Um dos nomes mais polêmicos da política brasileira e visto como um dos maiores inimigos da comunidade LGBTQIA+, o atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de 66 sanos, construiu uma carreira atacando homossexuais e conquistando uma base fiel de eleitores fervorosos que flertam com o conservadorismo e suas falas preconceituosas. Por conta disso, o portal Observatório G irá relembrar as polêmicas do político com a comunidade LGBTQIA+.
Kit Gay
Durante a disputa presidencial de 2018, o então candidato ao cargo de mandachuva do país, Jair Bolsonaro, usou e abusou do ‘Kit Gay’ para evocar os seus eleitores mais tradicionais. O termo ‘Kit Gay’ era usado de forme depreciativa para se referir ao projeto Escola Sem Homofobia, de 2004. No governo petista, o material havia sido solicitado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados ao Ministério da Educação (MEC) e elaborado por um grupo de ONGs especializadas, incluindo caderno, peças impressas e audiovisuais. O objetivo da cartilha encomendada pela MEC era promover “valores de respeito à paz e à não-discriminação por orientação sexual”.
Em entrevista para a Rádio Jovem Pan em 2018, Bolsonaro fez referência ao tal kit gay, insinuando que as crianças estavam aprendendo a ter comportamentos homossexuais nas instituições de ensino, com a cartilha distribuída pelo governo. “Não se aprende nada na escola, é filme de menino se beijando, filme de menina se acariciando. A escola é para aprender matemática, química, física, e não sexo”, disse Bolsonaro durante a entrevista, mesmo o material não tendo representações de crianças em práticas sexuais.
Não suficiente em direcionar às suas críticas ao ‘Kit Gay’, Jair Bolsonaro relacionou o livro ‘Aparelho Sexual e Cia.’ como um dos exemplares do ‘Kit Gay’ que seriam distribuídos nas escolas pelo MEC. Entretanto, a obra editada pela Cia das Letras e traduzida em mais de 10 idiomas, não fazia parte de nenhum programa do Ministério da Educação, se tratando de mais uma fake news do político de 66 anos.
Filhos gays
Em 2011, o então deputado federal pelo Rio de Janeiro, causou polêmica ao responder uma série de perguntas do extinto programa ‘Custe O Que Custar’, da Band. Participando do quadro o “Povo quer saber”, o político disse que seus filhos não corriam riscos de virarem gays, porque “foram muito bem educados”.
“Não vou discutir promiscuidade com quer que seja. Eu não corro esse risco. Os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu”, disse Bolsonaro, em resposta à cantora Preta Gil, que perguntou a Bolsonaro qual seria a sua atitude caso algum filho se apaixonasse por uma pessoa preta. Em outro momento, o político disse não temer a homossexualidade de um dos seus filhos, pois eles não correriam este risco devido a educação que receberam. “Isso nem passa pela minha cabeça. Eles tiveram uma boa educação. Eu sou um pai presente, então não corro este risco”, respondeu ele na época.
Durante o quadro, Jair Bolsonaro também falou sobre se toparia participar como um convidado da ‘Parada Gay’. “Não iria porque não participo de (eventos para) promover os maus costumes. Até porque acredito em Deus, tenho uma família, e a família tem que ser preservada a qualquer custo, senão a nação simplesmente ruirá”, disse o então deputado.
Desejo da morte dos filhos se fossem gays
Em outra entrevista polêmica para a revista Playboy, de 2011, o então deputado na época afirmou que preferia ter um filho morto a um herdeiro gay e também disse que ser vizinho de um casal de homossexuais é motivo para desvalorizar o seu imóvel.
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”, contou o político. Em outro trecho da entrevista, Bolsonaro demonstrou o seu incômodo ao ter vizinhos homossexuais. “Se um casal homossexual vier morar do meu lado, isso vai desvalorizar a minha casa! Se eles andarem de mão dada e derem beijinho, desvaloriza”, disse.
Em outra entrevista da época, o então deputado havia sugerido tratar filhos gays na ‘porrada’ para que eles se curassem deste tipo de promiscuidade. “O filho começa a ficar meio assim, meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas… Meu pai me ensinou a ser homem”, falou.
Criminalização da Homofobia
Em 2019, com a decisão do STF (Superior Tribunal Federal) de enquadrar atos preconceituosos de homofobia e de transfobia no crime de racismo, o já presidente da república Jair Bolsonaro criticou a decisão dos Ministros, afirmando ter sido um equívoco e que o STF legislou sobre o assunto ao tipificar homofobia como racismo.
“A decisão do Supremo, com todo o respeito que tenho aos ministros, foi completamente equivocada. Além de estar legislando, está aprofundando a luta de classes cada vez mais. No meu entender, não poderia ter esse tipo de penalidade. A penalidade se você ofender uma pessoa, dar uma facada, dar um tiro só porque é gay, tem que ser agravada a pena dessa pessoa e ponto final”, afirmou ele aos jornalistas presentes no Planalto no dia 14 de junho de 2019.
Ainda de acordo com Bolsonaro, os homossexuais seriam os mais prejudicados com a decisão do Supremo, já que os empregadores pensariam duas vezes antes de contratá-los. “[O empregador pensa] e se der um problema aqui dentro? Ele me acusa disso ou daquilo, o que que vai acontecer, como que fica a minha empresa?”, questionou Bolsonaro, que em seguida afirmou que escolheria um novo Ministro evangélico, por conta desta decisão em especial do STF.
Eduardo Leite e Jean Wyllys
Em 2019, Bolsonaro criticou o ex-deputado Jean Wyllys, que deixou o país após sofrer ameaças de morte e passou seu mandato para David Miranda. “A outra menina, namorada de outro, que tá lá fora do Brasil. É uma trama”, afirmou o presidente, se referindo ao deputado David Miranda como uma menina por conta de sua orientação sexual.
Já em setembro deste ano (2021), Jair Bolsonaro debochou do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), durante visita a feira agropecuária Expointer, ao brincar com um salame do evento, afirmando ser do governador do estado do sul. Recentemente, Leite se declarou homossexual durante entrevista ao programa ‘Conversa com Bial’.
A Ministra da Cultura, Tereza Cristina, é quem teria mostrado os pedaços da peça de salame que recebeu dos expositores do presidente, quando Bolsonaro apontou e disse: “Esse salame é do governador aqui do Rio Grande do Sul”. Através de sua conta no Twitter, Eduardo Leite ironizou o comportamento de Bolsonaro, ao compartilhar uma imagem com a legenda: “A esse cidadão que queriam que eu desse ‘boas vindas’ na Expointer?”.