, pontuou a jovem.
Além da equipe jurídica, Anna contou com apoio fundamental do coordenador do Ambulatório Trans, Ailton da Silva Santos, que a acompanhou durante todo o processo com acolhimento médico e psicológico.
A rede de apoio também incluiu a madrinha Shirlei Reis, ritualista da Ayahuasca, e a mãe de santo Adriana Teixeira, que ofereceram suporte espiritual ao longo da jornada.
A cirurgia foi realizada com sucesso pelo médico Dr. Ubirajara, a quem ela agradece com emoção:
“Ele fez mais do que operar, ele me deu a chance de existir plenamente”, disse Anna Lua, emocionada.
Hoje, pouco mais de um mês após a cirurgia, Anna está em fase de recuperação. Segundo ela, o processo exige atenção e cuidados diários, mas tem sido profundamente transformador.
“Cada dia me sinto mais alinhada com quem sou. Me olho no espelho com orgulho, sem medo, sem dor. A paz que isso traz é indescritível.”
Ela também planeja, no futuro, realizar uma cirurgia de feminilização facial, outro passo importante para mulheres trans no processo de afirmação de identidade.
Enquanto isso, segue firme no curso de Direito, com a missão de usar sua vivência para transformar leis e realidades.
“Quero advogar por quem ainda não tem voz. A minha vitória é apenas o começo, não o fim”, afirmou a jovem após a cirurgia.
O caso de Anna Lua não é apenas uma conquista pessoal. É um marco jurídico, social e simbólico em um país onde pessoas trans ainda enfrentam barreiras gigantes para acessar direitos básicos, como saúde, educação e emprego.
Sua história ecoa como sinal de esperança e exemplo de que resistir ainda é um caminho possível, mesmo em um cenário de adversidades.
“Eu sou prova viva de que é possível vencer, mesmo quando tudo parece estar contra você.” finalizou a estudante de direito.